O segmento de carros elétricos já deixou há um bom tempo de ser nichado. Especialmente que o maior volume de vendas esteja concentrado em modelos populares ou nos grandões de luxo. E é nessa ponta superior que o Audi Q6 e-tron se posiciona em duas versões no Brasil.
Testamos a variante topo de linha Performance Black de R$ 569.990 na busca de entender se ele é apenas um Q5 elétrico ou se a emancipação de nome trouxe o molho que falta ao irmão a combustão. O que é nítido, contudo, é que o Q6 reflete o futuro da Audi em vários aspéctos.
É bom, é justo, é um Audi
Pilotar o Audi Q6 e-tron é ter a certeza de que você tem um carro engajante e que não te deixará entediado em uma viagem. Ainda que seus números sejam apenas ok para a categoria. São dois motores, um em cada eixo, provendo a tradicionalíssima tração quattro da Audi, orgulhosamente relembrada na porta do motorista.
O motor dianteiro entrega 194 cv e 28 kgfm de torque, enquanto o traseiro vai com os mesmos números. Como resultado, o Q6 e-tron tem 387 cv e 54,5 kgfm de torque de bate pronto. Assim, mesmo pesando 2.323 kg, o SUV elétrico atinge os 100 km/h em 5,9 segundos.
Na ficha técnica, tudo parece bem interessante. Mas não há nada de tão especial. As acelerações não são tão fortes quanto alguns carros elétricos nos deixaram acostumados. Ele é rápido, faz ultrapassagens sem dificuldade, mas há modelos bem mais velozes na mesma faixa de preço.
A vantagem é a dinâmica apurada de um Audi. O Q6 tem direção relativamente leve, mas muito ágil e rápida, além de ter ótimo diâmetro de giro. Mesmo sendo um carro de 4,77 m de comprimento, 1,93 m de largura, 1,68 m de altura e entre-eixos de 2,88 m, ele manobra tão fácil quanto um Fiat Mobi. Parece até ter eixo traseiro móvel.
Em curvas, por conta dessa direção direta e do centro de gravidade baixo, o SUV elético da Audi se comporta quase como um A3. É fácil instigar o modelo para uma pegada mais forte, visto que as repostas são sempre instantâneas. A suspensão é dura, copiando muito do asfalto e irritando em ruas de paralelepípedo.
Ampliando o alcance
Segundo a Audi, graças as baterias de 100 kWh, o Q6 e-tron roda até 411 km com carga completa. Entretanto, nossos testes mostraram que ele é bem mais econômico na prática graças a vários recursos interessantes que expandem sua autonomia no mundo real.
Atrás do volante, existem dois paddle-shifts, que não servem para trocar as marchas — afinal, ele só tem uma. O recurso controla o quanto de freio regenerativo você quer aplicar no Audi. São três níveis, incluindo um totalmente solto. O quarto, mais forte, só é ativado pela função B no câmbio.
Contudo, o Audi Q6 e-tron também conta como freio regenerativo adaptativo como o Volkswagen ID.4. Através dos radares e sensores na dianteira, ele aplica automaticamente a recuperação de bateria através da frenagem ao detectar um carro à sua frete. Ou solta totalmente na estrada quando não há nada.
Outro ponto interessante, ligado a esse sistema, é que o head-up display conta com realidade aumentada e projeta faixas vermelhas no carro à frente. Isso serve para indicar ao motorista que ele está abaixo da distância segura e que pode causar uma colisão em caso de uma frenagem brusca. Se você se afastar, as luzes somem.
Show de luzes discreto
Por falar em luzes, a Audi soube trabalhar com elegância e diversão com os LEDs internos do Q6 e-tron. Próximo ao para-brisa até as portas, existe um filete luminoso que muda de cor conforme a escolha do motorista. Nos cantos, ele pisca sequencialmente em verde quando o motorista dá a seta.
