Nissan Kicks Exclusive parece de outra categoria, menos no motor | Avaliação

O posicionamento da Nissan com o novo Kicks no Brasil foi bem corajoso. A fabricante japonesa pegou um carro desenvolvido nos EUA para brigar com SUVs médios como VW Taos e Honda ZR-V e o encaixou no segmento de compactos. Em tudo que você pode ver, ele é melhor que o antigo. Mas o Nissan Kicks Exclusive é realmente o carro para comprar?

Enquanto a versão topo de linha Platinum fica em indecorosos R$ 199.000, a versão Exclusive de R$ 184.790 parece mais convidativa. Por isso é que foi a elegida para a primeira avaliação do Auto+ com o novo SUV compacto. No final das contas, dá para entender o valor que a marca pede. Mas algumas decisões, por outro lado, são compreensíveis.

Vamos falar do motor?

Toda vez que saia uma reportagem sobre o novo Nissan Kicks, havia uma enxurrada de comentários negativos sobre o motor 1.0 três cilindros turbo. Mas creio que metade deles deve ter amnésia e não lembra que na faixa de preço do Exclusive temos Hyundai Creta e Volkswagen T-Cross com o mesmo tipo de motor. No patamar do Platinum, não.

Trata-se do mesmo três cilindros 1.0 turbo do Renault Kardian. São saudáveis 125 cv e 22,4 kgfm de torque, gerenciados por um câmbio automatizado de dupla embreagem com seis marchas. A grande questão é que o Nissan Kicks virou um carro pesado. São 1.366 kg, praticamente 200 kg a mais que o antecessor e 100 kg a mais que um T-Cross.

Isso se deve a dois fatores. O primeiro é a plataforma CMF-B, que é uma variante de alto custo da RGMP do Renault Kardian. Outro ponto é que agora o Kicks tem medidas de SUV médio (e é vendido como tal nos EUA). São 4,36 m de comprimento, apenas 4 cm a menos que um Jeep Compass. Além de 1,80 m de largura. 1,62 m de altura e entre-eixos de 2,65 m.

Como resultado, o novo Nissan Kicks acelera de 0 a 100 km/h em sofridos 12,4 segundos. Lembra do Kicks Play? Aquele que todos julgam ser manco com seu 1.6 dos tempos do March? Ele é mais rápido, chegando à mesma velocidade em 11,8 segundos. Mas essa não é a sensação.

Números e realidade

A performance do Nissan Kicks 2026 é bem boa em âmbito urbano. As acelerações são a contento e ele embala sem dificuldade. Já na estrada, a coisa muda. Fica parecendo que falta reduzir mais uma marcha ou que o fôlego se foi. Não é comum ver a rotação do motor subindo com tudo e o carro pouco se movimenta além do que já estava fazendo.

O câmbio pode ser um dos culpados também. Me surpreendeu o fato de que a Nissan trocou uma confiável caixa CVT por um dupla embreagem que é traumático para os brasileiros. Só que, em geral, esse tipo de transmissão é bem rápida nas trocas, o que não acontece com o novo Kicks.

Ainda que ele faça as trocas (ascendentes e descendentes) no tempo certo, o funcionamento do câmbio é lento. É nítido o desengatar de uma marcha para o engate de outra. Parece que, para garantir a longevidade da transmissão e não ter um Powershift nas mãos, a Nissan usou o acerto mais conservador no câmbio. 

Esse acerto também visa melhorar o consumo. Oficialmente a Nissan revela que o Kicks faz 8,3 km/l na cidade com etanol e 9,9 km/l na estrada. Já com gasolina, o consumo urbano fica em 11,7 km/l e na cidade vai a 14,4 lm/l. Como no Kicks Play, os números com gasolina são bem melhores. Nos nossos testes com etanol, a média foi de 7,8 km/l, no entanto.

Bem nascido

A mesma sensação de refinamento de rodagem que o Renault Kardian passa, foi para o Nissan Kicks. Ele, de fato, parece um carro de categoria superior. O silêncio à bordo é algo muito latente nele, especialmente por conta do bom isolamento acústico vindo do motor e dos vidros.

O SUV roda bem em altas velocidades e com conforto. Mas a suspensão traseira é estranha. Talvez honrando seu nome Kicks, ele fica quicando a traseira em alta velocidade. A culpada também pode ser a exagerada roda de liga-leve de 19 polegadas com pneus finíssimos 225/45 R19. Com rodas de 18 polegadas, o conjunto ficaria melhor.

Com isso, temos o Kicks copiando todas as superfícies em que passa, tal qual um carro esportivo. Mas, como a suspensão é confortável, isso não se torna um penalizante para a sua coluna. Passageiros do banco traseiro, contudo, vão reclamar de sacolejo excessivo em ruas de paralelepípedo e até na estrada.

