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Efeito VW Tera: os preços dos SUVs de entrada vão cair

O VW Tera estreou recentemente em quatro versões, oferecendo motor 1.0 aspirado ou 1.0 turbo, além de câmbio manual ou automático

9 min de leitura

Não sei se está certo tecnicamente. Mas arriscarei batizá-los de “suves subcompactos”. Como temos falado de “compactos” desde a chegada do Ford EcoSport, em 2003, nada mais indicado do que os novos players de entrada serem chamados de “sub”. Compactos são Jeep Renegade, VW T-Cross/Nivus, Nissan Kicks, Honda HR-V, Hyundai Creta, Fiat Fastback, Chevrolet Tracker, Renault Duster e (ufa!) Peugeot 2008. Esqueci algum?

Como sub, refiro-me a Fiat Pulse, Jeep Avenger, Renault Kardian e VW Tera. Em 2026, ainda deve estrear mais um concorrente importantíssimo, baseado no Chevrolet Onix. Toyota Yaris Cross e Honda WR-V terão portes compactos, não sub, com carrocerias além dos 4,3 metros.

Por se situarem entre R$ 100 mil a R$ 150 mil, abaixo do ticket médio de vendas de carros no Brasil, esses novos suvezinhos tendem a obter altos volumes de vendas, ocupando a lista dos modelos mais vendidos. No mapa de calor, entretanto, as versões mais procuradas estarão na faixa de R$ 115 mil a R$ 125 mil. E isso é preço de hatch e sedan compacto, o que respalda a tese de vendas em altos volumes.

Volkswagen Tera High prata parado de traseira
Volkswagen Tera High [Auto+ / João Brigato]

Vou dar um resumo básico: a VW posicionou o Tera já no evento de lançamento como um futuro best-seller, colocando-o na mesma prateleira de Fusca e Gol. Já a Renault voltou a fabricar um Renault legítimo – e não um Dacia (Logan, Sandero, Duster) –, entendendo que não é só custo/benefício que vende carro. Produto bom também vende.

Já a Fiat esperou a VW divulgar seus preços para anunciar o que faria com o Pulse. E anunciou a linha 2026. A Jeep… correu pra confirmar a produção do Avenger no Brasil. É a única marca com status de “premium” entre os suves subcompactos, o que refletirá em uma estratégia bem específica para escolher seu posicionamento.

frente do Fiat Pulse Audace 2026 branco
[Divulgação]

Proponho aqui uma análise estratégica do que cada montadora deve fazer daqui pra frente nesse novo segmento de subcompactos que surgiu. E faço essa análise não sob a ótica de virtudes e defeitos dos produtos, e sim por aquilo que conheço de Volks, Renault e Stellantis.


A VW foi agressiva no line-up

Fiquei surpreso quando vi a Volkswagen anunciar a versão de entrada do Tera por R$ 100 mil. A ação me lembrou o comportamento de um autêntico rottweiler, só para aproveitar a essência germânica. Todo mundo sabe a força e a capacidade atlética que ele tem quando entra numa briga. Mas é um cara que geralmente não late e nem rosna. Fica na dele. Se alguém se aproximar, ele encara e permanece em silêncio.

Desta vez, o rottweiler chegou no meio da muvuca já mostrando os dentes e botando banca. A VW tradicional que eu conheço, sobretudo aquela que abdicou de volume e só vinha se preocupando com margem e rentabilidade, teria lançado o Tera somente com motor 1.0T – R$ 116.990 o MT e R$ 126.990 o AT. Ponto. Mas ela introduziu a versão 1.0 manual aspirada, quebrando a barreira psicológica abaixo dos R$ 100 mil.

Volkswagen Tera High prata parado de frente com muro cinza ao fundo
Volkswagen Tera High [Auto+ / João Brigato]

Imagine o que vai explodir nas vendas pra locadoras, custando só 5% a mais que Polo Track? Esse carro a R$ 100 mil sinaliza o seguinte: “o Tera mais vendido, que será o 1.0 turbo automático, de R$ 127 mil, terá uma boa margem nas promoções de varejo… se necessário”. Vou explicar.

Quando você usa o Polo como exemplo, que compartilha a mesmíssima receita mecânica do Tera em motores e câmbios (custos de produção semelhantes, portanto), a diferença entre o modelo básico e o turbinho é de 12,5%: o Polo Track 1.0 MT custa R$ 96 mil e o Sense 1.0T AT sai por R$ 108 mil. Agora tome o modelo de Tera de R$ 100 mil como referência: se você fizer uma regra de três, o Tera Comfort 1.0T AT poderia estar sendo vendido a R$ 112,5 mil. E não a R$ 127 mil.

Volkswagen Tera Comfort azul parado de frente com muro cinza ao fundo
Volkswagen Tera Comfort [Auto+ / João Brigato]

Quando se tem um baita produto nas mãos, como é o caso do VW Tera, você não precisa entregar a rapadura de cara e já colocar um preço público matador. A regra ensina a colocar o cara mais caro do que precisaria e ir calibrando as promoções se necessário, até porque haverá compradores, os early adopters, que vão topar pagar os R$ 127 mil. E isso impacta positivamente na rentabilidade do produto.

Tudo correto, legítimo, estratégico. Nada de errado nisso. Daqui a alguns meses, quando o produto deixar de ser novidade e entrar na rotina da competição, você começa com as campanhas promocionais.
Anote aí: no segundo semestre, você vai cansar de ver “taxa zero na compra de Tera zero km”, “R$ 5 mil de bônus se você fechar neste final de semana”, “a rede VW vai pagar tabela Fipe no seu usado”, “IPVA e seguro grátis” etc…

A rede autorizada vai receber muitos incentivos da fabricante para trabalhar essas campanhas promocionais. Você sabia disso, né? TODAS essas campanhas não são iniciativas de concessionárias, e sim ações de vendas custeadas pelo fabricante. A VW quer transformar o Tera em um supercampeão de vendas. Ela tem produto, escala de produção e gordura pra trabalhar preço. E, se eu já sei disso, pode ter certeza de que Renault e Stellantis descobriram muito antes do que eu.

