Toyota GR Corolla é o maior oposto ao clichê de Corolla que existe | Avaliação

Me desculpa, Toyota, por mais que há anos vocês tentem brigar contra o clichê, não adianta. Para a maioria dos brasileiros a fama do Corolla é de carro de idoso que vai ao bingo. E está tudo bem, afinal, é uma fórmula que o torna o carro de passeio mais vendido do mundo. Mas o Toyota GR Corolla, sendo um absurdo que é, destrói esse clichê por completo.

Afinal, grande parte do sucesso do Toyota Corolla padrão está no fato de ser um modelo sem grandes ousadias, perfeito para agradar a um público mais amplo. Ao mesmo tempo, é um carro extremamente confiável, confortável e de alto valor de revenda. Até porque, a maioria das pessoas só quer um meio de transporte que não dê dor de cabeça.

Mesmo com as piadelas da internet, o Toyota Corolla é o carro mais vendido da história no mundo inteiro. Muito mais do que o Volkswagen Fusca e que o Ford Modelo T que, mesmo se somados, não chegam às 50 milhões de unidades que o japonês tem. E como pode o GR Corolla ser tão oposto a tudo que fez a fama do Toyota? E ser absurdamente divertido.

Três cilindros mais potente do mundo

Fora modelos conceito e o Koenigsegg Gamera que nunca foi produzido, o Toyota GR Corolla tem o motor três cilindros mais potente do mundo. Sim, corolleiro, esse esportivo tem câmbio manual, motor turbo e três cilindros – o extremo oposto ao quatro cilindros aspirado com transmissão CVT que o sedan tem.

A Toyota conseguiu fazer miséria com apenas três pistões, os quais entregam 304 cv e 37,7 kgfm. É como se cada cilindro fosse responsável por 101,3 cv e 12,6 kgfm – praticamente mais potente que um Corolla Hybrid. Isso tudo em um bloco 1.6 com comando duplo no cabeçote e acionamento por corrente.

Como resultado, temos o Toyota GR Corolla chegando aos 100 km/h em 5,5 segundos e só parando de acelerar aos 230 km/h. Novamente, com um motor três cilindros. Só repeti essa informação pertinente porque muito hater de internet vai espumar ao ver esse tipo de motor em um Corolla.

Emoção nunca vista

Combinado a esse motor 1.6 turbo, temos uma deliciosa transmissão manual de seis marchas. E que dupla. O motor enche rápido, ganhando força extra acima de 3 mil giros, que é quando o pico de torque vem. Nessa hora é nítido que o turbo enche, o motor ganha vida e o Corolla dispara.

É interessante como o ronco de um três cilindros turbo é diferente, mesmo em um esportivo. Ele é mais metálico, lembrando bastante um VW up! TSI que eu tive com escapamento feito. Afinal, a aura do GR Corolla é de carro mexido, em uma vibe bem Need For Speed Underground.

O mais interessante é que o câmbio manual conta com punta-tacco automático. O sistema eleva a rotação do motor em uma redução de marcha, evitando tranco, aumentando a velocidade de recuperação e mantendo o motor sempre cheio. Com isso, ouve-se estampidos no escapamento e o turbo espirrando. É sensacional.

E por mais que você possa (e deva sempre) andar igual a um maluco com o GR Corolla, ele consegue ser civilizado. Em rotação mais baixa, o motor gira quieto e entrega torque suficiente para o uso no dia-a-dia. O consumo de 8,7 km/l na cidade e 11,1 km/l na estrada também é bom. Só o tanque de 50 litros não parece durar muito porque toda hora é hora de acelerar.

60/40, 50/50 ou 30/70

A maior mágica do GR Corolla, entretanto, é ter três esportivos diferentes em um. Graças ao sistema de tração integral GR-Four, você tem três layouts diferentes de tração os quais alteram completamente o padrão de comportamento do hatch médio esportivo. Todos eles selecionados por um rotor no console e que ainda são combinados a três modos de condução (Eco, Sport e Normal).

O padrão é o 60/40, onde a maior parte da tração vai para as rodas dianteiras. Com esse layout, o GR Corolla tende a sair de frente mais fácil, mas a traseira segura as pontas quando preciso. Já em 50/50, ele fica bem neutro, fazendo as curvas grudado no chão e raramente perdendo as estribeiras.

Mas o mais divertido é o 30/70, onde 70% da força vai para as rodas traseiras, enquanto as dianteiras seguem só para correção de tração praticamente. Entrar em uma curva quente com o GR Corolla nesse modo é sinônimo de leves escorregadas na traseira, mas que, ao pisar forte no acelerador, o hatch assenta.

Não chega a ser um carro engolidor de curvas como o um Honda Civic Type-R e seu limite chega um tanto quanto antes. Entretanto, ainda assim é um carro muito rápido para fazer uma curva. Fruto também da direção firme e bem direta, mas que surpreendentemente fica leve nas manobras. 

Já a suspensão, como manda a cartilha da esportividade, é dura. Bem dura. Uma rua de paralelepípedo fará sua coluna reclamar. Ele vai pular ao sinal do menor relevo no solo. Mas não é algo impossível de conviver todos os dias como um Porsche 718 GT4 RS. É uma firmeza tolerável e necessária para seu comportamento de esportivo raiz.

