Fiat Toro Freedom 2026 tem visual polêmico, mas o conjunto faz você esquecer disso | Avaliação

Em time que está ganhando não se mexe. A expressão, popularizada nos anos 1950 e inspirada no ditado inglês “if it ain’t broke, don’t fix it”, defende a ideia de não alterar aquilo que já dá certo. Só que o ditado se encaixa exatamente na Fiat Toro 2026. A picape, líder isolada do segmento intermediário, recebeu novidades nesta que é a sua segunda reestilização. Mas muita muitos diriam que nem precisava mudar.

Assim como futebol, religião e política, o design automotivo também divide opiniões. Há quem tenha aprovado as mudanças, quem prefira o estilo anterior e quem simplesmente não gostou. O fato é que a Toro não é mais a mesma — e a Fiat quis deixar isso bem claro.

A nova grade adota elementos verticais que variam conforme a versão. No caso da Freedom testada, de R$ 169.990, o acabamento é preto fosco para reforçar o aspecto robusto e aventureiro. Mas é possível ter os frisos cromados em versões mais caras.

Os para-choques foram redesenhados, sendo o dianteiro mais lateralizado. Ele traz entradas de ar falsas nas extremidades, além de abrigar novos faróis full LED, agora de série em todas as versões, que conectam a grade frontal à parte inferior com um friso. O DRL pixelado é outra novidade. Nas laterais, a principal mudança está nas rodas de 17 polegadas com pneus 225/60, que agora são diamantadas.

Já na traseira, as lanternas ganharam novo formato mais retangular, com nova assinatura luminosa em LED e uma nova tampa de caçamba, com elementos mais retilíneos. Esses itens acompanham um para-choque redesenhado e mais quadrado, que traz falsas saídas de ar verticalizadas.

Gostando ou não, é um novo rosto para a Toro. Confesso que pelas fotos eu não tinha me convencido muito, mas presencialmente o conjunto agrada mais, embora o anterior estivesse perfeito. É uma mudança que causa estranhamento em quem já se acostumou com o desenho anterior, mas faz sentido dentro da nova identidade visual da Fiat, que busca formas mais quadradas e linhas inspiradas no Panda.

Solidez é o nome

O conjunto da Fiat Toro flex 2026 surpreende pela coerência mecânica. É incrível como a Stellantis consegue acertar com o motor 1.3 turbo flex T270 com câmbio automático de seis marchas com conversor de torque. É uma calibração que conversa bem em quase todas as situações, mostrando a maturidade do projeto.

Mesmo com a redução de potência de 185 para 176 cv a 5.000 rpm, o comportamento continua firme, com entrega vigorosa e torque de 27,5 kgfm a 2.000 rpm. São números consistentes para uma picape com mais de 1,7 tonelada, que responde com força sempre que o pedal é solicitado e entrega aquela sensação de empurrão que o consumidor de picape espera.

A plataforma Small Wide, compartilhada com Renegade, Compass, Commander e Rampage, é antiga, mas continua competente. Garante boa rigidez estrutural e equilíbrio dinâmico. A Toro tem um chassi sólido e bem aproveitado, que se reflete na estabilidade em curva, feita com firmeza e pouca rolagem de carroceria, mérito do monobloco. 

O controle eletrônico de estabilidade atua de forma um pouco brusca em alguns momentos, mas o importante é que segura o conjunto com aptidão e, acima de tudo, transmite confiança ao motorista.

Na prática, é um carro ágil, com reações previsíveis e comportamento seguro. O ponto fraco ainda é o atraso perceptível entre o toque no acelerador e a resposta do motor. Há uma pausa de cerca de um segundo, nítida e incômoda em cruzamentos ou ultrapassagens de faixa única. Nessas situações, é preciso sim antecipar a reação do carro e modular o pedal.