Nas portas, há ainda um facho de luz indireta que pode assumir uma coloração distinta da faixa principal. Ao contrário da tendencia atual de várias outras marcas, não é um carnaval de luzes em um painel minimalista. Na verdade, é justamente o contrário: luzes suficientes e o luxo feito pelas formas e materiais diversos.
A já manjada conexão entre o painel de instrumentos digital e a central multimídia ganha um toque a mais de elegância ao curvar a o display central em direção ao motorista. O passageiro conta com uma tela própria que fica parcialmente coberta pela central, dando a sensação de individualidade.
Vale destacar que as duas telas têm qualidade excelente e são fáceis de serem operadas. O painel de instrumentos tem controles no volante, que parece touch, mas só tem comandos de arrastar na parte central. Já a multimídia, com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, segue o padrão elegante e fácil de todo Audi.
Contra outra tendencia comum em carros de luxo, o Audi Q6 e-tron tem console central baixo. O descanso de braço precisa ser elevado para servir, de fato, como um apoio. Dentro, há um grande porta-objetos. Já as entradas USB ficam em um espaçoso console à frente da manopla de câmbio e perto dos dois porta-copos.
Espaço é uma coisa, acabamento é outra
Apesar do visual esportivo e chique ao mesmo tempo, a escolha de materiais da cabine do Q6 e-tron não foi tão feliz. Ainda que ele tenha couro de excelente qualidade nos bancos, volante e parte das portas, o restante dos materiais está aquém de um carro de meio milhão.
Isso fica ainda mais evidente ao analisar concorrentes chineses de preco semelhante, como o BYD Tan, por exemplo. A parte superior da porta é feita em material emborrachado, mas que é duro ao mesmo tempo. O mesmo componente é usado na parte superior do painel e há muito plástico duro em superfícies que o motorista toca.
Antes elegante, o preto piano em muitas partes do console e portas, deixa marcas de dedos e sujeira muito evidente. E isso vale, especialmente, para a criativa central de comando na porta. Por lá, é possível controlar os faróis, retrovisores e portas do Q6 e-tron. Mas, se apertar qualquer botão, vai ficar com marca de dedo.
Já no quesito espaco, o Q6 também deixa a desejar. Ele é um carro grande. Mas a área para as pernas no banco traseiro é evidentemente menor do que o porte do carro sugere. Quem senta na primeira fileira, contudo, fica tranquilo. Já o porta-malas leva bons 526 litros e ainda há um espaço extra na dianteira.
Performance Black
Pelo preço cobrado e status que a Audi tem, é claro que a lista de itens de série do Q6 e-tron Performance Black é bastante recheada. Ele conta com piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergencia, alerta de saída segura, alerta de ponto cego, alerta de tráfego cruzado e sistema de manutenção em faixa.
Há ainda ar-condicionado digital de três zonas, chave presencial, teto solar panorâmico, bancos dianteiros com aquecimento e regulagem elétrica com memória para o motorista, porta-malas com abertura elétrica, faróis full-LED adaptativos com oito opções de desenho para o DRL e carregador de celular por indução.
Ele conta ainda com seis airbags, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, sistema de câmeras 360º, freio de estacionamento eletrônico com função auto-hold, sistema de som premium B&O, GPS nativo e head-up display.
Veredicto
Analisando o Audi Q6 e-tron sozinho, ele é um bom carro. Tem ótima autonomia, é divertido de dirigir e bem equipado. Mas ele está em um segmento no qual ser mais um não basta. O visual é sem graça, os números de performance são apenas ok e o acabamento está aquém do que se espera da categoria.
Se custasse menos, teria um charme justificável. Entretanto, nessa categoria, existem muitos modelos com algo mais especial ou um destaque maior do que o do Q6 e-tron, que se tornam compras mais interessantes. No final das contas, o Audi é um arroz com feijão bem feito, mas que você sente falta da carne acompanhando.
Você teria um Audi Q6 e-tron? Conte nos comentários.
