A Europa pode estar prestes a reescrever uma das decisões mais importantes da história recente da indústria automotiva. A partir de 2023, o continente tinha um caminho considerado definitivo. A venda de novos carros a combustão estaria proibida em 2035. Apenas veículos zero CO2 poderiam ser comercializados. Porém tudo isso pode mudar em breve.
As mudanças nas regras fazem parte do ambicioso pacote climático chamado de Fit for 55, que tem como meta reduzir emissões e acelerar a eletrificação. Só que a realidade bateu à porta. E ela veio com atraso na infraestrutura, consumidores resistentes ao preço dos elétricos e principalmente fabricantes em desvantagem para a China.
Além disso, a pressão política de gigantes como Alemanha e Itália e um avanço real das tecnologias de combustíveis sintéticos e biocombustíveis também forçam ainda mais essa porta. Agora, a Comissão Europeia admite oficialmente algo impensável há poucos anos. A regra será revisada.

O anúncio, que estava previsto para 10 de dezembro, foi adiado para 16 de dezembro e pode até escorregar para 2026, segundo autoridades do bloco. Ou seja, os veículos elétricos que estava previsto para ser obrigatório nas lojas em 2035 começa a perder força e não é tão obrigatório assim.
Como começou o plano do fim dos motores a combustão
A legislação aprovada em 2023 aborda que todos os veículos novos vendidos na União Europeia a partir de 2035 deveriam emitir zero gramas de CO2. Na prática, isso elimina todos os veículos a gasolina, diesel e até híbridos plug-in. Só veículos elétricos ou movidos por hidrogênio se encaixam na regra.

Esse projeto segue um cronograma agressivo que prevê a redução de 55% nas emissões já em 2030, um período de transição entre 2025 e 2029 para forçar a adoção de híbridos plug-in.
A ideia parece sólida no papel, tecnicamente alinhada às metas climáticas, mas as exigências começaram a encontrar resistência conforme a economia e a indústria mostravam dificuldades para acompanhar o ritmo imposto pela legislação.
A reviravolta

O que aconteceu agora recentemente é que querem voltar atrás. Uma carta enviada pela Alemanha, Itália, Hungria, Polônia, Eslováquia, Bulgária e República Tcheca à Comissão Europeia alertaram que a indústria automotiva local não resistiria a um banimento tão rígido. Vale lembrar que esses países juntos representam quase metade da população do bloco.
Para eles, o setor está passando por energia cara, falta de baterias, produção limitada e baixa procura por elétricos. Forçar uma transição total colocaria milhares de empregos em risco e abriria a porta para uma invasão ainda maior de carros chineses.
![bZ4X [divulgação]](https://www.automaistv.com.br/wp-content/uploads/2023/05/toyota_bz4x_151_edited-1200x719.jpg)
Esses países passaram a defender o princípio da neutralidade tecnológica. A ideia é a seguinte: a União Europeia define a meta ambiental, mas não escolhe a tecnologia que deve cumprir essa meta. Segundo eles, o bloco deveria permitir soluções variadas.
Por exemplo, os países citam os híbridos, biocombustíveis, hidrogênio, combustíveis sintéticos e motores a combustão capazes de operar com emissões neutras. O objetivo deveria estar no resultado final, e não na tecnologia obrigatória.

A pressão ganhou apoio político. A nova coalizão de governo da Alemanha reforçou o pedido. A Itália classificou o banimento como irrealista. E a Comissão Europeia começou a admitir publicamente que a regra precisaria ser revisada.
Os biocombustíveis
Ao mesmo tempo, as tecnologias que estavam distantes começaram a crescer para mudar esse cenário. Por exemplo, projetos como a usina de Haru Oni, no Chile, começou a produzir gasolina sintética a partir de energia renovável. Com isso, o CO2 liberado na queima é o mesmo capturado na produção, criando um ciclo fechado.

