Toyota GR Corolla vs. Honda Civic Type R: os monstros japoneses | Comparativo

A nível global, talvez as maiores brigas que existam sejam entre Apple e Samsung, Burger King e McDonald’s, além de Honda Civic e Toyota Corolla. Por anos, eles disputaram o segmento de sedans médios aqui no Brasil, mas agora cada um foi para o seu canto. Até porque, a verdadeira batalha é agora entre GR Corolla e Civic Type R.

Talvez havia muito saquê nos jantares dos japoneses nos últimos anos, porque só isso explica o fato de que dois dos carros mais vendidos do mundo possuem versões esportivas absurdamente insanas. Cada qual com sua justificativa para existir e modus operandi. Mas nada melhor do que colocar os dois na pista para um embate, não?

Preço

Já vamos colocar o primeiro ponto de embate logo de cara. Afinal, esse vai doer. O Honda Civic Type R é tabelado em R$ 429.900. Só que há um truque. Só existem unidades 2024 no Brasil. Com isso, você consegue facilmente baixar forte nesse preço.

Já o Toyota GR Corolla sai por R$ 461.990 na versão Circuit, que é a única agora disponível. Todos são 2025 e a Toyota é difícil de baixar preço em seus modelos. Nenhum dos dois japoneses tem acréscimo de preço pelas cores ou conta com opcionais. Por isso, é mais fácil ver um balizamento de preços.

Motor, consumo e 0 a 100 km/h

Parecidos em números, mas totalmente diferentes nas concepções, os dois esportivos japoneses contam com motor turbo com injeção direta movido só a gasolina. O Corolla traz o três cilindros mais potente do mundo através de um 1.6 de 304 cv e 37,7 kgfm. Já o Civic usa um 2.0 quatro cilindros turbo de 297 cv e 42,8 kgfm.

Infelizmente, por conta da nossa gasolina, temos o Civic Type R mais fraco do mundo, enquanto a rival conseguiu dar a volta por cima e manter a potência do GR Corolla intacta. Em consumo, praticamente idênticos: 8,7 km/l na cidade para o Toyota, 8,8 km/l para o Honda. Na estrada, os dois fazem 11,1 km/l.

Já o tempo de 0 a 100 km/h traz quase nenhuma discrepância, especialmente porque o peso dos dois é bem parecido (o Civic é 34 kg mais leve). São 5,5 segundos no Corolla contra 5,4 segundos no Honda. Mas a entrega de força dos dois e a sonoridade é completamente diferente, não somente por conta dos cilindros.

O Type R enche o motor de maneira mais linear, é mais silencioso em giro baixo e o turbo entra de maneira mais discreta. Tanto que o torque máximo chega a 2.600 rpm, enquanto no GR, temos o pico a 3.00 rpm com o turbo espirrando como se estivesse jogando Need For Speed Underground. O turbo, ao entrar, enche o motor com uma bela patada.

Câmbio

Outra coincidência entre eles é a presença de câmbio manual de seis marchas. A única alteração é que a ré do Toyota fica ao lado da primeira, enquanto a do Honda é depois da quinta marcha. Os dois tem engates super curtos, precisos e que entram como uma manteiga. Mas o do Civic é um pouquinho melhor.

O que é mais interessante é que a relação de marcha do Civic Type R é um pouco mais longa, permitindo aproveitar mais as marchas na hora de uma esticada, enquanto o GR Corolla pede trocas antes. Só que você sente o motor do Toyota encher mais quando há reduções, garantindo mais agilidade em alguns momentos, enquanto o Honda é mais dócil para um uso diário.

Ambos trazem punta-tacco automático, o que é maravilhoso para uma tocada mais esportiva. Ao reduzir a marcha, eles entendem que é preciso elevar a rotação do motor para evitar trancos e ganhar velocidade. No Corolla é preciso acionar o botão iMT toda hora, enquanto o Civic deixa o sistema ligado de acordo com o modo de condução escolhido.

Andando forte

Se em termos de performance, falei até agora de diferenças mínimas, na hora de tocar, os dois japoneses são muito diferentes. Começa pelo fato de que o Honda Civic Type R tem tração dianteira, enquanto o Toyota GR Corolla usa sistema integral com variação de distribuição de tração.

O Civic, por incrível que pareça, é o carro com tração dianteira com o comportamento mais traseiro que há. Ele não sai de frente de jeito nenhum, conseguindo (magicamente) assentar a traseira em uma curva forte. O que mais gosto nele é a maneira com a qual ele gruda no asfalto para fazer uma curva desafiando as leis da física.

Você entra em uma curva com tudo, o Type R só diz: “vai mais”. Na segunda tentativa, você pesa mais o acelerador, ele “vai mais”. Seu limite como piloto chega, seu cérebro já saiu do lugar com a velocidade na curva e o Honda ri da sua cara pois o limite dele ainda está longe. É algo fora do normal sua capacidade de fazer curvas.

Já o Toyota GR Corolla não acompanha. Por mais que ele também consiga fazer atrocidades na curva, seu limite chega antes. No modo de tração 60/40, ele envia mais força para a dianteira e tende a sair de frente, deixando a traseira corrigir em momentos necessários. Em 50/50, ele acompanha o Civic, mas não tem a mesma sensação de controle.

