Por que o Jeep Renegade é um fracasso fora do Brasil?

Um dos SUVs mais bem sucedidos do Brasil e um dos queridinhos do segmento é um verdadeiro fracasso em outros países. A realidade que vivemos aqui é que o Jeep Renegade já foi um dos modelos mais vendidos da categoria e hoje ainda tem vendas fortes. Mas lá fora, o modelo é um fracasso tão grande que está morrendo. E há motivos para isso.

O começo do fim do Jeep Renegade fora do Brasil começou em 2022, quando a Stellantis deu ao modelo um visual diferenciado e que só foi aplicado por aqui. Na Europa e nos EUA, dois mercados fortes não receberam a última reestilização que a marca fez, mantendo o visual que estreou em 2019.

Hoje, o Jeep Renegade é fabricado em dois locais no mundo: Melfi, na Itália, e Goiana, em Pernambuco. A fábrica da Itália já está em processo de renovação e modificações para receber novos modelos e, com isso, o destino do Renegade fora do Brasil parece estar selado. 

Prova disso é que no final do ano passado, diversas publicações deram como certa a morte do SUV compacto nos EUA. Enquanto isso, na Europa, o Avenger tem tomado seu espaço com oferta de versões gasolina e elétrica, como um atrativo que o Renegade nunca conseguiu ter. Mas o que explica seu sucesso no Brasil e fracasso lá fora?

Compass, Avenger e companhia

Analisando mercados como EUA e Europa, o maior problema do Jeep Renegade é e sempre foi o Compass. Diferentemente do Brasil em que a Stellantis conseguiu fazer com que o público identificasse os dois modelos como produtos bem diferentes aplicando uma distância forte de preço, lá fora isso não ocorre.

A situação nos EUA é ainda pior, já que um Renegade Latitude, equivalente ao nosso Sem Nome, parte de US$ 28.445 (R$ 140 mil). Já o Compass Sport começa em US$ 25.900 (R$ 127 mil). A tentativa de justificativa de preço mais alto é que o Renegade nos EUA poderia por ele sempre ter tração 4×4, mas assim também é o Compass.

Mas isso nunca colou para o norte-americano. Para eles, o Compass já é um carro pequeno e o Renegade se torna minúsculo. Por lá, quanto maior o carro, sendo um Compass considerado carro de adolescente, enquanto aqui é a marca da classe média ascendente. Além disso, como justificar pagar mais por um carro menor e com acabamento pior?

Na Europa, a situação também não é boa. Tomamos como exemplo a Itália, que é onde o modelo é produzido. O Renegade Longitude é o modelo de entrada por lá, partindo de 26.300 euros (R$ 141 mil). Já o Avenger, que tem porte bem próximo, começa em 23.100 euros (R$ 123 mil). Pelo menos o Compass está longe, partindo de 35.100 euros (R$ 188 mil).

Ou seja, nos EUA o Renegade é mais caro que um Compass, mesmo sendo inferior. Já na Europa, o SUV compacto tem de brigar com o Avenger, que é mais moderno e tem porte semelhante, mas custando muito menos. A vida dele ficou injusta. Para tanto, China e Índia já não oferecem o modelo há um bom tempo.

Questões mecânicas

Outro ponto que tem prejudicado fortemente o Jeep Renegade no mundo é a escolha de motores que o SUV tem. No Brasil isso foi parte do problema, porque o motor 1.8 flex aspirado era extremamente beberrão e pouco fazia o modelo andar, mas mesmo assim vendia bem.

Na Europa atualmente ele é vendido com motor 1.0 três cilindros turbo de 120 cv, o mesmo usado pelos Fiat Pulse, Strada e Fastback, além de Peugeot 208 e Citroën C3 Aircross. O motor é suficiente para modelos de pequeno porte, mas o Renegade chega a 1.643 kg, a depender da versão.

Por lá, ele ainda conta com motor 1.5 quatro cilindros turbo semi-híbrido, mas com apenas 130 cv – a mesma potência do 1.0 turbo no Brasil. Por fim, a versão 4xe tem exatamente o mesmo conjunto do Compass com motor 1.3 turbo e sistema elétrico. Mas é gastão, tem pouca autonomia e custa o dobro do Renegade de entrada.

