Ao vivo
Home » Novidades » Nova crise de semicondutores ameaça parar fábricas no Brasil

Novidades

Sinal vermelho

Nova crise de semicondutores ameaça parar fábricas no Brasil

Disputa entre Holanda e China reacende o fantasma da falta de chips e coloca montadoras em alerta no Brasil

6 min de leitura

Após quatro anos da crise de semicondutores que paralisou diversas fábricas no auge da pandemia, um novo colapso pode estar prestes a acontecer novamente no setor automotivo global e impactando diretamente o Brasil. Uma disputa geopolítica entre Holanda e China reacendeu um alerta de desabastecimento de chips, ou seja, componentes vitais para praticamente todos os sistemas eletrônicos dos veículos atuais.

Como começou a nova crise dos semicondutores

Tudo começou no fim de setembro de 2025, quando o governo da Holanda decidiu intervir em uma empresa chamada Nexperia, uma das maiores fabricantes de chips do mundo. A empresa tem sede na Holanda, mas pertence a um grupo chinês chamado Wingtech Technology, que tem participação estatal, ou seja, o governo da China é um dos donos.

A ação holandesa não foi nenhuma compra nem estatização total, e sim uma tutela temporária, amparada por uma lei de segurança nacional que permite ao Estado assumir o controle de decisões estratégicas de empresas privadas quando há risco de prejuízo aos interesses do país. Na prática, o governo passou a ter poder para vetar exportações, impedir transferências de tecnologia e até bloquear mudanças na produção da Nexperia.

Great Wall
Fábrica de Merces-Benz [Divulgação]

A Holanda disse que tomou essa decisão por motivos de segurança nacional, com medo de que informações tecnológicas e segredos industriais da empresa acabassem indo parar nas mãos do governo chinês. Vale lembrar que a Nexperia produz componentes usados em diversos setores estratégicos, incluindo militares. 

De acordo com analistas internacionais, essa preocupação teria sido incentivada pelos Estados Unidos, que há anos pressionam países aliados a limitar o acesso da China a tecnologias avançadas. Do outro lado do mundo, na China, a medida foi vista como uma provocação direta.

A reação da China

Fiat 500 Firefly camuflado
Fiat 500 “Hybrid”[divulgação]

Já em relação à China, o governo não gostou e reagiu impondo restrições à exportação de semicondutores além de outros componentes eletrônicos, o que afeta diretamente o fluxo de chips que passam pela China antes de serem entregues às montadoras de veículos.

Mesmo que a Nexperia fabrique boa parte dos chips na Europa, quase todos precisam passar pela China para empacotamento e testes finais, antes de serem entregues às montadoras. É uma etapa obrigatória da produção. E foi justamente essa parte do processo que a China bloqueou. Ou seja, na prática, a China fechou a torneira e está impedindo a saída dos componentes.

BMW X5 PHEV é primeiro híbrido plug-in produzido no Brasil na linha de montagem
BMW X5 PHEV [divulgação]

Essa decisão já começou a causar impactos na indústria automotiva europeia, com relatos de paralisações temporárias em fábricas da Volkswagen, BMW e Renault. O medo agora é que o mesmo aconteça em outros continentes, inclusive no Brasil, que depende totalmente da importação desses chips.

Por aqui, no Brasil, a indústria vem vivendo um momento positivo, com aumento de 6% na produção e mais de 50% de crescimento nas exportações de janeiro a setembro de 2025, segundo a Anfavea. Mas todo esse avanço pode ser interrompido devido às paralisações de componentes que chegam no país. 

Fábrica da GWM na linha de montagem com Haval H6
Fábrica da GWM [Divulgação]

Cada carro moderno usa, em média, de 1.000 a 3.000 chips, responsáveis por controlar sistemas como freios ABS, injeção eletrônica, sensores de segurança, conectividade e até o funcionamento de vidros elétricos e ar-condicionado.

Sem esses componentes, nenhuma linha de montagem funciona. Foi exatamente isso que ocorreu em 2020 e 2021, quando a falta de semicondutores levou montadoras a suspender turnos, adiar lançamentos e até produzir veículos com menos equipamentos eletrônicos.

Fábrica da Volkswagen [Divulgação]
Fábrica Volkswagen´[divulgação]

“Nosso entendimento é de que o setor automotivo brasileiro está na iminência de uma crise de abastecimento de semicondutores”, disse Igor Calvet, presidente da Anfavea. “Os carros modernos precisam de chips, e a ausência desses componentes pode, sim, daqui a três semanas, paralisar as fábricas no Brasil.”

Reação do governo e do setor

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, marcou uma reunião emergencial com representantes da indústria para discutir soluções diplomáticas e técnicas. Conforme relatou o ministério, o governo “acompanha de perto os impactos da cadeia global de semicondutores” e vai buscar medidas para evitar danos às empresas e aos empregos.

Chevrolet Onix [divulgação]

Outra questão de preocupação no Brasil foi alertada pela Abipeças, entidade que representa a indústria de autopeças, que enviou uma carta ao governo alertando que já há sinais de escassez no mercado brasileiro e que não existem fornecedores locais capazes de suprir a demanda. 

A associação então sugeriu que o governo brasileiro articule de forma diplomática com a China para liberar o envio de chips ao Brasil antes que as linhas de produção parem. 

O que é semicondutores e qual é sua importância

Alguns acessórios são produzidos artesanalmente [divulgação]
Alguns acessórios são produzidos artesanalmente [divulgação]

Os semicondutores são praticamente o cérebro dos carros modernos. São eles que controlam diversas funções do carro, como airbags, controle de tração e estabilidade, obrigatórios no Brasil, além de diversos sistemas de conforto e emissões de poluentes. Ou seja, sem eles a produção não existe. 

E a empresa Nexperia é justamente a responsável por uma parcela bem grande dos chamados chips discretos, componentes simples, como diodos e transistores, mas fundamentais para o funcionamento de todos os circuitos eletrônicos. 

Fábrica PSA Porto Real (RJ) (divulgação)

Mesmo que existam outras fabricantes, poucas conseguem combinar volume e confiabilidade como a empresa sino-holandesa. Por isso, o bloqueio atual causa preocupação no mundo todo. O setor automotivo ainda está se recuperando da crise de semicondutores de 2020. Desde então, as montadoras tentaram diversificar fornecedores, mas a dependência global da Ásia ainda permanece.

Acha que o Brasil está preparado para enfrentar uma nova crise de chips? Deixe seu comentário 


YouTube video

Deixe um comentário

Luiz Forelli

Estudante de jornalismo, sempre foi fascinado por carros desde pequeno. Passava horas dirigindo no colo da família dentro da garagem ou empurrando carrinhos pela casa, como se já soubesse que seu caminho estaria entre motores e rodas. Hoje, realiza o sonho de infância escrevendo sobre o universo automotivo com a mesma empolgação de quem brincava com um volante imaginário. No lugar do sangue, corre gasolina, e isso nunca foi segredo.

Você também poderá gostar