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Argo Trekking: o último de uma espécie inventada pela Fiat | Avaliação 

Aos poucos, segmento de aventureiros está sucumbindo aos SUVs, mas o Fiat Argo Trekking segue como um bom exemplo dessa categoria

Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato
Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato

Quando as minivans reinavam na terra e os SUVs ainda eram coisa do mercado norte-americano, a Fiat lançou a Palio Weekend Adventure. Uma versão aventureira da perua do Palio e que trazia uma receita que se tornaria moda no Brasil. Hoje, contudo, esse segmento só tem Fiat Argo Trekking e Renault Stepway.

É que as montadoras perceberam que modificar hatches e peruas em aventureiros não era tão rentável quanto transformar modelos de entrada em SUVs. Quer seja da maneira mais fácil como a conversão de Argo em Pulse ou Polo em Nivus, ou ainda do jeito complicado no qual usa só a plataforma, como ocorre com Onix e Tracker.

A Renault já deixou um tanto quanto claro que o substituto do Stepway tomará o lugar do hatch aventureiro e passará a ser vendido como um SUV. Algo que a Fiat não fez. Afinal, mesmo com o Pulse, a marca manteve o Argo Trekking em linha. E, sinceramente, ainda bem.

Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato
Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato

Argo com toque de Pulse

Por R$ 92.990, o Argo Trekking com câmbio CVT é R$ 8 mil mais barato em relação ao Pulse Drive com transmissão manual. A lista de itens de série é bem semelhante. Só que a grande vantagem do Argo é poder colocar ar-condicionado digital, bancos em couro e chave presencial em um pacote barato.

Como o modelo testado, graças à cor especial Cinza Strato, ele sai por R$ 97.470. Só que a lista de itens de série já traz ar-condicionado analógico, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay com fio, banco e volante com regulagem de altura, quatro vidros elétricos, câmera e sensor de ré, direção elétrica e retrovisor elétrico.

Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato
Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato

Pensando para a faixa de preço na qual ele se insere e na quantidade de itens pífios que os SUVs compactos de entrada oferecem, está dentro de uma média aceitável. Só que o pacote opcional se faz mais do que necessário por trazer o melhor do Argo Trekking para a mesa.

Números mentem?

Algo curioso acontece com alguns carros da Fiat. Nem sempre um modelo necessariamente acima ou com conjunto mecânico superior, é melhor. Quando testei o Pulse com motor 1.3 e câmbio CVT, me deparei com um carro desengonçado, que não parecia casar com o conjunto mecânico que é de fato bom.

Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato
Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato

No Cronos, esse motor e cambio encaixaram redondinho. Agora, no Argo Trekking encontra seu estado de arte. Óbvio que não é tão esperto quanto os rivais 1.0 turbo, mas é suficientemente rápido e ágil para enfrentar situações urbanas e de estrada sem passar vergonha. A ponto de ser surpreendente.

Os 107 cv e 13,7 kgfm de torque deixam muito hatch de 120 cv para trás dado o casamento sincronizado com a transmissão automática do tipo CVT. O Argo acelera bem quando precisa e sem gritaria (viu, Honda?), fazendo simulação de marcha até a meio pedal.

Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato
Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato

Contudo, quando anda em ritmo mais suave de cidade, o CVT mantém o motor em rotação baixa para otimizar o consumo. Prova disso é que, com etanol, o Argo Trekking marcou 11 km/l na cidade e 13,5 km/l na estrada durante nossos testes. Oficialmente, faz 8,9 km/l na cidade e 10,1 km/l no etanol.

Equilíbrio é tudo

Outro ponto no qual o Argo Trekking se destaca frente ao Pulse é na dinâmica. O hatch aventureiro é um pouco mais baixo e menos largo, só que o acerto de suspensão feito pela Fiat para esse carro é primoroso. Ele é robusto como um Renegade, mas mantém a dinâmica boa do Argo em curvas.

Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato
Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato

Há tempos não via um carro tão bem acertado de dinâmica sem ter uma proposta esportiva, como é o caso do Argo Trekking. Ele encara curvas com o mesmo ímpeto que engole os buracos: tudo sem reclamar um mísero segundo. Isso faz dele um carro muito (reforço o muito) mais gostoso de dirigir que o Pulse.

Já a direção, peca. Ela é excessivamente leve, a ponto de deixar o Argo um tanto quanto bobo em altas velocidades e na estrada. Era apenas um acerto um pouco mais firme em movimento para deixá-la do jeito correto. Na hora da manobra, ajuda, mas a artificialidade do conjunto incomoda.

Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato
Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato

Eu nasci assim, eu cresci assim

Lançado em 2018, o Fiat Argo nunca passou por mudanças no interior. Por fora, para dizer que fez algo, a Stellantis mudou o para-choque e o deixou com cara de fuinha. Por dentro, a única mudança ficou por conta do volante emprestado do Pulse. E só. E nisso, o Argo mostra algumas rugas fortes.

Não há espaço suficiente para colocar o celular. Ele precisa ficar pendurado no porta-copos dianteiro, o que mata totalmente o espaço para uma garrafa. Aliás, não leve uma garrafa grande dentro do Argo, pois todos os dois porta-copos são pequenos e levam, no máximo, uma latinha das pequenas.

Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato
Fiat Argo Trekking CVT [Auto+ / João Brigato

Há também de pontuar a central multimídia com definição horrível. Ela tem uma película fosca na tela que deixa a qualidade pior que de um Galaxy Pocket, além de criar distorções por conta da sujeira. O tamanho também é insuficiente para os dias de hoje, sem contar a quantidade massiva de bordas.

Ao menos o sistema operacional é rápido e fácil de mexer. O painel de instrumentos vai pela mesma tocada. Fácil de ver e de usar, mas a tela central monocromática já deu o que tinha que dar. É melhor do que a do Onix, de fato, mas merecia pelo menos uma cor ali e mudanças de layout — já que é a mesma do falecido Uno.

Outro problema está na ergonomia. O ajuste do banco é feito do lado de dentro do assento, O de altura é uma alavanca que fica roçando no banco e, em alguns anos, vai rasgar o couro ou o tecido. Já a do encosto é uma nada prática trava que não permite precisão de movimento.

Referência abaixo do 208

Por outro lado, quando se fala em acabamento, o Fiat Argo só não é a referência da categoria por causa do Peugeot 208. O acabamento é bem feito, com plásticos encaixados no lugar e sem rebarbas. Várias texturas decoram a cabine e dão um ar mais sofisticado a ele.

Junte isso às saídas de ar triplas e a qualidade do couro muito superior aos rivais e terá no Argo um modelo que manda bem nesse quesito. Nas portas dianteiras, a quantidade de couro (ou tecido) é surpreendente. Espaço interno é bom, mas o porta-malas de 300 litros está apenas dentro da categoria. 

Como o banco dianteiro é fino, quem se senta atrás tem mais área para as pernas, garantindo mais espaço . Além disso, a cabeça não raspa no teto, mesmo se você tiver 1,87 m de altura como eu. Por fim, ele conta com nichos para prender o cinto de segurança e entrada USB para o banco traseiro.

[Auto+ / João Brigato
[Auto+ / João Brigato

Veredicto

Apostando em forte custo-benefício, o Fiat Argo Trekking é uma compra muito mais racional que o Fiat Pulse de entrada. Gostoso de dirigir, competente e robusto, o modelo é parte de um segmento que serviu ao Brasil por anos, mas que sucumbiu às vontades do mercado e ao status dos SUVs.

Se pensa em um Argo, essa é a versão definitiva a ser levada, especialmente na faixa do modelo automático. Se está de olho no Pulse de entrada, melhor dirigir mais uma vez o Argo Trekking, tenho certeza que vai mudar de ideia na primeira curva. 

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