Tratamento esportivo até no visual

Nada adiantaria ser tão esportivo sem parecer apimentado. Por isso, ao invés da carroceria sedan, a Toyota escalou o Corolla Hatch para a missão. Ele tem frente mais agressiva, com faróis em L conectados por uma abertura de ar em preto brilhante. O capô é mais alto com duas saídas de ar, enquanto o para-choque com grade frontal retangular chama atenção.

Provando que treinar perna é sempre bom, o GR Corolla traz para-lamas substancialmente alargados, dando um aspecto muito musculoso ao Toyota. A versão Circuit de R$ 461.990 (sim…ele custa tudo isso, mas achei melhor só falar agora para não assustar) ainda traz teto com uma belíssima trama de fibra de carbono acetinada. 

As rodas de liga-leve forjadas da BBS calçam belos pneus Michelin 235/40 R18 e que, honestamente, pintaria de cobre para casar melhor com a cor vermelha dessa unidade testada. Atrás, nada de aerofólio exagerado como o Honda Civic Type-R, deixando atenção concentrada nas saídas triplas de escapamento.

É um Corolla com seus poréns

Por dentro é onde o corolleiro raíz vai se encontrar mais familiarizado, só que cheio de poréns. O painel é exatamente o mesmo do sedan e do Corolla Cross, só que um pouquinho diferente. A parte superior é mais macia do que a do sedan, contando até com costuras, enquanto a parte inferior em couro é igual ao três volumes.

Toda temática interna é em preto com costuras vermelhas, que estão presentes no painel, volante, bancos, manopla de câmbio e na gigantesca alavanca do freio de estacionamento. O volante é exclusivo do GR Corolla, contando com couro de ótima qualidade, aro mais grosso e pegada de esportivo.

Já o painel de instrumentos totalmente digital tem layout exclusivo, mas a mesma qualidade irrepreensível da tela e facilidade de uso. O mesmo não pode ser dito da indecente central multimídia. Ela tem bordas exageradas, tela de definição ruim, é lenta e totalmente genérica. É nítido que foi instalado algo que só seria perdoado em um Corolla 2003.

A central tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio, mas que vive desativando sozinho, além de deixar o funcionamento da tela ainda mais lento. E sabe qual foi a desculpa da Toyota para cometer esse crime? A central internacional do GR Corolla não é compatível com rádio AM. Como se alguém fosse ouvir rádio AM nesse carro…

Outra mancada da Toyota é a falta de um apoio de braço central. Esse item poderia facilitar o engate mais rápido das marchas, além de possibilitar ter um porta-objetos camuflado. Afinal, há pouco espaço de armazenamento na parte central, que só tem dois porta-copos e o carregador de celular por indução. Fora a central, temos apenas uma entrada USB.

Irmão menor

Em termos de espaço, o Toyota GR Corolla é o mais apertado da família. Ele não tem o mesmo espaço para joelhos e cabeça que o Cross e o sedan possuem. Mas é suficiente. Para sorte da marca japonesa, os bancos são muito confortáveis, mesmo para quem senta atrás. Ao contrário do Civic, ele não tem o assento central substituído por um porta-copos.

Para levar copos e garrafas, no entanto, o porta-copos embutido na porta foi herdado do Corolla Cross. O porta-malas leva, teoricamente, 450 litros, mas os números oficiais parecem otimistas demais. Além disso, o espete gigantesco rouba todo o espaço para cargas que poderiam ficar por ali. 

Itens de série

Antes de falar da lista de itens de série, é preciso pontuar duas mancadas grandes da Toyota. um carro de mais de R$ 400 mil não ter sensor e/ou câmera de ré é imperdoável. Itens tão simples que até um Renault Kwid tem, mas o GR Corolla não se incomodou em possuir. E não são itens indispensáveis em esportivos, vide que o Porsche 911 os possui.

Mas voltando, temos de série sete airbags, controle de tração e estabilidade, faróis full-LED com acendimento automático, alerta de ponto cego, farol alto automático, frenagem autônoma de emergência, assistente de mudança em faixa, piloto automático adaptativo e centralizador de faixa (entende agora o absurdo que é não ter sensor de ré?).

Além disso, o GR Corolla conta com ar-condicionado digital de duas zonas, volante com ajuste de altura e profundidade, chave presencial, head-up display, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, retrovisor elétrico, vidros elétricos nas quatro portas, direção elétrica, carregador de celular por indução, sensor de chuva e painel digital.

Veredicto

É um absurdo existir um Corolla hatch, manual, com tração nas quatro rodas, motor três cilindros e que ande do jeito que esse carinha anda. E essa é a mágica do GR Corolla. A divisão Gazoo Racing conseguiu pegar um carro mundano e conhecido por ser bom, mas sem sal, em um verdadeiro demônio nas pistas.

Por mais que esse nível de diversão ao volante nunca foi associado ao Corolla, basta lembrar que a Toyota já fez Supra, Celica, GT86 / GR86, entre tantos outros. Ou seja, ela sabe muito bem como fazer um carro que é só um meio de transporte, como também algo como o GR Corolla: uma máquina de arrancar sorrisos e que você não quer sair de trás do volante.

Você teria um Toyota GR Corolla? Conte nos comentários.

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