Na cidade, a suspensão é um dos grandes méritos da Toro. O acerto prioriza conforto, mas sem deixar de ser mais firme e robusto. O esquema McPherson na dianteira e multilink na traseira absorve irregularidades com tanta naturalidade que você até esquece os buracos, já que a Toro consegue não transmitir batidas secas ou oscilações excessivas. 

A estrutura monobloco, mais rígida que a das picapes médias tradicionais, também ajuda a filtrar melhor o piso e colabora para condução mais refinada. Além disso, com ângulo de ataque de 25° e bom curso de suspensão, a Toro encara rampas, valetas e lombadas sem raspar ou perder compostura.

A direção elétrica progressiva reforça o caráter urbano da picape. Tem peso correto, sem ser muito dura, mas sem aquela leveza artificial comum a outros Fiat. Além disso, se mostrou bem previsível e comunicativa nas situações de mais exigências, como em curvas. Em um resumo prático, a Toro tem o comportamento de SUV médio, ou seja, na mão, previsível e fácil de rodar.

Já o câmbio automático cumpre seu papel, mas carece de um toque extra de refinamento no ciclo urbano. Em algumas situações, especialmente nas subidas ou retomadas leves, ele segura as marchas por mais tempo do que o necessário, o que acaba quebrando o ritmo do conjunto em alguns momentos. Os paddle shifts atrás do volante e troca sequenciais na manopla ainda ajudam a compensar.

Em ciclo rodoviário, a Toro 2026 também se mostra um carro sólido e competente em qualquer condição. Em velocidade de cruzeiro, se mantém firme na trajetória, comportamento previsível e conforto de SUV. O modelo oferece apenas o piloto automático convencional, algo aceitável dentro da proposta.

A suspensão, de calibração mais rígida, se manifesta com estabilidade mesmo em asfalto irregular. O motor 1.3 turbo surge com disposição em retomadas e ultrapassagens e entrega aceleração linear, sem hesitar. O desempenho de 0 a 100 km/h em 10,6 segundos, confirmado em nosso teste, traduz em força suficiente e entrega coerente com o peso e a proposta 

A direção transmite confiança e o carro permanece colado ao chão, sem oscilar em velocidades mais altas. O isolamento acústico também agrada. O câmbio, que na cidade revela certa indecisão, na estrada trabalha com mais suavidade. As trocas acontecem no tempo certo, aproveitando bem o torque do motor e mantendo o giro baixo em velocidade de cruzeiro. 

Mas se for necessário mais resposta, o modo Sport fica posicionado atrás da manopla e ele exibe o lado mais apimentando da Toro 1.3 turbo com o acelerador mais esperto e resposta do câmbio e motor mais agressivo.  

No off-road não faz feio 

Já quem decidir levar a Toro para o ambiente mais natural de uma picape, o off-road, não se decepciona, embora não seja a pegada dela. Apesar de ser uma versão 4×2, o conjunto mecânico contorna a falta de tração pela competência. O motor 1.3 turbo tem força para compensar a ausência de tração integral e a entrega de torque em baixas faz a diferença nesses pisos de pouca aderência.

Rodando por estradas de terra com ondulações e trechos bem irregulares, a suspensão mais uma vez mostrou o ótimo equilíbrio. O curso bem calibrado filtra as imperfeições do terreno sem comprometer tanto assim o conforto. 

Em subidas mais íngremes, com solo de terra solta e buracos, há momentos em que a falta da tração 4×4 se faz notar —  a dianteira perde leve contato, mas o torque do T270 resolve rapidamente. Basta aplicar um pouco mais de acelerador que a Toro sobe e continua o trajeto sem drama. 

Consumo melhor que o esperado

O tanque de 55 litros durou mais do que o previsto. Em nossos testes, na cidade, a Toro registrou 10,3 km/l com gasolina em tráfego normal e 7 km/l em congestionamentos —  ótimos números. 

