F1 à brasileira

Copersucar-Fittipaldi: a equipe que foi o grande sonho de Wilsinho

Fundada em 1975 pelos irmãos Fittipaldi, a Copersucar sofreu muita perseguição, mas seu legado é eterno na Fórmula 1

Copersucar-Fittipaldi FD02 [divulgação]
Copersucar-Fittipaldi FD02 [divulgação]

Durante muitos anos, o nome Copersucar foi motivo de chacota pelos brasileiros. A equipe, que até hoje é a única construtora sul-americana da Fórmula 1, merecia mais reconhecimento da mídia, principalmente pelo pioneirismo encabeçado por Wilson Fittipaldi Jr., que faleceu na última semana, aos 80 anos

Por isso, antes de dizer que o time brasileiro foi um fracasso, é importante entender as dificuldades do projeto. E, durante suas oito temporadas na F1, a Copersucar-Fittipaldi teve grandes resultados na categoria, terminando o campeonato de 1980 à frente da Ferrari.

Começo do sonho da Copersucar

Para entender como Wilsinho Fittipaldi criou uma equipe de F1 brasileira, é preciso voltar alguns anos no tempo. Durante a década de 1960, ele e seu irmão, Emerson Fittipaldi, criaram alguns projetos históricos no Brasil. Juntos, eles criaram o Fitti-Vê, que foi usado na Fórmula Vê, categoria de base e que existe até hoje, agora chamada de Fórmula Vee.

Copersucar-Fittipaldi FD01 [divulgação]
Copersucar-Fittipaldi FD01 [divulgação]

Wilsinho projetou algumas versões modificadas do VW Fusca para competir em provas brasileiras. Um dos mais famosos foi o Fitti-Volks, um Fusca semi-tubular com motor boxer de oito cilindros. Ou seja, Wilsinho tinha experiência em criar carros de corrida, e isso foi fundamental para a criação da Copersucar.

Ida para a Fórmula 1

Por mais que Wilsinho fosse três anos mais velho que Emerson, ele só entrou na Fórmula 1 depois. Em 1972, o piloto brasileiro fez sua estreia na categoria principal, a bordo dos carros da Brabham. Só que Wilson era um piloto pagante, que precisava pagar pelo seu assento na categoria, em vez de ter um salário fixo.

Copersucar-Fittipaldi F6A [divulgação]
Copersucar-Fittipaldi F6A [divulgação]

Aos poucos, isso começou a irritar o piloto, que decidiu deixar de levar dinheiro para uma equipe estrangeira, para que pudesse investir em seu sonho de ter sua própria escuderia. Wilsinho correu até 1973 na Brabham, e durante 1974 começou o projeto de seu time.

Nasce a Copersucar

Graças ao patrocínio da empresa brasileira Copersucar, a escuderia estreou na Fórmula 1 em 1975 com este nome. No primeiro ano, apenas Wilsinho correu pelo time, e teve seu melhor resultado no GP dos Estados Unidos, chegando no décimo lugar.

Fittipaldi F7 [divulgação]
Fittipaldi F7 [divulgação]

Para 1976, uma grande surpresa. Bicampeão mundial e vice-campeão em 1975, Emerson Fittipaldi decidiu deixar a McLaren para ser o primeiro piloto da Copersucar, com Wilsinho passando a ser o chefe de equipe. Ingo Hoffmann foi chamado para ser o segundo piloto, mas só competiu no GP Brasil daquele ano, a primeira prova da temporada. 

Em seu segundo ano, a Copersucar somou três pontos, todos com Emerson, e ficou no 11º lugar na tabela de construtores. Para a terceira temporada, Emerson e Ingo permaneceram no time, com o segundo piloto correndo apenas nas duas primeiras corridas, na Argentina e no Brasil. Emerson foi quarto nessas duas corridas, e Ingo quase somou seu primeiro ponto em Interlagos, mas terminou em sétimo – na época, apenas os seis primeiros marcavam pontos.

Fittipaldi F7 [divulgação]
Fittipaldi F7 [divulgação]

Mesmo sem pontuar com regularidade, a Copersucar fez um ano melhor em 1977, terminando o campeonato em nono lugar, com 11 pontos marcados, novamente todos com Emerson. Este era um sinal de que o time estava evoluindo, e para 1978, a equipe brasileira optou por correr apenas com o Fittipaldi bicampeão do mundo.