O modo mais divertido é o 30/70, onde a maior parte da força é enviada para as rodas traseiras. Nele, o GR Corolla te deixa divertir como nenhum Corolla permitiu. A traseira escorrega mais fácil, encaixando na curva com o pneu querendo fritar. É um comportamento que exige mais braço, mas é capaz de te arrancar um sorriso enorme no rosto.

Direção e uso corriqueiro

Em ambos os esportivos, a direção é pesada e bem direta. O Civic consegue ser um pouco mais direto que o Corolla, mas o GR deixa o volante mais leve para facilitar a manobra. Além disso, o revestimento em couro tem pega muito melhor do que a alcantara do Type R, que já aparentava desgaste no modelo avaliado.

No uso diário, o Civic Type R consegue ser mais tranquilo. Ele roda um pouco mais macio e é mais suave nas reações quando não provocado. Claro que a suspensão é bem dura e passar por uma rua de paralelepípedos é um sacrifício nos dois, mas o GR Corolla parece um carro mais firme e menos permissivo às irregularidades. Só o Honda raspa a frente na garagem.

Interior, acabamento e telas

Outro ponto no qual a diferença entre os dois modelos é grande, é o interior. A cabine do Honda Civic é bem mais sofisticada, não somente por ter mais materiais macios nas portas e painel, mas também pelo cuidado com detalhes. Ele conta com revestimento de alcantara no volante, bancos e portas, além de carpete vermelho, como manda a tradição Type R.

O painel de instrumentos é excelente, com vários recursos e fácil de mexer. Já a central multimídia é referência pela qualidade da tela, fluidez de funcionamento e comandos físicos que facilitam a vida. O console central alto ajuda a apoiar o braço nas trocas de marcha, além de ser um útil porta-objetos.

No GR Corolla, a Toyota usou acabamento melhor que no Corolla sedan e no Corolla Cross, com mais partes macias e um couro de qualidade bem superior ao usado no Civic. Mas os plásticos presentes são inferiores e o que mais pega é o console central sem apoio de braço, freio de estacionamento por alavanca enorme e a falta de porta-objetos.

Estranhamente, ao contrário do sedan e do SUV, a porta traseira não tem acabamento macio – mas isso nem o Civic. O espaço é mais apertado no Toyota, mas ele leva quatro pessoas, ao contrário do Honda que colocou porta-copos no lugar no quinto passageiro. Oficialmente são 337 litros no porta-malas do Type R contra 450 litros do GR, mas o espaço parece maior no Honda, especialmente por conta de não ter estepe.

A central multimídia do GR Corolla merece até um capítulo à parte de tão ruim que é. A tela tem qualidade baixa, gráficos genéricos que a fazem parecer ter sido adquirida na 25 de março. A conexão sem fio é inconstante e trava, além de as caixas de som terem qualidade ruim. A justificativa para uma tela tão ruim? Porque no Brasil queriam que pegasse rádio AM…em um carro esportivo…poxa Toyota. 

Itens de série

A lista de equipamentos dos modelos é bem recheada, mas há falhas. Eles contam com airbags laterais, frontais e de cortina, chave presencial, frenagem autônoma de emergência, sistema de manutenção em faixa, alerta de ponto cego, ar-condicionado digital de duas zonas, carregador de celular por indução e painel digital.

Há ainda retrovisor elétrico, vidros elétricos na quatro portas, faróis full-LED com acendimento automático e assistente de luz alta, controle de tração e estabilidade, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, bancos esportivos, assistente de partida em rampa e piloto automático adaptativo.

Só o Toyota GR Corolla tem airbag de joelho, luz de neblina de LED, estepe, descanso de braço no banco traseiro, banco traseiro bipartido e head-up display. Já o Honda Civic Type R tem como exclusividade a presença de airbags laterais traseiros, monitoramento de pressão dos pneus, indicador de fadiga, freio de estacionamento eletrônico, controle de largada, sistema de som premium com subwoofer.

Mas dois itens tão irrisórios que estão presentes até em um Renault Kwid, ficaram de fora do GR Corolla e estão no Civic Type R: sensor e câmera de ré. É inadmissível um carro que custa o que esses dois custam não contar com um item tão trivial o qual a Toyota simplesmente esqueceu.

Veredicto

No final das contas, o Honda Civic Type R sai como o vencedor desse comparativo por uma série de fatores. Mas o que o coloca à frente do Toyota GR Corolla é a concepção, que você sente no conjunto da obra. O GR parece um Corolla preparado. Já o Type R parece que nasceu assim e depois da Honda baixou o tom para fazer o Civic normal.

A diferença entre um carro nascido para ser esportivo e outro que foi preparado é o que torna as receitas tão diferentes. Além disso, o Honda é mais barato, mais equipado, mais refinado e, mesmo tendo só tração dianteira, é mais divertido. Só que, independentemente disso, ambos são carros divertidíssimos e que eu gostaria muito de tê-los na garagem.

Você teria qual dos dois esportivos japoneses? Conte nos comentários.