Já na estrada, a média subiu para 14 km/l, desempenho superior aos dados oficiais do Inmetro, que aponta 9,4 km/l na cidade e 10,8 km/l na estrada. No etanol, os números divulgados são 6,5 km/l e 7,8 km/l, respectivamente.

Medidas contidas

Com 4,95 metros de comprimento, 1,84 m de largura, 1,67 m de altura e entre-eixos de 2,98 m, a Toro tem porte de picape intermediária que se comporta bem no ambiente urbano. 

O ponto negativo fica para o espaço traseiro, que é limitado com o banco dianteiro ajustado para alguém de 1,88 m, como eu. Além disso, quem vai atrás não tem saídas de ar, apenas entradas de carregamento USB.

Para o motorista, a posição é boa e bem ajustável. O banco tem regulagem de altura e grande curso no trilho, o que facilita encontrar a melhor postura. A ergonomia é correta, com comandos bem distribuídos e volante ajustável em altura e profundidade, além de uma visibilidade ampla graças aos vidros grandes. 

Quem pretende usar a picape para o que ela realmente é, vai encontrar uma caçamba de 937 litros de capacidade e 750 kg de carga útil — belos números frente às rivais diretas. A Oroch oferece 683 litros e 650 kg, a Montana tem 874 litros e 628 kg, enquanto a Maverick entrega 943 litros e 618 kg. Ou seja, a Toro se posiciona entre as melhores do segmento. Vale lembrar que as versões a diesel oferece carga útil ainda maior.

Interior com melhorias pontuais

A linha 2026 da Fiat Toro chegou com poucas mudanças, mas todas bem-vindas. Agora, o painel de instrumentos digital de sete polegadas, antes restrito às versões mais caras, passa a ser item de série em toda a gama, e traz boa resolução. A central multimídia Uconnect continua com tela de 8,4 polegadas, oferecendo navegação integrada, Apple CarPlay e Android Auto sem fio. O sistema é rápido e intuitivo.

Outra novidade e com maior destaque da linha 2026 da Toro é o freio de estacionamento eletrônico com função Auto Hold, agora padrão em todas as versões. O ar-condicionado automático digital de duas zonas também está no pacote.

O principal avanço técnico da linha 2026 é a adoção dos freios a disco nas quatro rodas, algo que a Toro sempre mereceu. O sistema melhora muito as frenagens, principalmente na chuva, um ponto que a Fiat demorou, mas finalmente resolveu.

Ainda na parte de segurança, a picape traz seis airbags (frontais, laterais  e de cortina), freios ABS, controle de tração e estabilidade, além de câmera de ré e piloto automático comum com limitador de velocidade.

Não há assistentes semiautônomos, como alerta de colisão ou frenagem automática, mas o pacote é coerente dentro da proposta.

Os faróis agora são 100% de LED em todas as versões, com refletores duplos e bom alcance noturno. Já o acabamento das portas mistura tecido e plástico rígido. O console central tem bons porta-objetos, inclusive sob a central multimídia e à frente da alavanca de câmbio, além de porta-copos.

Veredicto

A Fiat Toro flex 2026 confirma aquilo que sempre foi, uma picape sólida, coerente e bem construída. Cumpre o que promete e entrega exatamente o que se propõe a oferecer. Sim, é um carro caro, mas chegou a hora de aceitar a realidade. Carro hoje é caro, e dentro dessa nova régua de valores, a Toro faz sentido. O modelo evoluiu em pontos importantes que reforçam sua maturidade. 

O novo visual, no entanto, é a polêmica da vez. A Fiat mudou onde não precisava. A Toro já tinha uma identidade consolidada, e esse novo desenho não acrescenta muito. Não é feia, mas o visual antigo era mais fácil de gostar. No geral, a versão Freedom mostra que não precisa ser a topo de linha para convencer.

Você compraria uma Fiat Toro Freedom por R$ 169.990 ou colocaria uma caminhonete média na garagem usada? Deixe seu comentário!

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