Assim como ninguém perdoou a Mercedes-Benz quando tirou o motor V8 do C63 AMG, os estadunidenses pegaram em tochas quando Carlos Tavares, ex-CEO da Stellantis, exigiu que o motor HEMI V8 deixasse de residir no cofre da Ram 1500. Ela chegou ao Brasil sem a alma das caminhonetes grandes, o que deveria ser um desastre…mas não é.
Depois de testarmos a versão Laramie cromada, a Ram 1500 volta na versão Night Edition de R$ 599.990 com o título de caminhonete grande mais cara do Brasil entre os modelos a gasolina. E o pior: a única sem motor V8. E eu queria ficar essa avaliação inteira reclamando da ausência do motor em V, mas o seis cilindros me conquistou.
Seis por oito
Tecnicamente, o motor 3.0 seis cilindros em linha é mais eficiente que o V8 Hemi 5.7 de antes. Ele agora é turbo, enquanto seu antecessor é aspirado. Além disso, é mais potente e tem mais torque. Agora são 425 cv e 64,8 kgfm de torque, suficientes para fazer a Ram 1500 cantar pneu toda vez que sai do sinal com mais força.

Só que falta aquele ronco. Como era gostoso acelerar uma jamanta como a Ram 1500 com um V8 berrando lá na frente, enquanto o escapamento soprava o ar quente com estampidos. Era inconcebível tal barulho de esportivo em um carro maior que muito apartamento de São Paulo. O seis cilindros não tem isso. Ele é quieto, mas muito forte.
Gerenciado por um câmbio automático de seis marchas, o motor seis cilindros em linha da Ram 1500 entrega muito torque e força a todo momento. Limitado eletronicamente a 180 km/h, a caminhonete morre aos 174 km/h, não ganhando mais velocidade, mesmo com o motor a giro baixo e claramente aguentando bem mais.

A entrega de torque é mais rápida do que no V8 e a agilidade da caminhonete da Stellantis chama atenção. Só que é aquela coisa. O motor oito cilindros é mais legal e poderia ser oferecido no Brasil como opção ao novo 3.0 turbo. Eu amo o ronco do propulsor old-school, mas esse novo conjunto ficou brilhante.
Cruzadora de rodovias
Grande demais para a cidade, a Ram 1500 brilha na estrada. Com o 0 a 100 km/h cumpridos em 5,3 segundos, mesmo pesando 2.663 kg, ela consegue ultrapassar com facilidade de esportivo. Só que o conjunto de suspensão pneumática ao entrar no modo aero, coloca a carroceria mais baixa e a mantém firme em alta velocidade.

Ao contrário de suas concorrentes, a caminhonete do carneiro não chacoalha ou pula, se mantendo absolutamente estável e serena. É o comportamento mais próximo de um carro normal que se pode ter em um veículo tão gigante. Isso se traduz em agilidade de manobra e segurança para dirigir por horas com a picape estável.
A direção, que é do tamanho de um pandeiro, tem assistência elétrica e se mantém bem leve nas manobras, mas firme em alta velocidade. Não há necessidade de fazer constantes correções ao dirigir, mesmo em um terreno mais acidentado – novamente, trunfo da mais do que bem acertada suspensão.

O que me surpreendeu também foi o consumo. Oficialmente ela marca 6 km/l na cidade e 7 km/l na estrada. Mas, durante nossos testes, ela conseguiu atingir 8,5 km/l na rodovia, enquanto em ambiente urbano repetiu os 6 km/l. Ou seja, se souber manejar bem, o tanque de 125 litros de gasolina pode durar muito.
Sala de estar de luxo
Algo que a Ram sempre tem acertado em seus carros – honestamente, mais que suas rivais diretas – é em qualidade interna. Renovada, a Ram 1500 mantém o bom padrão, mas com um toque a mais. A cabine tem couro macio revestindo o painel e partes da porta, que ainda traz elementos em suede e em material emborrachado.
![interior Ram 1500 [Auto+ / João Brigato]](https://uploads.automaistv.com.br/2025/07/ram-15000-night-edition-12-1320x743.webp)
O console central, que é tão grande que parece caber um Fiat Mobi, tem uma larga almofada de couro, um andar de porta-objetos revestido em veludo, além de uma parte interna gigantesca e lotada de nichos e easter-eggs. Há ainda um suporte deslizante e, pasme, nove entradas USB (três do tipo C e três normais) só para quem senta na frente.
No volante com ajuste de altura manual, há couro de qualidade excepcional, além de vários comandos práticos. A renovação de visual trouxe consigo uma tela maior para a central multimídia. O sistema é prático e fácil de usar, além de contar com Android Auto e Apple CarPlay. Mas só quem tem o celular da maçã terá a tela completa com o espelhamento.