Renault Kardian mais barato: pode esperar

O que eu esperava que a Volks fizesse, a Renault fez: o Kardian nasceu só com motor turbo, a partir de R$ 112 mil. Quando vem com câmbio automático, ele salta pra R$ 124 mil. Por aquilo que eu pressupus que vai acontecer com o Tera, a tendência é que caia o preço do Kardian.Não estou comparando produtos, mas tendências de vendas. Quem tem mais prestígio na produção de suves no Brasil?

Quantos Nivus/T-Cross vendem versus Duster? A conta será simples: por mais virtuoso que o Kardian se apresente, as vendas só vão decolar se o Kardian Evolution EDC (primeiro catálogo com AT) descer do patamar de R$ 120 mil, onde há outra barreira psicológica. O Tera AT custa R$ 127 mil e deve ter várias campanhas de varejo no futuro. Com esse modelo na mesma faixa, a “tendência”, grosso modo, é só vender VW.

Renault Kardian Evolution MT laranja parado de frente com muro e árvore ao fundo - Os SUVs novos mais baratos em 2025
Renault Kardian Evolution MT [Auto+ / Rafael Dea]

Se eu reduzo o preço do Renault abaixo dos R$ 120 mil, eu amplio a parcela de compradores que vai ponderar a opção do Kardian. Na prática, a chegada de um concorrente… vai fazer bem aos volumes de vendas do Renault Kardian. Fiat responde à altura. Assim que a VW divulgou os preços do Tera, a Fiat, que nunca teve vergonha de ser ágil nas respostas à concorrência – por isso virou líder de mercado há tantos anos –, reagiu e mostrou suas armas na formulação de preços do Pulse 2026.

Pra começar: a versão Drive 1.3 MT, de entrada, retornou ao menu, custando R$ 99 mil. Ou seja, eu tenho um motor de maior cilindrada que meu concorrente (VW 1.0) e custo R$ 1.000 a menos. Nada mau. Quanto à versão mais procurada pelo consumidor de varejo, a Turbo 200 AT, o preço divulgado foi de R$ 117 mil – o que já é bem razoável em custo/benefício. Mas se você quiser discutir tecnologia, a Fiat responde com as versões Hybrid (a partir de R$ 132 mil).

Fiat Pulse Drive 2026  branco parado de frente
Fiat Pulse Drive 2026 [Divulgação]

O Pulse é atualmente o 18º modelo mais vendido do Brasil, praticamente empatado com o VW Nivus, mas atrás de vários suves compactos, como VW T-Cross, Hyundai Creta, Honda HR-V, entre outros. Acho que ela só não vende um volume maior porque não quer, visto que dificilmente você vê campanhas agressivas de varejo para o Pulse. Mas que há margem para fazê-las, há. O real motivo, aliás, é que vale mais a pena pra Stellantis vender suve da marca Jeep…


Jeep Avenger: o único que tem grife

O Jeep Avenger nasceu para substituir o Renegade. Só que a Stellantis resolveu estender a vida de seu suve mais notório e incluiu o Avenger como o novo modelo de entrada. A julgar pela atual composição de preços, ele deverá ser um concorrente à altura do Tera. Mais do que isso. Terá uma vantagem que o modelo da VW não possui: ele tem grife. Quem compra suve, no Brasil, geralmente o faz em busca de imagem. E imagem, vamos combinar, a marca Jeep tem.

Por obviedade, onde o Avenger vai se encaixar? Ele terá de ser mais caro que Fiat Pulse e mais barato que Jeep Renegade. Quando esse movimento começou a se delinear, eu entendia que a Stellantis aniquilaria as versões baratas do Renegade para abrir espaço ao Avenger. Mas não foi o que aconteceu!

Jeep Avenger [Auto+ / João Brigato]

A versão de entrada do Renegade voltou a se chamar Sport e custa R$ 118 mil. O Renegade Altitude estreou a R$ 143 mil, cerca de R$ 10 mil a menos que o anterior. Como assim? Você tem um carro novo pra lançar nesse nicho e ainda reduz o preço do modelo que está acima? O que tudo isso quer dizer?

Na minha opinião, vendo a faixa de valores por onde transitam Pulse e Renegade, o Jeep Avenger deve estrear rigorosamente no mesmo patamar de preços do VW Tera, exceto pela versão de entrada de R$ 100 mil, que o Jeep não terá. E tem o Onix SUV pra chegar. Isso vai ficar bem interessante.

Como você avalia que será o desempenho do VW Tera ao longo do ano? Escreva sua opinião nos comentários!


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1 comentário em “Efeito VW Tera: os preços dos SUVs de entrada vão cair”

  1. Kuririn Agiota

    Não tem nada de agressivo no preço do Tera. É um compacto apertado, 1.0, aspirado, com calotas, por 103.990. Vocês são doidos? O Pulse é 1.3, com rodas de liga leve e 98.990. Compare.

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Rafael Dea

Cursou Jornalismo para trabalhar com carros. Formado em 2005, atuou na mídia impressa por mais de 16 anos e também em veículos on-line. Embora tenha uma paixão por caminhonetes, não dispensa um esportivo — inclusive, foi o único brasileiro a participar do lançamento global do Porsche Panamera GTS.

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