Kia Niro junta equilíbrio com consumo esdrúxulo | Avaliação

O brasileiro realmente aprendeu a abraçar a eletrificação. Tanto que a grande maioria dos modelos acima de R$ 200 mil oferece algum tipo de auxílio elétrico. Dentro da Kia, temos ou modelos 100% elétricos como EV5 e EV9, ou modelos puramente a combustão e até semi-híbridos como Sportage e Stonic. Mas o meio termo deles, o Kia Niro, é o equilíbrio.

Vendido em duas versões no Brasil, o Kia Niro parte de R$ 194.990 pela versão EX e chega a R$ 219.990 na SX Prestige, a testada. Mas vale um adendo, o modelo das fotos é da linha 2025, a qual ainda tinha trava eletrônica de criança para o banco traseiro, banco do carona elétrico, mas usava painel de Hyundai HB20 (na linha 2026 ele é 100% digital).

Em um patamar de preço em que temos modelos como Toyota Corolla Cross, GAC GS4, GWM Haval H6 e até Leapmotor C10, será que o Kia Niro, que tem porte menor, consegue se destacar e honrar a boa fama dos sul-coreanos? Com esse consumo bizarramente bom, as coisas podem ser bem positivas para ele.

Rende mais do que parece

Mecanicamente semelhante ao Hyundai Kona, o Kia Niro HEV traz consigo um motor 1.6 quatro cilindros aspirado de 105 cv e 14,7 kgfm de torque. É um motor bem parecido com o que o HB20 já usou, mas recalibrado e pensado para muita economia de combustível. Ele é pareado a um motor elétrico dianteiro de 44 cv e 17,3 kgfm.

Ao todo, o motorista tem à disposição 141 cv e 27 kgfm de torque. Comparativamente, ele é mais potente que o Corolla Cross, mas fica atrás do GS4 e do Haval H6 HEV. Só que, como o Niro é bem menor e mais leve, os números são mais animadores na prática. Especialmente porque ser gerenciado por uma transição de dupla embreagem com seis marchas.

Oficialmente, a marca promete um 0 a 100 km/h em 10,8 segundos e consumo de 18,3 km/l na cidade e 15,9 km/l na estrada. Só que na prática tudo é bem diferente. O Niro acelera bem, fazendo com que o motor elétrico atue logo no começo da arrancada com maior eficiência e depois ajudando o motor a combustão.

Como o câmbio de dupla embreagem atua como se fosse um tradicional, as trocas são bem rápidas e há uma sensação de ganho de velocidade muito mais nítida do que os rivais com transmissão CVT ou direta. O câmbio troca sem trancos, vale lembrar. Mas falta um modo normal, pois em Eco o Niro fica xoxo e em Sport ele gasta mais do que precisa.

Já o consumo, beira o surreal. É fácil para o Niro se manter em médias na casa de 20 km/l. Mas um dos dias que mais me surpreendeu foi um trajeto urbano com trânsito leve e cerca de 20 km de rodagem. Nesse trecho ele fez 48,4 km/l, mesmo com subidas e descidas. Chega a ser inacreditável a miséria que ele faz com a gasolina.

Como ir além

A média geral do Kia Niro durante a semana de testes foi de 22,4 km/l considerando trechos de estrada e cidade em cerca de 500 km rodados. Só que, para atingir tal economia, ele te ensina alguns truques precisos. Sabe as borboletas atrás do volante? Não são para troca de marcha, mas sim para controlar o freio regenerativo.

Ele tem cinco níveis diferentes de atuação, indo do desligado, passando pelos níveis I, II e III, até o modo Max. Com ele desligado, o freio motor é muito sutil, deixando o Niro quase na banguela. Já os níveis vão aumentando a regeneração a cada estágio diferente. Já o Max só é acionado pressionando e segurando a borboleta esquerda.

Com ele pressionado totalmente, é possível até mesmo parar o Kia completamente e, automaticamente, ele aciona o autohold. Depois de dominada essa técnica, há várias situações em que você nem toca no pedal de freio, aproveitando para regenerar energia sempre que possível.

Dinâmica de hatch

Se reparar nas medidas, o Kia Niro está mais para hatch médio do que para um SUV. Especialmente porque ele fica no meio do caminho entre um SUV médio e um compacto. São 4,42 m de comprimento, 1,82 m de largura, 1,54 m de altura e 2,72 m de entre-eixos. Ou seja, ele é um carro relativamente baixo.

Como resultado, temos uma dinâmica de hatch. O Niro é voltado ao conforto, mas com uma pegada mais neutra. Não é um carro mole como alguns dos rivais chineses, mas também não tem a pegada esportiva de um Peugeot ou de um Volkswagen. É neutro e equilibrado em todos os aspecto.

