Entre os SUVs médios, o Toyota Corolla Cross sempre foi aquele modelo pouco atrativo para além da fama dos nomes que carrega. Só que, como um vinho, ele foi maturado com o tempo e a pimenta a mais que a versão GR-Sport adicionou fechou bem a receita. Eu não deveria ter gostado tanto assim do Toyota Corolla GR-Sport quanto gostei.
Explico. Sou do tipo de pessoa que é mais emocional do que racional. Afinal, penso em comprar um carro pelo meu gosto particular muito mais do que pensando em revenda ou para agradar aos outros. Em geral, os compradores do Corolla Cross não querem dor de cabeça e pensam só em revenda fácil. Mas convivendo intimamente com o GR-Sport, percebi outras coisas.
Motor certo, conjunto certo
Partindo de R$ 210.190, o GR-Sport é o Corolla Cross mais caro com motor 2.0 quatro cilindros aspirado. Inclusive, se você cogita o SUV da Toyota ou até o sedan, descarte o motor 1.8 híbrido. É fraco demais e o consumo não é tão bom assim para justificar a falta inerente de força. No jogo dos híbridos, melhor levar um chinês.

São 175 cv e 21,3 kgfm de torque geridos por um belo câmbio CVT. Sempre digo que não gosto de transmissões continuamente variáveis, mas quando são bem feitas como a da Stellantis e da Renault, a opinião muda. O Corolla Cross acende muito rápido a qualquer movimento mais brusco no pedal do acelerador.
Ele se comporta totalmente ao contrário de tantos SUVs turbinados que precisam apelar para um infernal delay de acelerador para passar nas normas de emissões de poluentes – sim, estou falando de você, Volkswagen T-Cross. Pisou, o motor enche, o ronco invade a cabine e ele acelera sem medo. Mas em barulho constante parecendo uma enceradeira.

A Toyota colocou nove marchas simuladas no Corolla Cross, mas a primeira é física, totalizando dez velocidades. Com isso, ele sai sem patinar e com mais força, depois entra nas polias infinitas do CVT. Em regime mais tranquilo, a rotação do motor fica sempre baixa. Já nas arrancadas, vai simulando marcha sempre que possível.
Reflexos dos números
Oficialmente, a Toyota declara 0 a 100 km/h em 9,8 segundos, um número respeitável e no mesmo nível dos rivais turbinados. O Jeep Compass, por exemplo, que já foi o rei dos SUVs médios (título agora pertencente ao Corolla Cross), faz o teste em 8,8 segundos. Já o Volkswagen Taos atinge a mesma velocidade em 9,4 segundos.

Nos dados de consumo, o SUV médio faz 7,6 km/l na cidade com etanol e 8,8 km/l na estrada. Já com gasolina, marca 11,2 km/l na cidade e 13 km/l na estrada. Durante nossos testes, contudo, as marcas foram piores. Ele marcou média de 10,6 km/l com gasolina em ciclo misto cidade e estrada.
Tocada com um pouco mais de pimenta
As versões convencionais do Toyota Corolla Cross são nitidamente voltadas ao conforto, sendo até sem graça para dirigir. Contudo, a divisão Gazoo Racing deu um pequeno toque no modelo para deixar a experiência melhor. A direção ficou um pouco mais firme, assim como a suspensão.

Não é nada grave que o torne um esportivo de fato impossível de usar no dia-a-dia, mas a tocada ficou mais parecida com a do Volkswagen Taos, que é referência em dinâmica. O peso extra da direção trouxe uma experiência mais engajante ao volante, enquanto a suspensão melhorou o contorno em curvas.
Em estrada, o Corolla Cross GR-Sport fica firminho e trafega em alta velocidade sem o menor esforço. Ventos laterais não comprometem sua estabilidade, ao passo que ele dá confiança de uma tocada mais forte. Ainda é um SUV voltado ao conforto e sem suspensão traseira independente, então não espere pela mesma voracidade em curvas que o sedan tem.

Experiência agradável
Já vou tirar o elefante da sala logo de entrada. O interior do Toyota Corolla Cross não é tão sofisticado quanto o do Jeep Compass ou dos SUVs chineses, além de ser pior do que o do sedan em vários aspectos. Mas ainda assim é agradável e bem feito. Pena que as economias são injustificáveis.
Exemplo é que, no sedan, toda porção superior do painel é macia. No SUV, tudo feito com plástico duro. Existe uma faixa enorme de couro nas portas e painel, que na versão GR-Sport adiciona costuras vermelhas, mas o material usado é menos macio do que o do Corolla. São pequenos detalhes, mas que tiram a sofisticação do Cross.

