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Do Gurgel à Lecar: relembre as montadoras brasileiras que desafiaram as grandes fabricantes

Mesmo com pouco apoio e muitos desafios, várias marcas nacionais ousaram fabricar carros no Brasil e  algumas fizeram história, outras tentam renascer com novas ideias

8 min de leitura

Atualmente o mercado brasileiro automotivo é composto por montadoras internacionais, mesmo que tenham suas fábricas no Brasil. Mas não é só de multinacionais que vive a indústria automotiva brasileira. Ao longo das últimas décadas, diversas montadoras brasileiras tentaram construir carros com DNA 100% brasileiro. 

Algumas ficaram na memória, como a Gurgel e a Troller. Outras passaram quase despercebidas. E há ainda quem esteja tentando escrever uma nova história, como a startup Lecar.

Neste texto, reunimos todas as montadoras brasileiras de carros de passeio criadas no Brasil, ativas ou não, para mostrar como o país sempre teve ideias e ambições de fazer diferente, mesmo com pouco incentivo e muita concorrência de fora.

Gurgel 

Gurgel BR-800 amarelo parado de frente com fundo branco
Gurgel BR-800 [divulgação]

A montadoras brasileira mais famosa e que teve mais sucesso no mercado brasileiro, sem dúvida, foi a Gurgel, um carro 100% do Brasil. Fundada em 1969, no interior de São Paulo, pelo engenheiro mecânico João do Amaral Gurgel, a fabricante nasceu com um sonho de mostrar que o Brasil era capaz de produzir seus próprios veículos, sem depender de nenhuma multinacional.

A Gurgel começou com projetos pequenos, quase artesanais, e ficou conhecida pelos seus jipes robustos e diferentes, como o Xavante e o X-12. Eles tinham uma carroceria feita de plasteel, uma mistura de plástico com aço que tornava os carros leves e resistentes. 

Gurgel X-12 (divulgação)

Esses modelos caíram no gosto do público, principalmente quem precisava de um carro valente para enfrentar estradas de terra e regiões isoladas do país. A marca chegou até a exportar para fora do Brasil.

Mas o projeto mais ousado veio nos anos 1980, com o lançamento do BR-800. Era um carrinho urbano, pequeno e econômico, feito para ser barato e acessível. Gurgel sonhava em fazer do BR-800 o fusquinha brasileiro. 

Gurgel Itaipu E400 [reprodução]
Gurgel Itaipu E400 [reprodução]

Só que o projeto não teve o apoio necessário do governo e teve muita pressão das montadoras estrangeiras e acabou esbarrando na falta de incentivos e financiamento.

Com a abertura das importações no início dos anos 1990, a Gurgel não conseguiu competir com os carros mais modernos que vinham de fora. A empresa entrou em crise e encerrou suas atividades em 1996. 

Troller 

Troller T4 [divulgação]
Troller T4 [divulgação]

Quem gosta de trilha  até quem nem faz muita questão provavelmente já ouviu falar na Troller. Nascida no Ceará em 1995, essa montadoras brasileiras ficou famosa pelo T4, um jipe parrudo, robusto, feito para aguentar os piores terrenos, mas que fazia parecer fácil. Era o carro que você via atravessando rios, subindo pedras e encarando lama como se fosse asfalto.

O grande charme da Troller sempre foi justamente a proposta raiz. O T4 foi um dos últimos carros brasileiros pensados de verdade para o off-road pesado. Começou com mecânica mais simples, mas foi evoluindo. Quando a Ford comprou a marca em 2007 dentro do investimento no Brasil de R$ 2,2 bilhões, o carro ganhou motor mais forte, visual renovado e até câmbio automático nas últimas versões.

Antiga fábrica da Troller [divulgação]
Antiga fábrica da Troller [divulgação]

Só que, infelizmente, a história teve um fim triste. Quando a Ford decidiu encerrar a produção nacional em 2021, a fábrica da Troller em Horizonte (CE) também foi fechada. Mesmo com fãs pedindo a venda da marca ou alguma forma de salvar o T4, a Ford preferiu dar um ponto final.

Hoje, quem possui um Troller segura com unhas e dentes. O modelo virou item de colecionador e continua sendo muito usado por quem ama trilha, competição ou simplesmente quer um carro que aguente qualquer buraco. 

Puma

Puma 1500 [divulgação]
Puma 1500 [divulgação]

Nem só de carros populares viveu a indústria nacional. A Puma foi o maior exemplo de que o Brasil já teve um carro esportivo. A montadora brasileira surgiu em 1963, pelas mãos de Rino Malzoni, um apaixonado por design e velocidade. Começou com o GT Malzoni, um esportivo feito sobre chassi DKW. Pouco depois, nascia oficialmente a Puma como montadora independente.

