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Desagrado em grupo

GM, VW, Toyota e Stellantis pressionam Lula contra benefício a carros montados a pedido da BYD

Montadoras tradicionais acusam proposta de beneficiar a BYD e ameaçar empregos e investimentos no Brasil

5 min de leitura

As quatro das maiores montadoras instaladas no Brasil — GM, Volkswagen, Toyota e Stellantis (Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën) enviaram uma carta ao presidente Lula (PT) em 15 de julho pedindo que o governo federal não conceda incentivos fiscais para veículos que desembarcam desmontados e são apenas montados por aqui. 

A proposta é vista como uma ameaça à indústria nacional e foi motivada por um pedido da BYD, que está prestes a iniciar operações na fábrica de Camaçari (BA). A discussão está em torno de dois regimes de importação: SKD (semi-knocked down) e o CKD (completely knocked down). Em ambos os casos, o carro não chega pronto. 

No SKD, ele vem parcialmente montado, com carroceria já pintada, por exemplo, e recebe acabamentos finais no Brasil. Já no CKD, a desmontagem é total e cada peça vem separada, como um grande kit de Lego, e a montagem acontece do zero no Brasil.

Linha de montagem da BYD em Camaçari (BA) com Song Pro cinza
Linha de montagem da BYD em Camaçari (BA) [Divulgação]

Hoje, esses regimes já têm uma alíquota de imposto reduzida, mas o governo planeja aumentá-la gradualmente até 2028, chegando a 35% para todos os tipos de veículos. 

A BYD, no entanto, pediu que o governo permaneça com os impostos baixos até lá em 10% para o SKD e 5% para o CKD, com base em critérios como eficiência energética e autonomia elétrica. O objetivo da marca é acelerar a operação na planta da Bahia, onde os carros inicialmente serão montados com kits vindos da China.

Desagradou quem produz aqui

A proposta desagradou profundamente as montadoras que já produzem localmente com processos mais completos e complexos. Para elas, deixar esse tipo de incentivo para quem só monta carros com peças importadas é uma injustiça e coloca em risco os investimentos feitos no país.

Chevrolet Onix na fábrica da GM em Gravataí [divulgação]

Na carta enviada a Lula, as marcas afirmam que essa política pode gerar desemprego, reduzir a nacionalização de peças, prejudicar fornecedores e até desestimular a inovação e o avanço tecnológico da engenharia brasileira. 

Segundo o grupo, os incentivos à importação desmontada não é um caminho de transição para industrialização, como argumenta a BYD, mas sim uma forma de “operações permanentes de montagem superficial”, que diminuem o valor agregado dos produtos fabricados no país.

Mais barato para quem importa, mais caro para quem produz

Ou seja, a discussão é sobre a forma de produção de carros no Brasil e injustiça para quem paga mais por isso. A BYD quer continuar com os impostos bem baixos até 2028 para carros que chegam desmontados, o que permitiria vender mais barato sem ter que investir logo em uma fábrica completa. 

Fábrica Volkswagen´[divulgação]
Fábrica Volkswagen´[divulgação]

GM, Volkswagen, Toyota e Stellantis, por outro lado, argumentam que isso cria uma concorrência desleal e perda de competitividade, já que elas fabricam quase tudo por aqui, pagam mais impostos, contratam milhares de trabalhadores e movimentam a cadeia de autopeças no país. 

Se o governo aceitar o pedido da BYD, outras montadoras, nesse caso de origem chinesa, que tem interesse em montar carros no Brasil com kits prontos, como Omoda, Zeekr, GAC e Geely, também poderão ser beneficiadas.

Renault Kardian na linha de produção da Renault
Fábrica da Renault [Divulgação]

As quatro montadoras também ressaltam que já anunciaram R$ 180 bilhões em investimentos no Brasil, para a introdução de novos produtos, nacionalização de peças e sistemas híbridos. E avisam: uma concorrência desigual pode colocar parte desses aportes em risco.

Já a BYD afirma que irá começar a produção nacional gradualmente após um ano em regime SKD, com nacionalização de peças. O governo ainda não tomou uma decisão, mas segundo o Estadão, o tema será pauta no Comitê Executivo de Gestão da Camex na próxima quarta-feira (30), que é responsável por definir a política de comércio exterior.

Leia a carta assinada pelos presidentes das marcas (Emanuelle Cappellano da Stellantis, Santiago Chamorro da General Motors, Ciro Possobom da Volkswagen e Evandro Maggio da Toyota) enviada ao Presidente Lula:

“É nosso dever alertar, Senhor Presidente, que esse ciclo virtuoso de fortalecimento da indústria nacional está sendo colocado em risco e sofrerá forte abalo se for aprovado o incentivo à importação de veículos desmontados para serem acabados no país. 

Ao contrário do que querem fazer crer, a importação de conjuntos de partes e peças não será uma etapa de transição para um novo modelo de industrialização, mas representará um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer, reduzindo a abrangência do processo produtivo nacional e, consequentemente, o valor agregado e o nível de geração de empregos. 

Por uma questão de isonomia e busca de competitividade, essa prática deletéria pode disseminar-se em toda a indústria, afetando diretamente a demanda de autopeças e de mão de obra. Seria uma forte involução, que em nada contribuiria para o nível tecnológico de nossa indústria, para a inovação ou para a engenharia nacional. Representaria, na verdade, um legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica”

Qual é sua opinião sobre as alíquota baixas para montadoras que trazem os carros desmontados? Deixe sua opinião nos comentários!


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Luiz Forelli

Estudante de jornalismo, sempre foi fascinado por carros desde pequeno. Passava horas dirigindo no colo da família dentro da garagem ou empurrando carrinhos pela casa, como se já soubesse que seu caminho estaria entre motores e rodas. Hoje, realiza o sonho de infância escrevendo sobre o universo automotivo com a mesma empolgação de quem brincava com um volante imaginário. No lugar do sangue, corre gasolina, e isso nunca foi segredo.

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