GAC Aion Y é boa demais para o pouco que vai vender | Avaliação

Sabe o motivo pelo qual só temos três minivans à venda no Brasil hoje em dia? Porque no nosso país, a maioria das pessoas compra um automóvel pensando em impressionar o vizinho mais do que para uso próprio. Modelos como Chevrolet Spin, Kia Carnival e a novata GAC Aion Y são cada vez mais raros, mas não deveriam.

Afinal, uma minivan tem como o objetivo maximizar o espaço interno, minimizando o tanto que ocupa de área nas ruas. Elas são extremamente práticas, tem a posição de dirigir altinha de SUV e, em geral, são bem mais baratas que os utilitários. E é uma pena que, mesmo cheia de atributos, aposto que a GAC Aion Y vai vender pouco.

Afinal, estamos falando de uma minivan (primeiro strike para o brasileiro), chinesa (segundo strike) e elétrica (terceiro strike). Ela pega nichos dos nichos para se compor. Só que o que me surpreendeu é que todos que andaram de carona comigo acharam que ela custava bem mais do que os R$ 187.990 pedidos pela GAC na versão topo de linha Elite. E só a elogiaram.

Tudo isso de espaço?

Sempre fui entusiasta de carros e lembro que na minha infância infernizei a vida da minha mãe até que ela pediu à mãe de um colega de escola que me desse carona em sua Renault Scénic. Era a primeira minivan que havia visto em minha vida e a quantidade absurda de espaço interno que chamou mais atenção.

Claro que, como era criança, tudo parecia maior do que verdadeiramente é. Mas, hoje com 1.87 m de altura, tive essa mesma sensação no banco traseiro da Aion Y. Essa minivan é enorme por dentro, tendo área para que eu me sente atrás de um motorista de mesma altura e consiga cruzar as pernas. Sobra um palmo aberto entre meu joelho e o banco dianteiro.

Mesmo com o teto solar que ocupa quase a parte superior toda, ainda tenho lugar para a cabeça sem me sentir apertado. Só que não foi só nisso que a GAC pensou, o trabalho de ergonomia e usabilidade na segunda fileira é genial. A porta abre em 90 graus e o piso é completamente plano, incluso da área de abertura das portas.

Quem senta na fileira da frente também tem muito espaço e a sensação de que levou ainda mais. Isso porque o para-brisa é bem inclinado, como nas minivans clássicas, fazendo com que a área interna da GAC Aion Y seja ainda maior. Os bancos tem regulagem elétrica, são muito confortáveis e podem ficar bem altos, caso queira.

Qualidade esperada

Há muitos porta-objetos na dianteira, incluindo um espaço abaixo do console central o qual tranquilamente cabe uma mochila. As portas tem bolsões grandes e até o porta-luvas tem bom espaço. O porta-malas leva 361 litros, mas, na prática, parece bem mais do que as medidas oficiais.

Isso porque ele é largo e fundo, além de trazer piso que pode dividir o espaço em duas alturas. A mancada completamente imperdoável da GAC é não ter colocado tampão no porta-malas nem na versão top. Em um carro familiar e que viverá com tralha de criança lá atrás, isso não poderia ter passado.

Contudo, a Aion Y traz um interessante sistema de abertura elétrico. Ao invés de te fazer de palhaço chutando o para-choque mil vezes até acertar o sistema, basta ficar com a chave no bolso e parado atrás da tampa do porta-malas. Ela vai buzinar e piscar o brake-light três vezes. Se você se afastar, o porta-malas abre sozinho. Genial.

O acabamento é bem cuidado, com portas cheias de vinil que imita couro, mas com qualidade. Há partes macias somente nos elementos em verde, exceto a parte superior das portas dianteiras que também trazem revestimento macio. O couro do volante tem toque agradável e todos os plásticos usados são de qualidade com bons encaixes e arremates.

Questão de telas

Como toda marca chinesa, a GAC Aion Y tem painel de instrumentos digital e central multimídia de tela grande. A qualidade dos displays é muito boa, com pouca intrusão da luz do sol na visualização. O painel de instrumentos tem poucas funções, mas é suficientemente usual.

Já a central multimídia é um pouco confusa. Alguns menus são ocultos e a barra de comandos do ar-condicionado some ao usar o Apple CarPlay. Por falar em conexão com o celular, ela pode ser feita sem fio ou pelo cabo USB regular no console, que passa pouca energia e mal carrega o celular.