Com o fim da Vemag, a Puma passou a usar a mecânica Volkswagen a ar. Foi aí que surgiram modelos como o Puma GT e o clássico Puma GTE, que tinham visual esportivo com o famoso ronco dos motores boxer. A receita era a carroceria de fibra de vidro, visual arrojado e bom desempenho.

carros
Puma GT [divulgação]

Nos anos 70, a Puma ainda ousou mais e lançou o GTB, um esportivo maior, com motor Chevrolet seis cilindros — e um dos carros mais potentes produzidos no Brasil na época. Mas, com as dificuldades econômicas dos anos 80 e a chegada dos importados nos anos 90, a empresa acabou saindo.

Anos depois, em 2013, entusiastas do projeto reativaram a marca com o nome Puma Automóveis Ltda e fizeram o projeto chamado de Puma P-052, com motor do VW Fox, de 120 cv,  feito para as pistas. Em 2017 ele se tornou realidade e fez sua primeira aparição no Autódromo de Interlagos. Em 2022, criaram o Puma GT Lumimari, releitura do Puma GT com motor 1.6 turbo de 205 cv. O esportivo cupê teve produção limitada.

Lobini

Lobini azul
Lobini [Divulgação]

Poucas pessoas lembram, mas o Brasil já teve sim um esportivo com cara e desempenho de carro europeu. A Lobini nasceu em 1999 com a ideia de fazer um roadster leve, rápido e com alma nacional, e principalmente, que não fosse tão caro. O H1 foi o resultado — um carrinho de dois lugares com motor 1.8 turbo do Golf GTI de 180 cv e 23 kgfm de torque, chassi tubular e carroceria de fibra. 

O esportivo brasileiro andava bem, fazia de 0 a 100 km/h em menos de 6 segundos e alcançava mais de 220 km/h. Só que, como acontece com muitas boas ideias por aqui, a produção foi limitada, menos de 70 unidades saíram da fábrica. Vale lembrar que ele foi vendido até nos Estados Unidos. 

Santa Matilde

Santa Matilde SM [divulgação]

Se o Opala era o charme da GM no Brasil, o  Santa Matilde era o sonho de quem queria um carro com a mecânica do Opala, mas visual mais moderno e acabamento de luxo — porém, claro, cobrado mais caro. 

A Santa Matilde era uma empresa ferroviária e fazia produtos agrícolas, mas com a crise do petróleo no início dos anos 70, o governo fechou a importação de carros e muitas montadoras tiveram que se virar e deu incentivo para o mercado, entre eles, os carros de luxo — foi aí que nasceu os famosos fora-de-série e a Santa Matilde trouxe em 1975 seu modelo inédito.

Santa Matilde
Santa Matilde [Divulgação]

O SM 4.1, como ficou conhecido, usava motor seis cilindros do Opala, 4.1 de 127 cv e 29 kgfm de torque. Tinha carroceria de fibra de vidro e design mais arrojado. Era bem equipado, com bancos de couro, ar-condicionado, direção hidráulica, painel completo, entre outros. Era quase um Cadillac nacional. 

Em 1978 foi parar no Salão do Automóvel e fez um grande sucesso. Custava caro, mais que um Opala Diplomata ou Ford Landau, mas quem comprava, tinha gosto — chegou a ir para a França. Porém, após 1988, a saída de Humberto Pimentel, Presidente da empresa, a fabricante começou a cair e novos projetos foram abortados. O último carro saiu em 1997 e foram 936 exemplares produzidos. 

Lecar

Lecar 459 Híbrido [divulgação]
Lecar 459 Híbrido [divulgação]

E por fim, a Lecar — o motivo da produção desta matéria. A empresa criada em 2023 surgiu para tentar reviver o legado de um montadora e carro 100% do Brasil. Liderada por Flávio Figueiredo, que se autointitula o Elon Musk brasileiro, a startup quer provar que ainda dá para fazer carro no Brasil com DNA nacional. 

O primeiro modelo, chamado 459, será um SUV híbrido com design cupê, motor 1.0 flex da Horse (o mesmo do Renault Kardian e Nissan Kicks), bateria da WEG e sistema que funciona como um gerador, semelhante com o conceito e:HEV da Honda. São prometidos no total 163 cv e 29 kgfm de torque, atrelado a uma bateria de 18,4 kWh.

Lecar 459 Híbrido [divulgação]
Lecar 459 Híbrido [divulgação]

Também, segundo a marca, o carro pode rodar mais de 1.000 km com um tanque. A fábrica será construída em Sooretama, no Espírito Santo, mas ainda nem saiu do papel. Mesmo assim, Flávio garante que vai entregar os primeiros carros até agosto de 2026. 

Ambição é o que não falta para o executivo brasileiro. Ele fala em mais de duas mil concessionárias, expansão para a Europa e até uma segunda fábrica, antes mesmo de erguer a primeira. 

Você já teve algum carro de alguma montadora brasileira? Comente para nós!


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Luiz Forelli

Estudante de jornalismo, sempre foi fascinado por carros desde pequeno. Passava horas dirigindo no colo da família dentro da garagem ou empurrando carrinhos pela casa, como se já soubesse que seu caminho estaria entre motores e rodas. Hoje, realiza o sonho de infância escrevendo sobre o universo automotivo com a mesma empolgação de quem brincava com um volante imaginário. No lugar do sangue, corre gasolina, e isso nunca foi segredo.

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