O painel de instrumentos é totalmente digital e o mesmo usado por modelos da Jeep, trazendo familiaridade. Para o Brasil, a Ram 1500 Night Edition ainda conta com uma inútil tela do lado do passageiro, que agora funciona. Vale destacar ainda a presença de muitos nichos nas portas e quatro porta-copos por passageiro dianteiro.
Gigantescamente enorme
Quem senta atrás chega a ter mais privilégios do que os passageiros dianteiros – exceto pelo resfriamento de bancos, que é só para a turma da frente. O espaço é mais do que farto, fazendo com que eu, com 1,87 m de altura, consiga cruzar as pernas atrás de um motorista de mesma estatura.



O banco desliza para a frente e para trás, levando consigo o encosto, que aumenta a inclinação para melhorar o conforto. O teto panorâmico é um show à parte. Há ainda um compartimento abaixo dos bancos para guardar objetos, além de dois nichos fundos no piso da picape, com direito a régua e revestimento plástico para poder molhar.
E quem disse que os passageiros traseiros não têm tomadas USB? Lá atrás são quatro, mais uma tomada residencial. Se o passageiro do meio se ausentar e o banco for deitado, há dois porta-copos extras para além dos dois no console. A janela traseira pode ser aberta eletricamente, o que ajuda muito a resfriar mais rápido a cabine.
Caixas da Ram

Se você tem receio de que suas bagagens molhem na chuva, a Ram 1500 conta com as duas extremamente práticas Rambox. São dois nichos na lateral da caçamba, no qual armazenam 107 litros cada. O revestimento interno de plástico e os drenos na lateral permite usar como um cooler ou para levar bagagens que não podem ser molhadas.
Felizmente, a Ram agora coloca a capota marítima como item de série, falha que vinha tendo com suas caminhonetes. A imensidão de espaço segue lá atrás com 1.200 litros de capacidade com 557 kg. A tampa da caçamba tem abertura e fechamento elétrico de alta velocidade, além de um degrau na lateral, que é difícil de ser colocado no lugar depois de usado.

Por isso custa R$ 600 mil
Ser tão grande e cara, faz com que a Ram 1500 também precise ser bem equipada. De série, ela conta com seis airbags, controle de tração e estabilidade, sistema de câmeras 360°, faróis full-LED com acendimento automático, pedais com ajuste elétrico, sistema de manutenção em faixa, alerta de tráfego cruzado, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro.
Há ainda piloto automático adaptativo, alerta de ponto cego (extremamente útil por conta do retrovisor com zoom), frenagem autônoma de emergência, alerta de fadiga, ar-condicionado automático de duas zonas, estribo elétrico, teto solar panorâmico, bancos dianteiros com regulagem elétrica, aquecimento e resfriamento.

Ela também é equipada com rodas de liga-leve de 22 polegadas, suspensão pneumática, sensor de chuva, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, sistema de som Harman Kardon, roteador wi-fi, dois carregadores de celular por indução, partida remota, chave presencial e head-up display.
Veredicto
Usar uma caminhonete como a Ram 1500 na cidade é infernal por seu tamanho exagerado, retrovisor com zoom e total falta de preparo para as ruas brasileiras. Mas como um cruzador de estradas para engolir quilômetros e quilômetros de rodovias, não há parceira melhor. É um carro extremamente confortável, robusto, valente, luxuoso e forte.

Sinto falta do V8? Honestamente, só do som. Porque esse novo motor é bem mais forte, mais econômico e elástico, mostrando que até sobra cavalaria e torque para um veículo enorme. É ainda uma caminhonete do bom e velho jeito de se fazer uma grandalhona raiz. Só não ronca como antes. E, por mais que não seja o ideal, ela compensa pelas qualidades.
Você teria uma Ram 1500? Conte nos comentários.



Em breve vou adquirir uma RAM 1500