Sempre fiquei encafifado com diferenças substanciais entre o consumidor de motocicletas e o de automóveis. Como sou assíduo cliente dos dois tipos de veículos desde sempre, e eu sou um só, a dúvida persiste: quem compra uma moto aceita, e de bom grado, modelos retrô, que reconhecidamente apresentam design inspirado no passado, enquanto o sujeito que compra carro não parece gostar muito desse tipo de proposta.
Eu mesmo poderia ser um exemplo. Por que será?
Passei a pensar na forma como eu agiria. Motos retrô, bom, já tive várias. Carros? Na verdade, tive um só: um Chrysler PT Cruiser, mas era um carro designado quando trabalhei na Mercedes-Benz, que tinha a herança do período DaimlerChrysler. E não havia outra opção a ser escolhida à época.

Teria um modelo retrô?
Mas carro retrô que eu tenha comprado com os meus próprios recursos… não, nenhum. Nunca tive. Eu sou o exemplo típico, portanto, do que porquê que isso dá certo com motos e não com carros.
De cabeça, sem apelar para o Google, eu lembro de alguns exemplos que enfatizam a tese de que o mercado mundial não está nem aí para carros com design retrô. BMW Z8, Chrysler PT Cruiser, Plymouth Prowler, VW New Beetle, Fiat 500, Ford Bronco, e o que mais?
![BMW Z8 [divulgação]](https://uploads.automaistv.com.br/2024/06/bmw_z8-1320x792.webp)

Não há muitos outros exemplos, desconfio, porque quem produz automóveis já sabe que o consumidor não os aceitará muito bem. Nos exemplos citados só os dois últimos continuam sendo produzidos. E há de se considerar que a indústria automobilística é mundialmente muito maior em volume e no número de players.
Era para ter muito mais exemplos, concorda? Você pode até argumentar que o New Beetle teve lá um certo sucesso. Foi produzido entre 1997 e 2019 e se multiplicou em 1,7 milhão de unidades fabricadas nesse período. Tá bom, teve. Mas desde que você não se lembre do legendário e autêntico VW Sedan, o Fusquinha, com mais de 21 milhões de unidades.

Mesmo que a gente aponte o New Beetle como um modelo de sucesso, ainda assim ele será a exceção que confirma a regra. Nunca tive e nem vou ter um New Beetle. Mas tive, tenho e terei Fusca. O atual é um STD 1976 1300 Amarelo Imperial.
E as motocicletas com design retrô?
Já o mercado de motocicletas é completamente diferente. Não há uma ou outra opção de modelo retrô. Há várias. Muitas. E em qualquer marca, possivelmente todas. Se você pensar que a própria Harley-Davidson é uma sucessiva reedição de si mesma há várias décadas… a tese ganha corpo.
Mas não é a única. A Royal Enfield, marca de origem britânica com atual sede na Índia, faz grande sucesso no Brasil atualmente com modelos de média cilindrada. E é praticamente toda composta de exemplares retrô.
![Royal Enfield Interceptor 2024 é uma motocicleta com estilo retrô [divulgação]](https://uploads.automaistv.com.br/2024/02/int_barcelona_blue_0003-1920x1080-1-1320x792.jpg)
A moto que, hoje, eu compraria, inclusive, e que venho namorando há algum tempo, chama-se Kawasaki Z900 RS. Motor de 4 cilindros, 948 cm3, 109 cv e visual da legendária Z1 dos anos 70. Custa um Renault Kwid zero km, mas eu chego lá. E é um dos principais exemplos de design retrô do atual mercado brasileiro.
E não é a única. BMW R12, Ducati Scrambler Icon, Royal Enfield Meteor, Continental e Interceptor, Kawasaki Z650, Triumph Bonneville, enfim, são inúmeros exemplos. Algumas delas possuem até coberturas metálicas que imitam velhos carburadores, sem contar a adoção quase que unânime de farol dianteiro redondo, selim reto e certo abuso de cromados. Tudo para ficar muito com o jeitão de anos 70.

Eu não sei, mas arrisco palpites
Não sou capaz de jurar o porquê, mas vou lançar alguns possíveis motivos. Antes de qualquer raciocínio é importante frisar que essa característica não é apenas das fabricantes de motos versus as fabricantes de carros.
Você só produz o que o cliente está disposto a comprar. Então dá para dizer que a diferença substancial está no comprador de cada um desses veículos, como venho tratando esse tema desde o início do texto.

Essa característica do comprador de motos de ser mais receptivo ao visual retrô pode vir do fato de o investimento em uma motocicleta ser relativamente menor do que o que se faz em um carro. Outro motivo supostamente razoável é que o uso desses modelos geralmente está condicionado aos passeios de final de semana. A moto retrô não é o veículo de uso diário.
Não que eu concorde, atenção. Acho que dá para usar tranquilamente uma Continental ou uma Bonneville (foto abaixo) no dia a dia – já tive as duas e atesto que é bem possível. Mas este é, sim, o comportamento da grande maioria dos motociclistas que as adquirem. Por ser um veículo recreacional, portanto, eu topo algo mais exótico, diferente, que fuja do convencional? Aparentemente sim.
![Triumph Bonneville T100 2023 [divulgação]](https://uploads.automaistv.com.br/2023/01/Bonneville-T100_MY23_Meriden-Blue_AngleRHS_edited-1200x720.jpg)
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