A BYD começou a vender carros de passeio no Brasil em 2022 com o SUV Tan, e dali para frente foi uma enxurrada de lançamentos. Alguns chegaram direto da China, sem nenhum ajuste de suspensão, o que resultou em carros com rodar macio demais, algo que o brasileiro não gosta, e com razão, devido ao nosso asfalto. Mas o tempo passou, a marca ouviu o público e o Dolphin Mini 2026 chegou corrigindo o que mais incomodava.
A nova linha foi lançada em julho e manteve o preço de R$ 119.990 na versão GS de cinco lugares. E por esse valor, ele entrega exatamente o que promete para quem quer entrar no mundo dos elétricos, além de ser ótimo de conviver no dia a dia.
Conviver com o Dolphin Mini é quase uma anomalia dentro dessa faixa de preço. Ao entrar dentro da cabine, você já percebe a o bom toque dos materiais e detalhes do acabamento incomum nessa faixa de preço, especialmente de marcas tradicionais. A BYD realmente acertou a mão na estratégia com o hatch para o Brasil.



Só que agora ele tem concorrente de peso querendo um pedaço desse bolo. O Geely EX2, por exemplo, chegou com praticamente o mesmo preço, porte de Dolphin e mais potência e autonomia. E isso é ótimo para o consumidor, porque o mercado finalmente começa a oferecer opções reais de elétricos acessíveis e com bom custo-benefício.
Tamanho não é documento
Suas dimensões não enganam, é um carro pequeno, mas o espaço interno é muito bem aproveitado. São 3,78 metros de comprimento, 1,71 de largura, 1,58 de altura e 2,50 de entre-eixos.

Mesmo com 1,88 m de altura, consegui me encaixar bem no banco do motorista, que já oferece ajustes elétricos. O assento tem boas abas, é macio e recua o suficiente para quem é mais alto, enquanto o console central elevado melhora a ergonomia.
A central multimídia de 10,1 polegadas é intuitiva e rápida, fácil de usar, mas não tem aqueles exageros de configuração dos modelos mais caros da marca. Tem Android Auto e Apple CarPlay sem fio, que funcionam bem, mas o incômodo fica na conexão. Se o carro ficar desligado por um tempo, é preciso reconectar manualmente toda hora, o que de fato irrita.



O painel digital de 7 polegadas é simples, mas mostra o básico, e o carregador por indução fica em ótima posição, com encaixe firme para o celular, só peca por ser muito exposto, o que, no Brasil, nunca é bom.
O Dolphin Mini também vem com freio de estacionamento eletrônico com Auto Hold, câmeras 360 graus, faróis com acendimento automático e full-led e ar-condicionado digital de duas zonas que gela rápido, mas a ventilação é forte até demais, mesmo na velocidade 1 — o vento já vem forte, algo que poderia ser mais suave.



O acabamento, dentro da proposta, é bom. Há plástico por todo lado, mas aparenta boa qualidade. As portas têm acolchoado e o console central tem revestimento macio para o joelho, um cuidado que mostra atenção aos detalhes.
Só que, nessa unidade testada, a porta direita já começou a dar sinais de desgaste e faz um barulho incômodo ao abrir. Os cintos soltos também batem bastante no plástico, o que irrita quem dirige sem música.



O sistema de som é apenas suficiente, nada de especial, mas cumpre o papel. Já a cor interna azul com detalhes laranja divide opiniões. É o único padrão disponível e, embora tenha certo charme, quem prefere algo mais discreto pode não gostar — e não há opção de troca de fábrica.
Na parte traseira, o espaço é melhor do que parece. Com o banco dianteiro ajustado para mim, o joelho encosta de leve, mas nada que incomode. O teto é alto, então a cabeça não raspa. Faltam saídas de ar, é verdade, mas o espaço pequeno faz com que o ar dianteiro dê conta de resfriar tudo rapidamente. O porta-malas leva 230 litros e, claro, sem estepe, coerente com o tamanho do carro.
Ajustou onde mais precisava

O principal destaque do BYD Dolphin Mini 2026 está mesmo na suspensão. O conjunto continua o mesmo McPherson na dianteira e eixo de torção atrás, mas a calibração foi nitidamente revista, principalmente na traseira. A BYD não confirmou exatamente as mudanças, mas é impossível não perceber a diferença.
O carro ficou mais firme, mais assentado, e ao mesmo tempo manteve o conforto que faltava nas primeiras unidades. Ele filtra os buracos com naturalidade, não bate seco e precisa achar um buraco enorme para chegar ao fim de curso. Agora sim o hatch roda civilizado, estável e sem aquele pula-pula chato que marcava o modelo anterior.