As costuras vermelhas ainda aparecem no volante, que tem couro de boa qualidade o revestindo. A cor contrastante também está presente nas costuras dos bancos, que são revestidos em couro e suede de maneira bem elegante e esportiva. A temática GR-Sport é finalizada com teto revestido em tecido preto.
Felizmente, a Toyota abandonou o indecente freio de estacionamento por pedal do Corolla Cross na reestilização, trazendo sistema eletrônico. Com isso, também há função auto-hold. O GR-Sport também traz carregador de celular por indução, mas que pode ser desligado e usado como um porta-objetos normal (coisa que muito carro não deixa).
Qualidades contrastantes


Mas há ainda um contraste muito forte dentro do Toyota Corolla Cross. O painel de instrumentos é incrível, com várias opções de layout diferentes, leitura fácil, funções a rodo e fácil de usar. Além disso, a qualidade da tela deixa o Active Info Display da Volkswagen parecer um Galaxy Pocket.
O problema está na central multimídia. Já perdi as esperanças de a Toyota acertar esse sistema, pois ele já foi trocado diversas vezes. A tela tem qualidade e o layout é agradável. Só que a conexão com o CarPlay constantemente apresenta bugs, a central trava o tempo todo a ponto de ficar congelada e inutilizável por vários minutos.

Se fizer a conexão sem fio, prepare-se para passar raiva, inclusive no Android Auto. Pois toda hora ela perde a conexão. Isso sem contar que o sistema de câmeras 360° provavelmente usa um bando de TecPix para formar as imagens. A qualidade é terrível, com imagens extremamente pixelizadas, lavadas e distorcidas. Sorte que o Corolla Cross GR-Sport tem sensores de estacionamento dianteiro e traseiro.
Espaço extra
Um ponto interessante sobre o Toyota Corolla Cross é que ele é como o Volkswagen Taos: tem um porte relativamente compacto, mas é bem espaçoso por dentro. Como a linha de cintura não é muito alta e a área envidraçada é generosa, você terá a sensação de não faltar espaço.



O motorista conta com regulagem elétrica no banco, o que ajuda muito no conforto. Além disso, o volante tem ampla quantidade de ajuste de altura e profundidade. Com isso, se você quer sentar baixo e esticado, como em um sedan, é possível. Mas a posição cadeirão de minivan também é permitida aqui.
Quem senta atrás conta com práticos porta-copos nas portas e encosto reclinável em duas posições. O porta-malas carrega 440 litros e tem abertura elétrica. A Toyota foi inteligente ao colocar duas bordas plásticas elevadas na lateral do porta-malas para compras ou objetos molhados, o que ajuda na praticidade.

Itens de série
Acima dos R$ 200 mil, a exigência por equipamentos fica bem alta. Por isso, o Toyota Corolla Cross GR-Sport é bem recheado. O modelo conta com excelente sistema ADAS com piloto automático adaptativo bem calibrado, sistema de manutenção em faixa pouco intrusivo, alerta de tráfego cruzado e alerta de ponto cego.
Só o sistema de frenagem autônoma em manobras que é um pouco exagerado, brecando com tudo em uma simples baliza. Já a frenagem autônoma de emergência, fica bem calibrada. Ele conta ainda com seis airbags, sistema de câmeras 360°, chave presencial, farol full-LED com acendimento automático e assistente de luz alta.

Há ainda ar-condicionado digital de duas zonas, controle de tração e estabilidade, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, porta-malas com abertura elétrica, painel de instrumentos totalmente digital, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, auto hold, freio de estacionamento eletrônico e carregador de celular por indução.
Veredicto
Comecei esse texto dizendo que eu não deveria ter gostado do Toyota Corolla Cross GR-Sport o tanto que gostei. E isso se deu pelo fato de que ele não é um SUV médio com visual inspirador, tocada surpreendente ou interior super sofisticado. Só que ele faz tudo tão certo e tão bem, que não tem como não se render a ele.

A versão GR-Sport adiciona um toque a mais de esportividade visual e na dirigibilidade, a qual transforma o SUV em um carro mais interessante de dirigir. É meu SUV médio preferido? Não, nem de perto. Mas se você quer um carro com zero dor de cabeça e verdadeiramente bom, recomendo com cinco estrelas o Corolla Cross GR-Sport.
Você teria um Toyota Corolla Cross GR-Sport? Conte nos comentários.
Saí de um Virtus comfortline para um GRS e só tenho elogios. Nem consigo ver esses “defeitos” como defeitos, são só características.