Quando uma tecnologia amadurece, ela se espalha. É exatamente o plano da Stellantis com o Bio-Hybrid, a eletrificação leve de 12 volts que já vimos no Fiat Pulse e Fastback e, mais recentemente, no 208. O da vez é o Peugeot 2008, que faz sua primeira troca de ano — agora linha 2026 — desde o lançamento em agosto de 2024.
A novidade é pontual e exata, que consta debaixo do capô, onde encontramos o conjunto semi-híbrido, trabalhando com o já conhecido 1.0 T200 (turbo-flex) de 125/130 cv (gasolina/etanol) e 20,4 kgfm a 1.750 rpm, ligado ao câmbio CVT que simula sete marchas.
Tivemos um contato curto nas ruas do Rio de Janeiro por 27 km para sentir se virou outro carro. E a resposta é simples: não. E isso não é demérito. O 2008 segue muito bem acertado no que interessa ao uso diário.

O que muda está escondido, uma bateria de íons de lítio de 12 volts sob o banco do motorista alimenta um motor-gerador por correia (BSG) que substitui alternador e motor de partida e dá aquela força ao 1.0 em horas específicas.
No volante você não ouve zumbidos, não sente entrada de motor elétrico, nada. Quem mostra mais de exato o que acontece é o painel de instrumentos chamado de i-Cockpit, que ganhou uma página de fluxo de energia.

Nas acelerações, a barra fica azul (assistência elétrica nas saídas e em movimento). Em velocidade de cruzeiro, fica branca (sistema neutro). Em frenagens, pinta de verde (regeneração). As listrinhas de carga mostram quanto de bateria você tem para essas ajudas rápidas.
Nosso consumo na prática foi modesto, mas não ruim. Fizemos no trecho urbano com leve trânsito cerca de 8,8 km/l com etanol, bem semelhante dos 9 km/l divulgados pelo Inmetro, estrada 9,6 km/l. Já na cidade o PBEV divulga 13 km/l e 13,7 km/l, respectivamente.

Quando comparamos esses números ao 2008 sem eletrificação,conseguimos notar as diferenças. O modelo tradicional rendia 12,0 km/l na cidade e 14,1 km/l na estrada com gasolina. No etanol, eram 8,5 km/l urbanos e 9,8 km/l rodoviários. Ou seja, na gasolina urbana houve um ganho de 12,0 para 13,7 km/l, melhora de 14,1%.
Na estrada, no entanto, a média caiu de 14,1 para 13,7 km/l, uma redução de 2,8%. No etanol, o cenário é parecido. Na cidade houve leve evolução, de 8,5 para 9,0 km/l (5,8%), mas na estrada caiu de 9,8 para 9,6 km/l (piora de 2,0%).

Essa inversão é típica de sistemas semi-híbridos, que entregam sua eficiência máxima justamente no anda e para urbano, onde o motor-gerador elétrico consegue auxiliar nas arrancadas e aproveitar mais a regeneração de energia.
Já na estrada, com velocidade constante e menos momentos de recuperação elétrica, o ganho simplesmente não aparece. Pelo contrário, o peso extra da eletrificação (cerca de 10 kg a mais em relação ao 2008 anterior) e o arrasto adicional do motor-gerador podem até prejudicar levemente as médias rodoviárias.
O que tem por trás do Bio-Hybrid de 12V

Por teoria (e prática), o sistema usa duas baterias de 12 volts. No cofre do motor, encontramos a tradicional bateria de chumbo, que gera energia aos componentes elétricos do carro e a de lítio sob o banco do motorista, gerenciadas por um módulo que decide quem entra em cena a cada momento.
Esse módulo é chamado de BSG (Belt Starter Generator) que dá vida ao sistema semi-híbrido de 12V. Primeiro, ele atua no Start-Stop, ligando o motor a combustão com muito mais rapidez.

