Nota do autor: “Resolvi comprar uma moto de média cilindrada. Fiz uma pesquisa bem meticulosa e encontrei três opções: Bajaj Dominar NS400Z, Royal Enfield Guerrilla 450 e Triumph Speed 400. Todas custam entre R$ 27 mil e R$ 30 mil e pertencem ao mesmo segmento. Testei as três motos e já publiquei as avaliações de cada uma delas. Hoje eu faço o resumo de tudo o que eu achei sobre as competidoras.”
Depois de conviver com Bajaj Dominar NS400Z, Royal Enfield Guerrilla 450 e Triumph Speed 400 em avaliações separadas, o comparativo entre as três revela um cenário raro e particularmente interessante no mercado brasileiro.
São motos que habitam praticamente a mesma faixa de preço, entregam números idênticos de potência e se posicionam na mesma prateleira do segmento de médias cilindradas, mas que oferecem experiências completamente diferentes ao piloto. Não existe aqui uma vencedora óbvia. O que existe são três interpretações muito claras do que deve ser uma naked (ou quase isso) em 2025.

Dominar: a tocada mais esportiva
A Bajaj Dominar NS400Z é, sem dúvida, a mais explícita em sua proposta. Ela não pede licença. É uma naked de linguagem agressiva, com farol compacto, linhas tensas e volumes musculosos, flertando diretamente com o universo das streetfighters modernas.
Não há ambiguidade estética: ela é urbana, esportiva e provocadora. Em termos de posicionamento, cumpre bem o papel de “porta de entrada” para quem quer subir de patamar sem gastar muito — e faz isso com números que impressionam pelo custo-benefício.

Seu motor de um cilindro de 373,3 cm³, com duplo comando no cabeçote, produz 40 cv a 8.500 rpm e 3,57 kgfm de torque a 7.000 rpm — é o menor torque das três e é entregue na rotação mais alta. No papel, parece inferior, mas, na prática, o conjunto ganha vida graças ao peso contido: são apenas 174 kg. Essa relação peso-potência se traduz em acelerações vivas, retomadas rápidas e uma sensação constante de leveza.
No trânsito pesado, a Dominar NS400Z surpreende pela facilidade com que se movimenta — serpenteia entre carros com desenvoltura quase de moto pequena. Na estrada, mantém cruzeiros de 120 km/h com folga e ainda tem mais fôlego para acelerar.

Há, claro, concessões. Acima dessa faixa, as vibrações do motor se tornam evidentes, algo esperado em um monocilíndrico dessa configuração. O painel digital, embora completo, sofre com leitura sob incidência direta do sol — talvez o principal “pênalti” do modelo.
Ainda assim, o pacote eletrônico impressiona: controle de tração, quatro modos de pilotagem (Sport, Road, Rain e até um curioso Off-Road), embreagem deslizante e iluminação full LED. Pelo preço de R$ 26.900, a NS400Z é quase uma afronta ao mercado tradicional. É a escolha de quem prioriza desempenho, esportividade e valor financeiro acima de qualquer refinamento emocional.

Guerrilla: muita personalidade
A Royal Enfield Guerrilla 450, por sua vez, segue um caminho completamente diferente. Se a Dominar é objetiva, a Guerrilla é lúdica. Ela se recusa a caber em uma única definição. Tem algo de roadster, pitadas de scrambler e atitude de naked. Essa indefinição não é um defeito — é parte essencial de seu charme. Visualmente, transmite personalidade e presença, fugindo dos excessos plásticos que dominam o segmento.
O motor também segue uma lógica própria. São 40 cv, assim como nas rivais, mas com 4,08 kgfm de torque, entregues mais cedo, a 5.500 rpm. Isso muda tudo na pilotagem. A Guerrilla não pede giro alto o tempo todo; ela empurra forte desde médias rotações.

A Royal Enfield afirma que mais de 85% do torque está disponível a partir de 3.000 rpm — e isso se confirma no uso real. Você engata sexta marcha, deixa a velocidade cair e ela retoma com autoridade, sem engasgos ou protestos.
O chassi tubular em aço, usando o motor como elemento estrutural, confere rigidez e estabilidade. A suspensão dianteira de 43 mm não tem o apelo dinâmico dos garfos invertidos, mas funciona bem. A ergonomia é um dos pontos altos: assento baixo, pedaleiras centrais e guidão largo criam uma posição confortável, especialmente no uso urbano. É a moto mais “amigável” para quem passa horas no trânsito.

Nem tudo é perfeito. O tanque de apenas 11 litros limita a autonomia em viagens longas, e as vibrações acima de 120 km/h são mais intensas do que nas concorrentes, a ponto de comprometer a leitura dos retrovisores — os pneus “biscoitudos” ampliam a tremedeira.
Ainda assim, a Guerrilla compensa com um painel TFT de excelente resolução, conectividade avançada e um design que provoca reações emocionais — algo raro hoje em dia. Por R$ 28.990, é a escolha de quem valoriza estilo, design e um bom passeio.

Speed: a mais refinada
A Triumph Speed 400 aparece como a mais equilibrada — e talvez madura. E traz uma responsabilidade: representar a porta de entrada para uma marca premium centenária sem trair seus valores. E consegue. Desde o primeiro contato, fica claro que não se trata de uma moto “simplificada”.
O design clássico-modernista é tipicamente Triumph: tanque esculpido, farol redondo em LED, rabeta limpa e proporções que parecem pensadas para envelhecer bem. A ergonomia é exemplar. O assento a 790 mm favorece pilotos de baixa estatura, enquanto o guidão largo e alto garante postura relaxada. É uma moto que convida ao uso diário, sem abrir mão do prazer de pilotar em estrada.

O motor monocilíndrico de 398 cm³ entrega 40 cv e 3,8 kgfm de torque, mas o grande diferencial está na forma como esses números chegam à roda. A entrega é linear, progressiva e extremamente previsível. É a moto mais refinada no conjunto. Custa R$ 29.990.
No uso real, a Speed 400 se destaca pelo tato dos comandos. Acelerador, embreagem, freios e câmbio funcionam com precisão cirúrgica. É difícil explicar, mas fácil de sentir: a moto parece “sua” desde o primeiro quilômetro. A ciclística privilegia estabilidade e conforto, sem perder neutralidade em curvas.

Os freios cumprem bem seu papel e o nível de acabamento está acima da média do segmento. Foi também a mais eficiente em consumo, com 28 km/l, e a que menos vibra em velocidades elevadas.
Veredito
Colocadas lado a lado, as três deixam claro que o comparativo não é sobre números, mas sobre personalidade. A Dominar NS400Z é racional, esportiva e imbatível no custo-benefício. A Guerrilla 450 é emocional, carismática e sedutora. A Speed 400 é equilibrada, refinada e coerente. Todas cumprem o que prometem — e nenhuma tenta ser algo que não é.



Talvez esse seja o aspecto mais interessante desse trio: ele mostra que o segmento das médias cilindradas vive um momento excepcional no Brasil. Por valores entre R$ 27 mil e R$ 30 mil, o motociclista pode escolher entre três filosofias distintas de pilotagem e convivência. A decisão final deixa de ser técnica e passa a ser pessoal.
E quando escolher uma moto se torna uma questão de identidade, não apenas de ficha técnica, significa que o mercado — finalmente — está fazendo algo muito certo. A minha escolha? Speed 400, mas quase, quase mesmo, vou de Guerrilla.