A direção é bem calibrada, não pendendo nem para a dureza esportiva ou para a calibração leve e confortável. O mesmo vale para a suspensão que se comporta como um hatch. Ele tende a sair de frente relativamente fácil, mas algo perdoável a um carro com zero pretensões esportivas. A vantagem é que absorve bem os impactos, mesmo com rodas 18”.

O nível subiu

Longe de dizer que o acabamento do Kia Niro é ruim, mas a faixa de preço que ele se encontra já tem modelos com uma interna mais refinada. Ainda que, em questão de ergonomia, ele seja um exemplo a ser seguido. Temos material macio em toda porção superior do painel e das portas, mas não tão macio quanto os rivais.

Além disso, a textura usada na parte superior do painel e no apoio de braço é áspera, causando incômodo. Os bancos com revestimento em Altaica, feitos com fibras extraídas de folhas de eucalipto imitam couro, mas possuem uma textura muito aquém do esperado por um carro de R$ 200 mil.

Os plásticos usados são de qualidade e bem montados, como todo carro da Kia. O problema é só a referência que temos na categoria agora com os carros chineses. Em contrapartida, a Kia consegue ter ergonomia perfeita em seus carros. O volante e o banco possuem ajustes diversos tornando a posição de dirigir fácil de ser encontrada.

Além disso, a marca colocou um genial tabelier no centro do painel em que conta com comandos físicos para controlar a temperatura do ar-condicionado, além de outras funções. Mas, com o toque de um botão, ele se transforma para controlar o sistema de entretenimento, alterando o rotor para controle de volume e tune de rádio.

Além disso, ele tem botões físicos no console central para diversas funções necessárias, traz comandos fáceis no volante e controles de vidros e retrovisor da maneira tradicional. Outro truque é que basta ficar três segundos atrás da tampa do porta-malas com a chave no bolso que ele será aberto automaticamente.

A central multimídia, apesar de ter uma tela relativamente pequena para o local em que se posiciona, tem ótima definição, é fácil de mexer e tem visor de qualidade. Conta com Android Auto e Apple CarPlay sem fio. Contudo, se quiser usar o cabo, terá de se contentar com a conexão antiga, enquanto os carregadores são USB-C.

Parece menor do que é

Apesar de ser um carro de porte relativamente compacto, o Kia Niro é surpreendentemente espaçoso por dentro. Se eu, com 1,87 m de altura, me sentar atrás de um motorista de mesmo porte, sobram quatro dedos até as costas do banco. Claro que não é um latifúndio de espaço como o GAC GS4, mas é muito bom.

Há área suficiente para a cabeça, assim como para os ombros. Um passageiro no meio seria forçar a barra, como é na maioria dos carros. O porta-malas leva 425 litros e possui um prático piso que pode ser posicionado em duas alturas diferentes para dividir as cargas. Além disso, a cabine conta com vasta quantidade de porta-objetos.

Itens de série

A lista de equipamentos de série do Kia Niro SX Prestige é bem completa. Mas vale destaque para o altera de tráfego cruzado que faz um escândalo quando um carro passa pela traseira do SUV híbrido, mas também pisca o painel em vermelho e vibra o volante. Já o assistente de manutenção em faixa permite que você se mantenha centralizado ou não com um botão no volante.

De série, ele ainda conta com piloto automático adaptativo, seis airbags, faróis full-LED com acendimento automático, chave presencial, banco elétrico para o motorista, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, teto solar minúsculo, frenagem autônoma de emergência, faróis de neblina de LED e assistente de farol alto.

O SUV ainda traz central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, câmera de ré, ar-condicionado digital de duas zonas, alerta de saída segura, alerta de ponto cego, partida remota, auto-hold, tampa do porta-malas com abertura elétrica por proximidade, retrovisor fotocrômico e sensor de chuva.

Veredicto

O Kia Niro é um carro excelente no que se propõe. O consumo de combustível é baixíssimo, a dirigibilidade é agradável e bem neutra, além de ter boa oferta de itens de série e espaço interno suficiente. Contudo, quando você vê que carros chineses como GAC GS4 e GWM Haval H6 fazerem o mesmo com mais refinamento e porte bem mais generoso, aí fica difícil.

No final das contas, o Kia Niro é para quem, como eu, que prefere carros de menor porte. Especialmente para quem acha o Haval um busão para dirigir e sente que o GS4 também é grande demais. Só recomendo esperar um pouco porque a versão reestilizada já está em testes lá fora.

Você teria um Kia Niro? Conte nos comentários.

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