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Avaliação: Audi Q3 Black é prova que luxo não tem que ser esportivo

Nova geração do Audi Q3 não tem pretensões esportivas, mas entrega o luxo e a tecnologia que você espera de um modelo com quatro argolas

Audi Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Audi Q3 [Auto + / João Brigato]

A associação entre marcas de luxo e carros com comportamento esportivo parece algo tão natural quanto pão e hambúrguer. Mas isso não é realmente uma necessidade, por mais que tenha sido assim por muito tempo. Prova disso é o novo Audi Q3, avaliado pelo Auto+ na versão topo de linha Black de R$ 239.990.

Último modelo do grupo Volkswagen a migrar para plataforma modular, no caso a MQB usada pelo Tiguan, o Audi Q3 evoluiu muito mais do que seu visual retocado pode parecer. Ele está mais tecnológico, refinado e com mais personalidade do que nunca.

Audi Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Audi Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Sabor alemão da casa

Diferentemente de antes, o Audi Q3 não é mais flex. Apesar de ser o mesmo motor 1.4 TFSI, praticamente idêntico ao 1.4 TSI da Volkswagen, o SUV compacto passou a beber somente gasolina. Isso resultou em números de consumo excelentes, com o Q3 fazendo 11 km/l na cidade e chegando aos 15 km/l na estrada sem dificuldades.

Com os mesmos 150 cv e 25,5 kgfm de torque do Volkswagen T-Cross Highline, o Audi Q3 se comporta de maneira muito semelhante ao primo. Tem um motor disposto e bastante elástico, que só perde um pouco de fôlego nas rotações mais altas. Na estrada o Audi só deslancha depois que o câmbio acorda e reduz as marchas, ai sim ele engole quilômetros com facilidade e ganha velocidade sem esforço.

Audi Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Audi Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Isso mostra que o Audi Q3 tem uma certa incoerência: equipado com uma transmissão automatizada de dupla embreagem S-Tronic com seis marchas, a caixa tem comportamento mais esportivo que sua proposta e que acaba atrapalhando no dia-a-dia. Em regimes de acelerações fortes, o câmbio se comporta muito bem, trocando de marcha rápido e na hora certa.

Mas essa é uma situação que o Q3 passará vez ou outra. Na cidade e em uma condução mais pacata, o câmbio vacila. Ele se perde entre a primeira e a terceira marcha, fazendo reduções desnecessárias ou segurando a troca mais do que deveria. Além disso, em saídas de sinal, o Q3 vibra, o motor demora a acordar e ele parece se arrastar nos primeiros metros.

Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Q3 Black [Auto + / João Brigato]
É algo que exige costume e que tira um pouco do brilho da nova geração do SUV compacto, que evoluiu tanto em relação ao modelo antigo. Um dos pontos de melhora notável é na direção elétrica. Ela é bem leve em manobras e ganha firmeza na estrada, filtrando muito do que acontece no solo para a cabine, algo que combina com sua proposta voltada ao conforto.

A suspensão é um meio termo que mostra que ainda as marcas de luxo precisam atender a certas expectativas quanto a esportividade. O Q3 não é duro, mas também não é o que se pode considerar como um tapete mágico sobre rodas. A suspensão trabalha sem tanta firmeza, suficiente para manter o Q3 controlado nas curvas e confortável em terrenos acidentados.

Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Ele traz ainda piloto automático adaptativo por salgados R$ 8.000, item que o Volkswagen Nivus, que custa a metade do Q3, já traz de série. Se o item ainda fosse associado a sistemas de condução semi-autônoma como manutenção em faixa, até seria justificável, mas não há.

O que os olhos não veem, as mãos sentem

Por dentro o Audi Q3 é um carro muito mais refinado que seu antecessor e até um degrau acima de seus rivais. A cabine exala tecnologia e modernidade, tendo como destaque o volante pequeno de base reta, a central multimídia integrada a uma área em plástico preto que parece abraçar o motorista e o painel digital.

Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Esse conjunto de telas de alta definição traz ao Q3 uma aura de modelos mais caros da marca, tendo o mesmo tratamento em questão de qualidade para os visores, ainda que não tenha a resposta física da central multimídia do e-tron, por exemplo.

Por falar nas telas, a central multimídia merece elogios por sua usabilidade intuitiva e fácil, além de ter similaridades com os celulares em seu uso. Traz Android Auto e Apple CarPlay conectados por fio, acompanhado por um console estrategicamente feito para receber um smartphone com cabo logo à frente da manopla de câmbio.

Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Os comandos do ar-condicionado são físicos e posicionados logo abaixo da central, algo bastante valorizado especialmente quando outros Audi tentam colocar tudo em uma segunda tela. Logo abaixo um espaço vazio foi preenchido pelo botão de partida e por um comando físico de volume e mudança de estação da central multimídia.

O Q3 Black avaliado contava com dois opcionais que deixam o interior mais requintado. O pacote Alcântara de R$ 4.000 que traz o revestimento macio para o painel, portas e bancos. Há também o pacote de luzes internas customizáveis em 30 cores diferentes por R$ 3.500 que, apesar de bonitas, são dispensáveis pelo preço alto.

Por falar em luzes, toda iluminação interna do Q3 é feita por LEDs, isso inclui as luzes dos para-sóis. Os bancos tem ótimo suporte e regulagens elétricas diversas, menos para a extensão da parte do assento que é feita manualmente. Pessoas com pernas mais curtas tendem a sentir certo desconforto pois mesmo na regulagem mínima, o comprimento do assento é generoso.

Lá atrás o Q3 tem mais espaço que antes e área para a cabeça é suficiente. Ele não parece mais claustrofóbico como o modelo antigo e ainda traz um interessante sistema de bancos deslizantes e com ângulo regulável dos encostos em diversas posições, tudo para aproveitar ao máximo os bons 530 litros de porta-malas, que conta com abertura elétrica na versão topo de linha Black.

Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Q3 Black [Auto + / João Brigato]
O grande pecado do Q3 no interior é o contraste entre materiais. Nas áreas em que as mãos mais tocam, a Audi usou materiais macios e bem montados, mas nos bolsões das portas e na área cinza decorativa, o plástico é duro no mesmo padrão do Volkswagen T-Cross.

Meu jeito

Os modelos da Audi sempre foram conhecidos por terem pouca personalidade no quesito visual, algo que o Q3 anterior já fugia um pouco, mas que foi ampliado no novo modelo. Ele ainda tem cara de Audi e semelhanças com outros SUVs da marca por conta da grade frontal em formato mais sextavado.

Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Contudo, o Q3 mostra sua personalidade nas linhas laterais bem marcadas e quadradas, nos faróis pequenos com desenho de LED próprio e na traseira que finalmente abandonou o layout de luzes instaladas totalmente na tampa do porta-malas. Nas fotos o Audi Q3 parece menor do que de fato é, mas com 9,7 cm a mais que antes, ele é maior que o Jeep Compass.

Na versão Black, a Audi traz toda parte inferior da carroceria pintada em preto brilhante (preto texturizado nas demais versões), grade frontal preta, retrovisor preto e rodas de liga-leve com desenho muito parecido com as calotas do Peugeot 2008 de entrada – sendo esse, talvez, o único ponto controverso de seu design.

Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Q3 Black [Auto + / João Brigato]
Veredicto

O Audi Q3 é exatamente o que o mercado está demandando hoje, mas com uma dose a mais de luxo para quem tem banca para isso. É um SUV espaçoso, bom de andar, econômico e bonito. Chama a atenção pelo interior contemporâneo e por cumprir exatamente com todas as expectativas que se tem com um modelo de sua categoria e preço.

Entre os SUVs compactos de luxo, ele está na mesma pegada do Volvo XC40 que preza pelo conforto e interior refinado. Diferentemente de rivais como BMW X1 e Mercedes-Benz GLA que têm uma pegada mais próxima a de um hatch médio esportivo de salto alto.

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