Hoje em dia, os SUVs tentam ser vários carros em um. Por isso até são chamados de crossovers em alguns lugares. A grande maioria tenta juntar uma robustez de rodagem com uma tocada mais interessante do que de um SUV tradicional, alinhado a uma grande quantidade de tecnologia e espaço. Mas sabe quem faz isso bem? A Audi RS6.
A Santa mãe das peruas é uma raríssima representante de uma categoria que as minivans machucaram e os SUVs terminaram de enterrar. Prova disso é que o Brasil tem apenas a Audi RS6 e a perua do Porsche Taycan, a Cross Turismo, como representantes dessa categoria que já teve Fiat Weekend e Volkswagen Parati. Mas a mãe de todas é a RS6.
Esportiva para caramba
A sigla RS no nome significa que você não deve brincar com essa perua. Debaixo do capô, a Audi RS6 conta com um motor 4.0 V8 turbo de 530 cv e absurdos 86,7 kgfm de torque. É tanta força que é capaz de arrancar o asfalto em uma aceleração forte. Ou talvez alterar levemente o eixo de rotação da terra.
Mesmo sendo um apartamento duplex sobre rodas com 2.230 kg, ela atinge os 100 km/h em 3,4 segundos. É quase tão rápido quanto uma criança consegue ficar com um copo de suco na mão sem derrubar tudo no chão. E ela só vai parar de acelerar ao atingir 280 km/h, quase distorcendo a noção de espaço-tempo.
Tudo isso é gerenciado por uma transmissão automática de oito marchas. As arrancadas não feitas com o launch control são bem controladas, com um nítido delay de acelerador para evitar emissões de poluentes além do permitido por lei. Só que, usando o controle de largada, é um soco bruto no estômago.
O câmbio tem trocas extremamente suaves e imperceptíveis em ritmo tranquilo, ao passo que na hora de acelerar te recebe com patadas. Mesmo assim, é um carro com bons níveis de consumo, para o tipo de proposta. Oficialmente a Audi declara 5,9 km/l na cidade e 7,8 km/l na estrada. Nos nossos testes ela bateu 6,3 km/l e 7,5 km/l, respectivamente.
Hoje não
Mas algo que me surpreendeu absurdamente sobre a Audi RS6 é como ela consegue ser uma perua comportada, caso queria. Apesar de a distância de publicação entre os textos, troquei o Porsche 911 Turbo pela Audi RS6. Vim de um esportivo de fato, com suspensão dura e convivência diária tranquila, mas que ainda te exige abrir mão de certo conforto.
Na Audi RS6, parecia que estava dirigindo um carro normal quando não queria velocidade. Ela é surpreendentemente muito confortável, absorvendo bem os impactos da estrada para o tipo de perfil que tem, além de ser fácil de dirigir, mesmo com 4,99 m de comprimento, que quase a coloca no porte de uma caminhonete.
A direção é rápida e pesada na medida certa, mas em modo Comfort, se parece como de um Volkswagen. Não cansa, não enche o saco e não se torna inconveniente como a grande maioria dos esportivos. Talvez tenha sido o carro esportivo mais civilizável e usável que já testei em todos esses anos.
Ela é bem silenciosa fora dos modos mais esportivos, especialmente por conta dos vidros com vedação dupla e da grande quantidade de material isolante. O motor V8 só anuncia seu ronco em regimes altos de rotação, enquanto ronrona baixo e imperceptível a quem está dentro quando o passeio é na cidade. Uma dualidade completamente insana.
Quattro é a palavra mágica
Mas experimente enfrentar uma pista ou uma estrada com curvas sinuosas. É ali que a Audi mostra todo o legado da tração quattro na RS6. Ela gruda de verdade no asfalto, fazendo com que os pneus nem cheguem a cantar em uma curva bem forte. Em nos modos mais fortes, ela deixa a traseira deslizar levemente a fim de assentar a retaguarda da perua em curvas mais fechadas.
Com o pé fundo no acelerador, ela engole as curvas com ímpeto invejável a qualquer carro nascido só para ser um esportivo. Novamente falando do porte, mesmo sendo um carro enorme, ela tem agilidade de um hatch esportivo pequeno. Para você desgarrar uma RS6 em uma curva, é preciso muita inabilidade.