Nos EUA, o modelo vem equipado com o mesmo motor 1.3 quatro cilindros turbo que temos no Brasil. Só que com 177 cv e 21,4 kgfm de torque contra 185 cv e 27,5 kgfm do mesmo motor, só que flex. Para os estadunidenses, esse motor é fraco, visto que é o país dos V8 e de motores pelo menos 2.0. Outro ponto que pesou contra o Renegade.

Mas e o amor brasileiro?

Se o Renegade parece todo errado para fora do mundo, qual o motivo para tanto sucesso no Brasil? São vários, na realidade. Primeiro porque SUVs compactos sempre fizeram muito sucesso por aqui, especialmente por conta do primeiro Ford EcoSport e do Renault Duster. O brasileiro gosta de SUVs quadrados, que parecem robustos e aguentam a porrada.

O visual caixote do Renegade trouxe justamente isso. Além disso, Duster e EcoSport sempre tiveram acabamento péssimo, algo que o Jeep mostrou ser diferente. Ele e o Honda HR-V criaram um novo patamar para o segmento, que até hoje tem rivais que não chegam perto dele.

Mas há um fator que foi determinante para o sucesso absurdo do Renegade por aqui: status. A Jeep sempre foi vista pelo brasileiro como uma marca premium, mesmo não sendo. A fabricante chegou por aqui nos anos 1990 com o Grand Cherokee, que se tornou símbolo de carro de rico.

A partir do momento que a Jeep se tornou fabricante nacional, mas manteve concessionárias com estilo elegante e essa aura de marca de luxo, o brasileiro comprou o discurso de se tratar de uma marca superior. Ter um Jeep ao preço de um Ford ou de um Renault se tornou a marca de sucesso para muita gente, que até esquecia o péssimo 1.8 flex.

Outro ponto crucial: os primeiros Jeep Renegade tinham versão diesel. Esse tipo de motor, para o brasileiro, é símbolo de confiabilidade, robustez e também de status. Nenhum outro SUV compacto oferecia esse tipo de opção e o modelo da Stellantis sim. Tanto que as vendas dos modelos diesel eram expressivas nos primeiros anos.

Futuro do Renegade

Hoje as vendas do Jeep Renegade são bem mais baixas do que antigamente. Mas isso porque a fábrica de Goiana, PE, está trabalhando no limite. A planta hoje produz Compass, Commander, Fiat Toro e Ram Rampage. De todos esses modelos, o Renegade é o mais barato e menos rentável. Por isso tem menos prioridade na linha. 

Basicamente nas concessionárias há pouca margem de negociação por ele e fila de espera. No melhor esquema: compra quem quer. É por isso que ele deixou de ser um dos mais vendidos da categoria para ficar no meio do ranking. Mas isso deve mudar com a segunda geração que já está em desenvolvimento.

Revelada com exclusividade pelo Auto+, a segunda geração do Jeep Renegade é um projeto totalmente brasileiro – afinal, ele só fez sucesso aqui. O modelo usará plataforma CMP do Peugeot 208 e terá sua produção transferida para Betim, Minas Gerais. Por lá, ele se tornará o carro mais caro e sofisticado da planta, fazendo com ele volte a ser prioridade.

Por conta da base compartilhada com o Avenger e porte semelhante, o novo Renegade brasileiro não dará espaço para o irmão menor, que foi descartado para o nosso país. Ele deverá manter o visual quadrado e o interior bem mais refinado que a média da categoria (algo também que o Avenger não consegue ter). 

Motores turbo serão usados no novo Renegade, mantendo o 1.3 quatro cilindros turbo nas versões mais caras, mas ganhando a companhia do 1.0 três cilindros turbo nos modelos de entrada. Como a base CMP é muito mais leve que a Small Wide, a segunda geração do SUV compacto passará por uma verdadeira dieta de emagrecimento.

Você gosta ou tem um Jeep Renegade? Conte o que você acha sobre o SUV compacto nos comentários. 

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