Após quatro anos da crise de semicondutores que paralisou diversas fábricas no auge da pandemia, um novo colapso pode estar prestes a acontecer novamente no setor automotivo global e impactando diretamente o Brasil. Uma disputa geopolítica entre Holanda e China reacendeu um alerta de desabastecimento de chips, ou seja, componentes vitais para praticamente todos os sistemas eletrônicos dos veículos atuais.
Como começou a nova crise dos semicondutores
Tudo começou no fim de setembro de 2025, quando o governo da Holanda decidiu intervir em uma empresa chamada Nexperia, uma das maiores fabricantes de chips do mundo. A empresa tem sede na Holanda, mas pertence a um grupo chinês chamado Wingtech Technology, que tem participação estatal, ou seja, o governo da China é um dos donos.
A ação holandesa não foi nenhuma compra nem estatização total, e sim uma tutela temporária, amparada por uma lei de segurança nacional que permite ao Estado assumir o controle de decisões estratégicas de empresas privadas quando há risco de prejuízo aos interesses do país. Na prática, o governo passou a ter poder para vetar exportações, impedir transferências de tecnologia e até bloquear mudanças na produção da Nexperia.

A Holanda disse que tomou essa decisão por motivos de segurança nacional, com medo de que informações tecnológicas e segredos industriais da empresa acabassem indo parar nas mãos do governo chinês. Vale lembrar que a Nexperia produz componentes usados em diversos setores estratégicos, incluindo militares.
De acordo com analistas internacionais, essa preocupação teria sido incentivada pelos Estados Unidos, que há anos pressionam países aliados a limitar o acesso da China a tecnologias avançadas. Do outro lado do mundo, na China, a medida foi vista como uma provocação direta.
A reação da China

Já em relação à China, o governo não gostou e reagiu impondo restrições à exportação de semicondutores além de outros componentes eletrônicos, o que afeta diretamente o fluxo de chips que passam pela China antes de serem entregues às montadoras de veículos.
Mesmo que a Nexperia fabrique boa parte dos chips na Europa, quase todos precisam passar pela China para empacotamento e testes finais, antes de serem entregues às montadoras. É uma etapa obrigatória da produção. E foi justamente essa parte do processo que a China bloqueou. Ou seja, na prática, a China fechou a torneira e está impedindo a saída dos componentes.

Essa decisão já começou a causar impactos na indústria automotiva europeia, com relatos de paralisações temporárias em fábricas da Volkswagen, BMW e Renault. O medo agora é que o mesmo aconteça em outros continentes, inclusive no Brasil, que depende totalmente da importação desses chips.
Por aqui, no Brasil, a indústria vem vivendo um momento positivo, com aumento de 6% na produção e mais de 50% de crescimento nas exportações de janeiro a setembro de 2025, segundo a Anfavea. Mas todo esse avanço pode ser interrompido devido às paralisações de componentes que chegam no país.

Cada carro moderno usa, em média, de 1.000 a 3.000 chips, responsáveis por controlar sistemas como freios ABS, injeção eletrônica, sensores de segurança, conectividade e até o funcionamento de vidros elétricos e ar-condicionado.
Sem esses componentes, nenhuma linha de montagem funciona. Foi exatamente isso que ocorreu em 2020 e 2021, quando a falta de semicondutores levou montadoras a suspender turnos, adiar lançamentos e até produzir veículos com menos equipamentos eletrônicos.
![Fábrica da Volkswagen [Divulgação]](https://www.automaistv.com.br/wp-content/uploads/2024/09/Fabrica-Volkswagen-1_edited-1320x792.webp)
“Nosso entendimento é de que o setor automotivo brasileiro está na iminência de uma crise de abastecimento de semicondutores”, disse Igor Calvet, presidente da Anfavea. “Os carros modernos precisam de chips, e a ausência desses componentes pode, sim, daqui a três semanas, paralisar as fábricas no Brasil.”
Reação do governo e do setor
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, marcou uma reunião emergencial com representantes da indústria para discutir soluções diplomáticas e técnicas. Conforme relatou o ministério, o governo “acompanha de perto os impactos da cadeia global de semicondutores” e vai buscar medidas para evitar danos às empresas e aos empregos.

Outra questão de preocupação no Brasil foi alertada pela Abipeças, entidade que representa a indústria de autopeças, que enviou uma carta ao governo alertando que já há sinais de escassez no mercado brasileiro e que não existem fornecedores locais capazes de suprir a demanda.
A associação então sugeriu que o governo brasileiro articule de forma diplomática com a China para liberar o envio de chips ao Brasil antes que as linhas de produção parem.
O que é semicondutores e qual é sua importância
![Alguns acessórios são produzidos artesanalmente [divulgação]](https://www.automaistv.com.br/wp-content/uploads/2023/07/FABRICA_HPE_CATALAO_06-1200x719.jpg)
Os semicondutores são praticamente o cérebro dos carros modernos. São eles que controlam diversas funções do carro, como airbags, controle de tração e estabilidade, obrigatórios no Brasil, além de diversos sistemas de conforto e emissões de poluentes. Ou seja, sem eles a produção não existe.
E a empresa Nexperia é justamente a responsável por uma parcela bem grande dos chamados chips discretos, componentes simples, como diodos e transistores, mas fundamentais para o funcionamento de todos os circuitos eletrônicos.

Mesmo que existam outras fabricantes, poucas conseguem combinar volume e confiabilidade como a empresa sino-holandesa. Por isso, o bloqueio atual causa preocupação no mundo todo. O setor automotivo ainda está se recuperando da crise de semicondutores de 2020. Desde então, as montadoras tentaram diversificar fornecedores, mas a dependência global da Ásia ainda permanece.
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![Fábrica Volkswagen´[divulgação]](https://www.automaistv.com.br/wp-content/uploads/2024/09/Fabrica-Volkswagen-2_edited-1320x792.webp)


