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Renault Kardian Iconic é injustiçado no Brasil | Avaliação

Dinamicamente superior aos seus rivais diretos, o Renault Kardian Iconic sofre do mal de ser parecido demais com o Sandero

10 min de leitura

Desde que o segmento de SUVs subcompacto começou a ganhar corpo, vimos a maioria dos modelos da categoria obterem sucesso. VW Tera e Fiat Fastback são os queridinhos, com Volkswagen Nivus e Fiat Pulse vendendo muito bem. Mas, do outro lado temos Kia Stonic esquecido e Renault Kardian apagado no mercado.

De janeiro a setembro, o Fiat Fastback foi o líder dos SUVs subcompacto com 41.748 unidades emplacadas, seguido do Volkswagen Nivus com 37.102 unidades. O Fiat Pulse vem colado com 33.125 unidades, enquanto o VW Tera, que estreou há pouco tempo, marcou 17.760 unidades. Os dados são da Fenabrave.

E, mesmo tendo meses de mercado, o resultado do Volkswagen Tera foi o suficiente para atropelar o Renault Kardian. O francês, de janeiro a setembro, teve 15.559 unidades vendidas. Kia Stonic? Não aparece nem entre o 40 SUVs mais vendidos do Brasil. Mas o Kardian é ruim para vender tão pouco? Não, ele é injustiçado.

Renault Kardian Iconic azul de dianteira
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

Problema de família

A grande questão que envolve o Kardian é a atratividade. Por muitos anos, a Renault vendia carros que as pessoas só compravam porque tinham necessidade, não desejo. Sandero, Logan, Oroch, Kwid e Duster são automóveis puramente funcionais. Verdadeiros tanques de guerra, mas que não aceleram o coração de ninguém.

Ao virar a chave com Megane, Kardian e agora Boreal, a Renault ainda precisa de tempo para mudar a percepção de mercado. E o maior pecado do Kardian é ser parecido demais com o Sandero. Especialmente porque, na essência, ele é o Sandero europeu com um degrau a mais de refinamento.

Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

Por mais que tenha frente elevada, faróis divididos e um estilo mais parrudo, a lateral do Kardian e do Sandero é a mesma. Isso fica ainda mais evidente se comparado ao Stepway. A traseira, que poderia ser original, usa as mesmas lanternas do Kiger, o SUV indiano do Kwid. Ele é um carro bonito, mas ainda muito ligado à Romênia.

E, infelizmente, isso tudo esconde o refinamento técnico da plataforma RGMP que a marca desenvolveu a partir da CMF-B usada na Europa. Além disso, não deixa evidente a melhor característica do Renault Kardian: a dirigibilidade. Inclusive, melhor do que os Fiat Abarth e que o Nivus GTS. Mesmo sem ser esportivo.

Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

Casos de família

Um dos grandes pontos da boa dirigibilidade do Renault Kardian está na suspensão. Ele é muito robusto e ao mesmo tempo com uma boa dinâmica. Ao passar por buracos, valetas ou ruas ruins, o SUV subcompacto francês pouco se importa, absorvendo os impactos muito bem e, inclusive, parecendo apreciar passar por esse tipo de terreno inóspito. 

Mesmo tendo eixo de torção na traseira, o Kardian é bom de curva. Ele tem um certo espírito de Sandero RS, mostrando ter bastante chão. É interessante que, em geral, carros com foco em robustez não são bons de curva. Mas como o conjunto de suspensão é mais firme e parrudo, a Renault conseguiu o melhor dos dois mundos.

Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

Nessa toada, temos a direção do Renault Kardian um pouco mais firme que a média de mercado. Inclusive, um pouquinho mais pesada do que a Volkswagen, que costuma ter esse acerto mais voltado à dirigibilidade. Não incomoda, muito pelo contrário, ajuda a passar a sensação de solidez para uma direção mais esportiva. Renault…faça um Kardian RS.

Começo tortuoso

Debaixo do capô, o Renault Kardian vem equipado sempre com motor 1.0 três cilindros turbo, independentemente da versão. Ele entrega 125 cv e 22,4 kgfm de torque, acelerando de 0 a 100 km/h em 9,9 segundos. Tudo dentro da média da categoria, ainda que ele seja o mais torcudo entre os 1.0 turbo vendidos por aqui.

motor Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

Esse motor é gerenciado por uma transmissão automatizada de dupla embreagem com seis marchas banhada a óleo. Só que as primeiras unidades do Kardian apresentaram alguns problemas no câmbio, os quais a Renault diz que já resolveu. Durante nossos testes, contudo, o modelo apresentou um excelente casamento entre motor e câmbio.

Diferentemente do Nissan Kicks que demora a ganhar velocidade e tem trocas de marcha muito lentas, o Kardian engole uma marcha depois da outra e acelera com um toque apimentado. Na cidade, ele mostra uma agilidade invejável até para carros maiores e, surpreendentemente.

Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

Até o sistema de escape é um pouco barulhento para um SUV sem intenção esportiva. Particularmente, gostei. Já na estrada, as retomadas deixam a desejar. O Kardian precisa baixar muita marcha e encher o motor para que ele consiga ultrapassar. É um contraste nítido em relação ao seu comportamento urbano.

Um ponto incômodo, no entanto, é a vibração do motor 1.0 três cilindros, que é mais sentida na carroceria do Kardian do que no volante e pedais. Outro ponto é que o start-stop é bem bruto e irritante. Já em consumo, ele é bom: 8,8 km/l na cidade com etanol e 9,7 km/l na estrada. Já com gasolina, marca 12,8 km/l na cidade e 13,9 km/l na estrada.

Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

Vale destacar ainda que a Renault adotou uma estratégia para preservar o câmbio. Ao colocar a transmissão em P, o freio de estacionamento é automaticamente acionado. Contudo, se você parar o Kardian em uma descida ou subida, ele sozinho coloca no N, puxa o freio e depois coloca em P. Genial.

Finalmente, hein Renault?

Por dentro está a novidade mais importante da linha 2026 do Kardian. Finalmente a Renault trocou a central multimídia terrível que o modelo foi lançado. A antiga tela de 7 polegadas resiste nas versões mais baratas, mas pode ser substituída pela nova com 10 polegadas como opcional. 

central multimídia nova Renault Kardian Iconic
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

A tela antiga, que antes travava no sol, agora é muito mais rápida e fluida. Android Auto e Apple CarPlay são executados com ou sem fio, mas sempre de maneira rápida. Os menus são bem claros e fáceis de usar, com uma interface bem parecida com celulares, o que torna tudo mais intuitivo.

O painel de instrumentos da versão Iconic é maior também, agora com 10 polegadas. Ele é bonito, rápido de usar também, mas um tanto quanto vazio. A Renault poderia ter aproveitado a parte central para deixar um computador de bordo ao invés de somente uma linha do horizonte com luz azul.

painel de instrumentos digital 10 polegadas renault kardian iconic
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

Outra alteração está na presença de revestimento interno em imitação de couro marrom. O material fica presente nas portas dianteiras, bancos e na faixa central do painel. É um revestimento de qualidade com toque agradável e que ajuda a dar uma sensação mais sofisticada ao interior do Kardian Iconic. 

Questões de percepção

Em nível de acabamento, o Renault Kardian entrega mais qualidade que os Volkswagen Nivus e Tera, mas é inferior aos Fiat Pulse e Fastback – ainda que, de todos esses modelos, o francês é o que tem os melhores encaixes. Os plásticos duros são bem feitos, mas não tem nenhuma textura diferente para ajudar a dar mais sofisticação.

Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

O couro usado no volante tem toque desagradável e bem artificial. Já o console central alto traz a sensação de carro mais caro sem ficar espremido como nos modelos da Fiat. O único problema da montagem está no descanso de braço central que tem folga e fica balançando como se estivesse mal parafusado.

Mas se tem algo que o Renault Kardian é referência é em ergonomia. O banco ajusta muito em altura, o volante tem ampla regulagem de altura e profundidade. Quer dirigir lá em cima como um SUV? Beleza. Quer sentar baixo como em um hatch com os braços bem esticados? Ele também te proporciona isso.

Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

O ar-condicionado tem comandos físicos, há botão de volume na parte superior da central e até mesmo os comandos de som atrás do volante possuem funcionamento extremamente intuitivo. Nenhum comando importante está na central multimídia e há botões para tudo que se faz necessário. 

Espaço de Sandero

Se na frente o Renault Kardian manda muito bem, na traseira ele tenta fazer milagre com as proporções de SUV subcompacto. O espaço é o mesmo de um Sandero, mas como os bancos dianteiros são grandes, isso tira boa parte da área para as pernas. É melhor que Nivus, Pulse, Fastback e, especialmente, Tera. Mas não deixa de ser um carro relativamente apertado.

O banco traseiro é largo e a altura do teto é boa, mas a distância para as pernas é comprometida. O porta-malas carrega bons 358 litros e possui quatro ganchos na lateral (dois em cada lado) para pendurar sacolas. Além disso, tem nichos para as ferramentas e uma base bem funda.

Itens de série

A lista de equipamentos de série do Renault Kardian Iconic é bem recheada. O SUV subcompacto conta com ar-condicionado digital de uma zona, chave presencial, partida remota, painel de instrumentos digital, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro.

Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

Há ainda quatro câmeras de qualidade baixa (frente, dianteira e uma em cada lateral), frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo, faróis full-LED com acendimento automático, piloto automático adaptativo, controle de tração e estabilidade, vidros elétricos nas quatro portas com função um toque e seis airbags.

O Kardian ainda traz farol alto automático, alerta de ponto cego, monitoramento de pressão dos pneus, freio de estacionamento eletrônico, rodas de liga-leve de 17 polegadas, rack de teto modular, quatro saídas USB, carregador de celular por indução, retrovisor elétrico e assistente de partida em rampa.

Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

Veredicto

Entre todos os SUVs subcompactos à venda no Brasil, definitivamente o Renault Kardian é o mais gostoso de dirigir e o mais robusto. Só que ele precisa que os clientes façam um test-drive para verdadeiramente se encantarem por ele. O visual é bonito, mas nada especial, o interior é ok e o preço dentro da média.

No final das contas, quem dirigir ele e seus concorrentes, facilmente fecha negócio no Kardian. Mas é preciso que a Renault faça mais por ele para que os clientes vão até às concessionárias para dar uma chance ao seu modelo. Talvez uma versão esportiva, como Nivus, Pulse e Fastback fizeram, pode se tornar um chamariz. Potencial para isso ele tem.

Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]
Renault Kardian Iconic [Auto+ / João Brigato]

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João Brigato

Formado em jornalismo e design de produto, é apaixonado por carros desde que aprendeu a falar e andar. Tentou ser designer automotivo, mas percebeu que a comunicação e o jornalismo eram sua verdadeira paixão. Dono de um Jeep Renegade Sem Nome, até hoje se arrepende de ter vendido seu Volkswagen up! TSI.

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