As quatro das maiores montadoras instaladas no Brasil — GM, Volkswagen, Toyota e Stellantis (Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën) enviaram uma carta ao presidente Lula (PT) em 15 de julho pedindo que o governo federal não conceda incentivos fiscais para veículos que desembarcam desmontados e são apenas montados por aqui.
A proposta é vista como uma ameaça à indústria nacional e foi motivada por um pedido da BYD, que está prestes a iniciar operações na fábrica de Camaçari (BA). A discussão está em torno de dois regimes de importação: SKD (semi-knocked down) e o CKD (completely knocked down). Em ambos os casos, o carro não chega pronto.
No SKD, ele vem parcialmente montado, com carroceria já pintada, por exemplo, e recebe acabamentos finais no Brasil. Já no CKD, a desmontagem é total e cada peça vem separada, como um grande kit de Lego, e a montagem acontece do zero no Brasil.

Hoje, esses regimes já têm uma alíquota de imposto reduzida, mas o governo planeja aumentá-la gradualmente até 2028, chegando a 35% para todos os tipos de veículos.
A BYD, no entanto, pediu que o governo permaneça com os impostos baixos até lá em 10% para o SKD e 5% para o CKD, com base em critérios como eficiência energética e autonomia elétrica. O objetivo da marca é acelerar a operação na planta da Bahia, onde os carros inicialmente serão montados com kits vindos da China.
Desagradou quem produz aqui
A proposta desagradou profundamente as montadoras que já produzem localmente com processos mais completos e complexos. Para elas, deixar esse tipo de incentivo para quem só monta carros com peças importadas é uma injustiça e coloca em risco os investimentos feitos no país.

Na carta enviada a Lula, as marcas afirmam que essa política pode gerar desemprego, reduzir a nacionalização de peças, prejudicar fornecedores e até desestimular a inovação e o avanço tecnológico da engenharia brasileira.
Segundo o grupo, os incentivos à importação desmontada não é um caminho de transição para industrialização, como argumenta a BYD, mas sim uma forma de “operações permanentes de montagem superficial”, que diminuem o valor agregado dos produtos fabricados no país.
Mais barato para quem importa, mais caro para quem produz
Ou seja, a discussão é sobre a forma de produção de carros no Brasil e injustiça para quem paga mais por isso. A BYD quer continuar com os impostos bem baixos até 2028 para carros que chegam desmontados, o que permitiria vender mais barato sem ter que investir logo em uma fábrica completa.
![Fábrica Volkswagen´[divulgação]](https://www.automaistv.com.br/wp-content/uploads/2024/09/Fabrica-Volkswagen-2_edited-1320x792.webp)
GM, Volkswagen, Toyota e Stellantis, por outro lado, argumentam que isso cria uma concorrência desleal e perda de competitividade, já que elas fabricam quase tudo por aqui, pagam mais impostos, contratam milhares de trabalhadores e movimentam a cadeia de autopeças no país.
Se o governo aceitar o pedido da BYD, outras montadoras, nesse caso de origem chinesa, que tem interesse em montar carros no Brasil com kits prontos, como Omoda, Zeekr, GAC e Geely, também poderão ser beneficiadas.

As quatro montadoras também ressaltam que já anunciaram R$ 180 bilhões em investimentos no Brasil, para a introdução de novos produtos, nacionalização de peças e sistemas híbridos. E avisam: uma concorrência desigual pode colocar parte desses aportes em risco.
Já a BYD afirma que irá começar a produção nacional gradualmente após um ano em regime SKD, com nacionalização de peças. O governo ainda não tomou uma decisão, mas segundo o Estadão, o tema será pauta no Comitê Executivo de Gestão da Camex na próxima quarta-feira (30), que é responsável por definir a política de comércio exterior.
Leia a carta assinada pelos presidentes das marcas (Emanuelle Cappellano da Stellantis, Santiago Chamorro da General Motors, Ciro Possobom da Volkswagen e Evandro Maggio da Toyota) enviada ao Presidente Lula:
“É nosso dever alertar, Senhor Presidente, que esse ciclo virtuoso de fortalecimento da indústria nacional está sendo colocado em risco e sofrerá forte abalo se for aprovado o incentivo à importação de veículos desmontados para serem acabados no país.
Ao contrário do que querem fazer crer, a importação de conjuntos de partes e peças não será uma etapa de transição para um novo modelo de industrialização, mas representará um padrão operacional que tenderá a se consolidar e prevalecer, reduzindo a abrangência do processo produtivo nacional e, consequentemente, o valor agregado e o nível de geração de empregos.
Por uma questão de isonomia e busca de competitividade, essa prática deletéria pode disseminar-se em toda a indústria, afetando diretamente a demanda de autopeças e de mão de obra. Seria uma forte involução, que em nada contribuiria para o nível tecnológico de nossa indústria, para a inovação ou para a engenharia nacional. Representaria, na verdade, um legado de desemprego, desequilíbrio da balança comercial e dependência tecnológica”
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