E esta foi a melhor temporada do time brasileiro, ficando em sétimo lugar no campeonato de construtores, com 17 pontos, à frente de Williams e McLaren. Emerson conquistou o primeiro pódio da equipe em Interlagos, chegando em segundo lugar. E assim, em 1979, havia mais expectativa na equipe, mas o time foi apenas o 12º no mundial de construtores, com somente um ponto.

Fittipaldi F7 [divulgação]
Fittipaldi F7 [divulgação]

Novo nome

Em 1980, a Copersucar mudou de nome. Sem o patrocínio da cooperativa de açúcar, a equipe passou a ser chamada de Fittipaldi. Neste ano, o time teve dois pilotos durante todo o ano, com Emerson Fittipaldi e Keke Rosberg. Emerson conquistou dois pódios, nos GPs da Argentina e de Long Beach, sendo terceiro em ambas. Essa posição nos EUA marcou o último pódio do brasileiro na Fórmula 1.

Com 11 pontos conquistados, a Fittipaldi conseguiu ficar em oitavo no campeonato dos construtores, à frente da McLaren e da Ferrari. Mesmo sendo menosprezada pela imprensa da época, foi um resultado muito importante, já que McLaren e Ferrari tinham um orçamento muito maior, mas a equipe brasileira conseguiu superá-las.

Fittipaldi F8c [divulgação]
Fittipaldi F8c [divulgação]

No entanto, a situação financeira do time era delicada. Os irmãos Fittipaldi acumulavam dívidas e, por conta da cobrança surreal dos brasileiros, estava cada vez mais difícil arrumar patrocínios. Sem contar que a Fórmula 1 ficava mais cara a cada ano, com os carros asa sendo mais caros, e os motores turbo começavam a se tornar os preferidos, sendo mais caros que o clássico Ford-Cosworth V8.

Sendo assim, o ano de 1981 resultou na perda de Emerson Fittipaldi, que deixou de correr pela equipe. O finlandês Keke Rosberg seguiu no time, mas seu companheiro foi o brasileiro Chico Serra. A equipe não marcou nenhum ponto, e só disputou nove das 15 etapas daquele ano.

Fittipaldi F9 [divulgação]
Fittipaldi F9 [divulgação]

Sem dinheiro, a Fittipaldi chegou a 1982 com apenas um carro disputando o campeonato, com Chico Serra. Rosberg foi para a Williams, onde seria campeão naquele mesmo ano. Chico pontuou apenas no GP da Bélgica, chegando em sexto. Foi o único ponto da equipe no ano todo, o último conquistado por ela, que encerrou os trabalhos no final daquela temporada.

Legado da Copersucar-Fittipaldi 

Passados mais de 40 anos desde o fim da equipe, talvez hoje a Copersucar-Fittipaldi tenha mais reconhecimento do que quando corria na Fórmula 1. A iniciativa de Wilsinho foi corajosa, já que nunca foi fácil competir na categoria máxima do automobilismo.

Fittipaldi F9 [divulgação]
Fittipaldi F9 [divulgação]

E o time, que era sediado em frente ao portão 7 de Interlagos, fez sim um bom papel na categoria. Ao analisarmos as equipes atuais, a Haas nunca conquistou um pódio em seus oito anos de categoria. Um pouco antes, as nanicas HRT e Caterham nunca pontuaram na categoria, mesmo com metade do grid marcando pontos. Sem contar outros times com péssimos desempenhos do passado, como a Andrea Moda, que não conseguia nem se classificar para as corridas.

A Copersucar correu. E correu bem. É, até hoje, a única equipe de Fórmula 1 com sede fora da Europa. Por isso, o legado de Wilsinho e Emerson com sua equipe é eterno. Eles sonharam, um dia, em ter seu próprio time na F1, e conseguiram, e com méritos. Fosse o Brasil um país que preserva sua memória, hoje haveria um museu na porta de Interlagos com a sede da equipe conservada, assim como seus carros. 

Infelizmente, a imprensa da época, acostumada com as vitórias e os títulos de Emerson, achou que a Copersucar-Fittipaldi seria uma equipe imbatível. Como se fosse simples vencer na Fórmula 1. A equipe pode não ter nunca ganhado uma corrida, mas merece o respeito pela iniciativa pioneira e pelos bons resultados que chegou a conquistar na pista.

Tem alguma memória dos carros da Copersucar-Fittipaldi? Deixe nos comentários a sua opinião. 


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