A conexão com o celular é instável e cai constantemente. Como não há um botão para reiniciar a central, você ficará sem auxílio. Ainda há de apontar que o retrovisor é regulado pela central multimídia, atrapalhando muito na ergonomia e no uso diário. Especialmente se o carro for usado por mais pessoas.

O interessante, no entanto, é que há uma central de comandos na multimídia que te permite abrir todos os vidros ao mesmo tempo (ou fechá-los), abrir o porta-malas até um certo ângulo e também controlar o teto solar. Vale lembrar que, ao menos esses itens, possuem comandos físicos, ao contrário do retrovisor. 

Novamente, parece mais

Além do porta-malas parecer maior do que de fato é, os números da GAC Aion Y parecem maiores do que de fato são. A minivan entrega 204 cv e 22,9 kgfm de torque. Ou seja, potência de um carro 2.0 turbo com torque de 1.0 turbo. Só que a agilidade e entrega do motor elétrico faz com que pareça mais.

Segundo a marca, são precisos 8.5 segundos para chegar aos 100 km/h, com velocidade máxima de 150 km/h. As retomadas são bem rápidas, além de não negar fôlego até seus 150 km/h. O sistema regenerativo pode atuar com duas forças diferentes, sendo que o mais alto ajuda a recuperar bem a energia, quase dispensando o freio, mas sem ser tão sensível quanto um One Pedal.

Por falar em autonomia, segundo o INMETRO, a GAC Aion Y consegue rodar até 318 km com carga completa. Contudo, durante nossos testes a minivan tranquilamente chegaria a mais de 450 km com uma carga – não zerei a bateria por questões de segurança. Ela roda, mesmo em estradas, com sobra de bateria. Foi um dos raros elétricos que não me fez ficar desesperado com a carga. 

Sem pudim

Talvez seja a expertise que a GAC conseguiu com Honda e Toyota na China, mas a dirigibilidade da minivan surpreendeu. Em geral, carros chineses tem suspensão molenga de pudim e direção excessivamente leve. Essa característica se amplia ainda mais em marcas iniciantes que não fazem um trabalho forte de tropicalização, como fazem GWM e CAOA Chery. 

Só que a GAC conseguiu acertar de primeira com a Aion Y. A suspensão dela é voltada sim a conforto, sendo mais macia. Mas não é molenga e chacoalhante. Na estrada, ela se mantém estável e não sofre com ventos laterais, mesmo sendo um carro com formato de pão de forma. Esperava por algo como um BYD Dolphin Mini, mas ela é muito mais estável.

Direção é macia e leve, mas não em excesso, especialmente na estrada onde se mantém estável. Ela também conta com piloto automático adaptativo que é um pouco confuso de entrar em operação, sendo acionado parcialmente pela alavanca de câmbio e por botões no volante. Funciona bem, mas falta uma calibração mais sutil nas acelerações.

E, GAC, também vale revisitar o sistema de manutenção em faixa. Depois do terceiro dia, me irritou tanto que passou o restante da semana desligado. Ele é desesperado para te manter no centro da faixa e apita insistentemente ao sair um milímetro. Em cidades com corredor de moto, se torna um estorvo.

Bem completa

Considerando que estamos falando da versão topo de linha da GAC Aion Y, a marca oferece bastante na lista de itens de série. Na versão Elite, ela traz de série câmeras 360 graus, sensor de estacionamento traseiro, controle de tração e estabilidade, seis airbags, porta-malas com abertura elétrica e chave presencial.

Há ainda piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência, monitoramento de pressão dos pneus, alerta de tráfego cruzado, assistente de luz alta, faróis com acendimento automático, bancos dianteiros elétricos, ar-condicionado digital de uma zona, auto hold e carregador de celular por indução. Mas esqueceu de desembaçador traseiro.

Veredicto

Considerando que a GAC Aion Y é uma minivan elétrica chinesa, as chances de ela ser um grande sucesso no mercado são pequenas. Uma pena, porque ela é um carro extremamente competente e muito melhor do que se esperaria de uma marca que acaba de iniciar suas operações no Brasil, ainda sem grande tropicalização.

O preço está bem colocado para o nível do carro e o espaço interno mais do que farto são os grandes destaques. Se você tem família grande ou trabalha com transporte executivo, é o tipo de carro perfeito. Mas também para quem precisa de espaço e enjoou dos SUVs, hora de abraçar novamente uma minivan.

Você teria uma GAC Aion Y? Conte nos comentários.

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