Essa nova rigidez controlada também muda o comportamento na estrada. Mesmo sendo leve com seus 1.239 kg, o Dolphin Mini agora se mantém plantado, sem flutuar nem balançar o eixo traseiro. Ele passa segurança e tem comportamento previsível em curvas, o que antes não acontecia.
Claro, continua sendo um carro urbano e com limite definido. No modo Sport, ele chega a 134 km/h; no Eco, não passa dos 103 km/h. Dentro da proposta, está ótimo. O motor elétrico tem 75 cv e 13,8 kgfm de torque imediato.


No dia a dia, ele é ágil e responde bem ao pedal, mas sem exageros. O torque chega na hora e garante boas saídas e retomadas curtas no trânsito urbano. Você pisa e ele vai, simples assim. A direção elétrica tem peso certo, nem leve demais, nem pesada, e conversa bem com o conjunto.
Além disso, a BYD trocou os antigos pneus chineses Linglong pelos sul-coreanos Hankkok, e a mudança faz diferença real. O carro não patina mais como antes, mesmo pisando um pouco mais forte e traz mais segurança para o dia a dia. Outro ponto positivo é que o Dolphin Mini dificilmente raspa em valetas ou rampas. A marca não divulga o ângulo de ataque, mas tem que forçar muito pra encostar.

Na estrada, o comportamento continua coerente. Entre 80 e 100 km/h, ele faz ultrapassagens até que bem, mas acima disso o fôlego vai embora rápido e ele já começa a sofrer como um carro 1.0 aspirado. O 0 a 100 km/h leva 14,9 segundos, mas na prática o torque inicial disfarça o número.
No modo Sport, o pedal fica um pouco mais sensível e as respostas levemente mais diretas, o que ajuda em ultrapassagens em faixa única ou na estrada mesmo, porém não faz nenhum milagre. A proposta dele não é correr, e sim eficiência urbana, e nisso ele cumpre o papel.



Já o isolamento acústico se mostrou excelente pelo preço do carro. Mesmo em velocidade alta, o barulho de rodagem é discreto e o vento se ouve muito pouco, graças a boa vedação.
Nas curvas, o Dolphin Mini também melhorou, mérito do novo acerto. Por ser pequeno e leve, o volante conversa direto com toda plataforma, e o carro faz curva com facilidade, mesmo quando a tangente aperta. A carroceria rola pouco e a suspensão segura bem o peso. Os freios a disco nas quatro rodas cumprem o papel também, com boa sensibilidade e seguram o carro mesmo em pisadas mais fortes.
Falando de eficiência, o Inmetro declara 280 km de autonomia, mas na prática dá pra ir além. No uso urbano, conseguimos entre 330 e 340 km com média de 11,2 kWh/100 km, o que é excelente para um carro desse porte.

Na estrada, a autonomia cai para algo em torno de 240 km, com consumo de 16 kWh/100 km, ainda assim, coerente. Dependendo do trajeto, especialmente em descidas para o litoral, por exemplo, as frenagens regenerativas ajudam a recuperar energia e estender o alcance.
E, claro, o modo Eco é seu melhor amigo se a ideia for economizar. Ele limita, mas ajuda a esticar a autonomia da bateria. No carregamento, ele aceita até 6,6 kW em corrente alternada (AC) e 40 kW em corrente contínua (DC), o que permite bons tempos de recarga tanto em casa quanto em pontos rápidos.
Veredicto

O Dolphin Mini tinha alguns deslizes no modelo anterior, e a BYD fez o que precisava, corrigiu. Agora o carro está mais acertado, principalmente na suspensão, que finalmente conversa bem com o piso brasileiro.
Dentro da cidade, ele é um ótimo parceiro. Econômico, fácil de dirigir e com respostas na medida, faz muito bem o papel de carro urbano, especialmente para quem roda bastante ou trabalha com aplicativo. Na estrada, cumpre o básico, mas não é o ambiente dele.
A BYD acertou o alvo com o Dolphin Mini e manteve a essência de ser um elétrico acessível e racional. O desafio agora é acompanhar o ritmo das novas marcas chinesas, mas, por enquanto, o Dolphin Mini ainda é o melhor ponto de entrada para o mundo dos elétricos no Brasil.