Depois, vem a recuperação de energia. Sempre que desacelera ou freia, o BSG trabalha como gerador, convertendo parte da energia cinética em eletricidade e recarregando a bateria de lítio que fica debaixo do banco do motorista.
E o terceiro papel é dar uma forcinha ao motor 1.0 turbo nas arrancadas e retomadas. Esse empurrãozinho chega a cerca de 4 cv por alguns segundos e é justamente essa ação que faz o SUV gastar menos combustível, nos momentos em que ele mais sofre — tirando o carro da inércia ou reagindo a um toque mais firme no acelerador.
Start-Stop sem susto

Aqui está a diferença mais perceptível do 2008, que não é tão agradável em outros modelos. O Start-Stop ficou mais suave do que nos primos Pulse e Fastback — e até mais redondinho que no 208.
No meu uso, o motor desligou e religou sem trancos e não comprometeu tanto a cabine com o calor carioca de 30° e não chegou a incomodar. Mas da mesma forma como a linha Fiat, não é possível desligar o sistema.

O Auto+ apurou com a engenharia da Peugeot que há um algoritmo que considera temperatura externa, temperatura interna e até luminosidade para decidir quando parar o motor sem sacrificar o conforto. Dica: com o ar no LOW (frio máximo) ele tende a não desligar; acima disso, desliga quando faz sentido para deixar a cabine agradável.
Anda como 2008 deve andar
Ao todo, o SUV continua gostoso e sutil de rodar. O CVT ajuda muito no conforto por não ter degraus de marcha e o acerto de suspensão é mais macio que no 208, mas mantém a calibração mais firme, mesmo usando eixo de torção na traseira.

Ele absorve bem as irregularidades sem virar manteiga em curva. A direção tem a dose certa — não é leve demais nem pesada — e é direta o suficiente para apontar com confiança.
Embora tenha o motor elétrico ajudando nas arrancadas, aquele delay de resposta do acelerador permanece, graças a dupla turbolag + o CVT quando você pede tudo de uma vez no pedal, porém nada fora do esperado para o conjunto. Uma questão positiva fica para o silêncio a bordo, muito bem trabalhado com poucos ruídos invadindo a cabine.
Posição de dirigir é a perfeição para um SUV

A ergonomia Peugeot segue muito boa. Mesmo com a bateria sob o assento, o banco abaixa bastante no ajuste manual e dá para sentar baixo e se encaixar no volante hexagonal, que tem ótimos ajustes.
A central multimídia de 10,3” fica na mão e mantém Apple CarPlay e Android Auto sem fio. O painel traz a nova visualização de energia, então você entende quando o sistema está ajudando ou regenerando — mesmo que não sinta fisicamente.

O resto foi inalterado para a versão GT. Ou seja, chave presencial — essa sim de verdade, pois fecha e abre com a aproximação no carro —, botão de partida, faróis com acendimento automático, piloto automático (comum) com limitador de velocidade, freio de estacionamento eletrônico, carregador de celular por indução, entre outros itens de conforto.
São 4,30 m de comprimento, 1,77 m de largura, 1,58 m de altura e 2,61 m de entre-eixos. Com o banco ajustado para mim (1,88 m), o joelho encosta no assento da frente, mas a cabeça fica folgada; é um traseiro ok para o porte. O porta-malas de 374 litros atende bem a proposta do segmento.
Veredito

O Peugeot 2008 2026 semi-híbrido não muda sua personalidade, e isso é positivo. O SUV continua agradável de guiar, silencioso e confortável, mantendo as qualidades que já o destacavam no segmento.
O novo sistema de 12 volts, no nosso percurso, não atrapalhou em nada. Pelo contrário, se mostrou mais refinado que nos Fiat Pulse e Fastback, que usam essa tecnologia desde novembro de 2024. O start-stop está praticamente imperceptível e há uma leve ajuda no consumo. Mas, convenhamos, nada que vá transformar de verdade o bolso do motorista.

A maior vantagem está nos benefícios indiretos. Quem mora em cidades como São Paulo, por exemplo, pode escapar do rodízio de veículos, já que a legislação permite essa exceção para carros híbridos. Em outros estados, também existem incentivos que reforçam o apelo da versão.
No fim das contas, o 2008 segue sendo um bom negócio dentro da faixa de preço. Por R$ 162.900 na versão GT, entrega o que precisa.
E você, colocaria o Peugeot 2008 na garagem ou recorre a outro SUV? Deixe seu comentário!