O volante, por outro lado, é muito bem acertado. Ele é mais neutro, não sendo excessivamente pesado ou leve demais. Na estrada, mantém o Kicks no lugar, enquanto nas manobras não se torna cansativo. Pontos para a marca pelo ótimo sistema ADAS e a correção de faixa sendo feita por pequenas vibrações no volante. 

Nova referência

Na categoria de SUVs compactos, sempre tivemos como referência de bom acabamento o Jeep Renegade e o CAOA Chery Tiggo 5X. O recém-chegado Omoda 5 também pode entrar nessa. Mas o Nissan Kicks se destaca com força. Basta pensar que, nos EUA, o comprador do modelo também pleiteia levar para casa um Jeep Compass. O sarrafo é bem mais alto.

Com isso, temos material sintético imitando couro no painel na parte superior, enquanto uma régua intermediária de tecido macio dá um interessante contraste à cabine. Os dois materiais também são usados em sessões diferentes das portas dianteiras, enquanto somente o tecido aparece na porta traseira.

O console central tem uma faixa em couro, enquanto o material que reveste o volante é de excelente qualidade – acima do Sentra até. Ele tem ajuste de altura e profundidade além de vários botões físicos que facilitam a vida. Aliás, a Nissan dá uma aula a toda fabricante que acha que um interior moderno não pode ter botões. O Kicks tem tudo que precisa.

Entre as saídas de ar-condiconado temos botões para avançar ou retroceder a música, controle físico para o volume do rádio e até acesso rápido à câmera 360. Logo abaixo, rotores para o ar-condicionado digital de uma zona – um sistema bem melhor que o tabelier touch do Platinum. Belo acerto da Nissan.

A única coisa que poderia não ser em formato de botão é a manopla de câmbio. Visualmente os quatro seletores para as marchas são mais bonitos do que uma alavanca tradicional ou um rotor, mas a usabilidade é pior e cria uma área muito vazia no console. O botão de partida também fica muito enfiado no console central.

Play comigo

Outro ponto em que a Nissan evoluiu drasticamente no novo Kicks é na qualidade das telas. O painel de instrumentos totalmente digital tem tela de excelente qualidade, menus de uso fácil e é visualmente bem agradável. Ele tem algumas luzes de emergência e alertas separados, o que traz um charme extra. Só o barulho da seta é baixo demais.

Destaque positivo são os botões na parte superior da tela para controle rápido do brilho. Bem que ele poderia ser conjugado à central multimídia, que exige controle de iluminação na própria tela. Por falar nela, a central conta com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, é bem rápida e fácil de mexer. O layout é um pouco antiquado, contudo.

Agora, se há algo que o novo Kicks perdeu feio para o Play é o espaço interno. O novo modelo não é mais referência, ficando próximo ao Hyundai Creta nesse quesito. É convidativo aos que vão dentro dele, mas não será o carro que vai arrancar elogios pelo espaço de pernas como seu antecessor fazia.

O porta-malas, que só tem abertura elétrica no modelo topo de linha, carrega 445 litros. Um ponto positivo é o alçapão que divide o espaço em dois andares para que mais cargas sejam colocadas.

Itens de série

Uma versão atrás do topo de linha, o Nissan Kicks Exclusive só te fará sentir falta do Platinum se fizer muita questão de teto solar ou da cor vermelha. Sim, a marca japonesa, inexplicavelmente, deixou o tom de vermelho só para o modelo top. A lista de itens de série contempla itens como chave presencial, seis airbags e sistema de câmeras 360 graus.

Há ainda controle de tração e estabilidade, faróis full-LED com acendimento automático e assistente de luz alta, assistente de partida em rampa, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, indicador de fadiga, sistema de manutenção em faixa, piloto automático adaptativo, freio a disco nas quatro rodas e frenagem autônoma de emergência.

Além disso, o SUV compacto traz vidros elétricos nas quatro portas, retrovisor elétrico com rebatimento automático, retrovisor central fotocrômico, ar-condicionado digital de uma zona, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, rodas de liga-leve de 19 polegadas, partida remota, autohold e carregador de celular por indução.

Veredicto

O Nissan Kicks ficou caro demais nessa nova geração, mas acompanha a tendência do mercado. Seus rivais estão em um patamar semelhante, mas a própria marca já aplica descontos bons nas concessionárias. Só que parte desse aumento se justifica pelo nível bem mais alto de automóvel que ele é em relação ao antecessor.

É um carro de construção e rodar muito mais sofisticado, além de acabamento primoroso. Ficou mais bonito, mas perdeu em espaço interno e continua fraco de performance como antes, só não é mais tão econômico. Mas se pensa em um SUV compacto, o Kicks agora é um dos melhores de sua categoria e faz muito rival parecer ainda mais caro que ele por conta da má qualidade que entregam. 

Você teria um Nissan Kicks? Conte nos comentários.