Botão que não é botão
Além de toda esportividade inerente a um modelo RS da Audi, mas também do surpreendente conforto de rodagem que tem, a RS6 trata muito bem que senta lá dentro. O acabamento é muito bom, com doses fortes de couro no painel e portas. Há plástico decorativo em preto brilhante e em cinza, que coloca a Audi no mesmo nível da Mercedes, mas abaixo de BMW e Volvo (exceto o EX30) em nível de acabamento.
Os encaixes são bem feitos e os arremates também, tendo como destaque as faixas em fibra de carbono com as tramas formando uma textura bem interessante. Luzes ambiente compõem detalhes de acabamento para deixar a cabine mais elegante, junto às costuras em vermelho nos bancos. O volante tem revestimento em alcantara.
Por se tratar de um dos modelos mais caros e refinados da Audi, a RS6 conta com o máximo de qualidade nas telas. O painel de instrumentos tem layout que lembra dos Volkswagen, mas traz customização de layout de acordo com a preferência do motorista, além de vários menus e informações que podem ser exibidas.
A central multimídia tem ótima qualidade e conexão sem fio com Android Auto e Apple CarPlay. Os gráficos são minimalistas e há poucos menus que precisam ser acionados para entrar em alguma função. Por fim, ela tem uma terceira tela na parte inferior do console para controle do ar-condicionado.
Poderia ser algo bem ruim, porque comandos touch em um carro esportivo mais atrapalham do que ajudam. Mas a Audi equipou suas telas com um sistema que exige que o motorista aperte como se fosse um botão físico. Inclusive devolvendo com uma vibração que te faz sentir estar apertado um botão de fato. Comandos físicos são melhores, mas assim está bom.
Família nervosa
O interior é bem espaçoso. Quem senta à frente tem regulagens elétricas para banco e volante, inclusive com afastamento de volante e bancos para facilitar a entrada do motorista. Os assentos dianteiros trazem aquecimento e resfriamento. Já quem senta atrás tem outras regalias.
O espaço é farto, tanto para as pernas, quanto para a cabeça. Mesmo sendo uma perua com teto baixo e pegada esportiva, recebe os passageiros tão bem quanto um SUV. Menos quem senta no meio que tem de dividir espaço com um enorme túnel central. Há duas zonas individuais de ar-condicionado e cortinas nas janelas na segunda fileira.
A RS6 ainda traz teto solar panorâmico dividido em duas partes com cortinas de acionamento individual para motorista e passageiros traseiros. O porta-malas carrega 565 litros e tem o tampão elevado eletricamente assim como a tampa do porta-malas. Há nichos laterais para guardar mais coisas e os bancos dobram sozinhos por uma alavanca no porta-malas.
Servindo a todos
A lista de itens de série da Audi RS6 é bem recheada, ela conta com portas com fechamento a vácuo, ar-condicionado digital de quatro zonas, piloto automático adaptativo, alerta de mudança de faixa, piloto automático adaptativo, chave presencial, banco com regulagem elétrica, sistema de som B&O, park assist, câmeras 360° (com imagens distorcidas) e frenagem autônoma de emergência.
Há ainda central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio, retrovisor elétrico, alerta de tráfego cruzado, sensor de estacionamento dianteiro e traseiro, park assist, alerta de ponto cego, faróis de LED adaptativos, entre outros equipamentos.
Veredicto
É uma tristeza enorme ver que o segmento de peruas está a beira da morte. A Audi RS6 é a última de uma espécie. Literalmente. Até porque a nova geração do modelo pode vir a surgir, mas somente elétrica, já que os carros da Audi de número par serão só elétricos. Talvez uma RS7 Avant pode surgir com motor a combustão?
Por isso, aproveite enquanto há tempo e, se tiver R$ 1.249.990 no bolso, leve agora uma Audi RS6. Essa perua é absurdamente esportiva em todos os sentidos, ao mesmo tempo que consegue ser civilizada para uso tranquilo no dia-a-dia. Há anos digo que se só pudesse ter um carro na vida, seria um Porsche Macan GTS. Depois desse teste, mudo para a Audi RS6.
Você gosta de peruas? Qual sua preferida? Conte nos comentários.