A BMW também passou a abastecer parte de sua frota de fábrica com HVO100, um diesel vegetal capaz de reduzir emissões em até 90%. E o próprio Brasil se tornou referência internacional ao aumentar o papel do etanol como combustível limpo.
Ou seja, esse crescimento dos biocombustíveis e até 2035 isso deve se expandir, mostra a Comissão Europeia que a mobilidade neutra em carbono não precisa depender exclusivamente de carros elétricos. Tecnologias limpas podem conviver com motores a combustão. E isso abriu espaço para que a proibição absoluta deixasse de fazer sentido.

A lógica é: se você pode abastecer um carro a combustão com um combustível que não aumenta o CO2 atmosférico, por que proibir a tecnologia? Esse argumento ganhou força. E acabou se tornando decisivo para a Comissão Europeia admitir que o banimento pode ser flexibilizado.
O avanço dos chineses também é uma preocupação
Além das pressões políticas, há um elemento que ninguém no bloco pode ignorar. A China domina o mercado de carros elétricos com modelos acessíveis e competitivos.

Enquanto fabricantes europeus estão passando por custos altíssimos, dificuldade de fornecimento e vendas abaixo do esperado, as empresas chinesas crescem cada vez mais e ainda por cima oferece um valor que a indústria local não consegue igualar no curto prazo.
Permitir motores híbridos, combustão limpa e combustíveis sintéticos é, para muitos governos, uma forma de dar tempo para que a indústria europeia se reorganize. Ao mesmo tempo, a Comissão Europeia estuda medidas para fortalecer o setor, como incentivos para elétricos corporativos, revisão da tarifa de carbono nas fronteiras e ajustes no pacote automotivo.

A publicação das novas propostas estava prevista para 10 de dezembro, mas foi adiada para 16 de dezembro. Internamente, já se admite que o anúncio pode escorregar para 2026 de tão complexa que a negociação se tornou.
O que a Comissão Europeia está preparando
Segundo Apostolos Tzitzikostas, comissário de Transportes da UE, a nova regra será aberta a todas as tecnologias. Isso quer dizer que carros a combustão e híbridos podem continuar sendo vendidos após 2035 e os combustíveis sintéticos e biocombustíveis avançados podem entrar no pacote. A meta ambiental continua, porém mais flexível.
A reação das montadoras

Nada foi confirmado, mas essa informação é um belo de um respiro para os fabricantes europeus, sem dúvida alguma. Muitas marcas têm planos avançados de eletrificação, mas sabem que o mercado real não evolui no ritmo esperado.
O setor pede mais prazo, maior flexibilidade tecnológica, incentivos para híbridos plug-in e reconhecimento do hidrogênio e dos combustíveis sintéticos como alternativas válidas dentro da meta climática. A revisão proposta pela Comissão, na prática, atende a quase todas essas demandas.
O que muda na prática para o consumidor europeu

Se a revisão for aprovada, o cenário a partir de 2035 vai ficar muito diferente do que se imaginava inicialmente. Os carros elétricos continuam, claro, mas os motores a combustão não desaparecem do mapa, abrindo espaço para que híbridos ganhem sobrevida e permaneçam à venda mesmo depois do prazo antes considerado limite.
Os veículos usados seguem totalmente liberados, sem qualquer restrição de circulação, e a infraestrutura para elétricos pode crescer com menos pressão imediata, já que o mercado não dependerá exclusivamente deles.

Para as montadoras, o efeito mais direto é uma liberdade maior de estratégia, permitindo que cada marca encontre seu próprio ritmo de eletrificação.
Em vez de um salto único e obrigatório rumo ao elétrico, as fabricantes europeias passariam a adotar uma transição muito mais escalonada, o que afetaria os produtos e consequentemente a entrega para outros países.
Podem adiar o banimento para 2040?

Sim. Alguns países defendem exatamente isso, especialmente a Alemanha. A revisão abre margem para prorrogar o limite ou criar metas intermediárias mais suaves.
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