Os hatches vêm sendo deixados de lado nos últimos anos. Mesmo com várias opções no mercado, poucos realmente se destacam. Alguns já passaram dos R$ 100 mil, o que acaba afastando ainda mais esse tipo de carro do consumidor. É o caso do Fiat Argo Drive 1.3 CVT, que parte de R$ 103.990 e hoje carrega o título de carro automático mais barato do Brasil. Sim, o automático mais barato do Brasil está acima de R$ 100 mil.
Mas o Argo tem um diferencial que importa para muitos nessa faixa: é um dos poucos modelos até R$ 110 mil com motor quatro cilindros. Isso ainda pesa na escolha de muita gente que prefere fugir dos 1.0 turbinados de três cilindros. Dentro da linha Fiat, ele divide esse papel com o Pulse 1.3, que custa R$ 98.990 na versão manual.
Mesmo sendo um projeto já datado, ainda chama atenção de quem busca um carro compacto, automático e com conjunto mais tradicional. Acima dele, automático, aparece o Citroën C3, mas com motor 1.0 turbo e preço inicial de R$ 105.490. A versão testada pelo Auto+ traz o pacote S-Design, que adiciona itens de comodidade e visual, o que aumenta o preço para R$ 108.080.


Pequenos detalhes só para falar que fez a lição de casa
A linha 2026 do Fiat Argo passou por mudanças tão sutis que, à primeira vista, parecem até inexistentes. A grande, e praticamente única novidade, está nos faróis.
Agora, o modelo conta com iluminação de neblina e luzes principais de LED (somente nas versões Drive e Trekking), deixando de lado o conjunto halógeno do modelo anterior. O DRL também ganhou um novo detalhe com efeito pixelado e posicionamento mais verticalizado.

Fora isso, nada muda. A grade segue com o mesmo desenho, o para-choque também, e a traseira segue idêntica ao que já conhecemos desde o lançamento em 2017.
A reestilização mais relevante do Argo ainda foi a de 2022, revelada como linha 2023. Desde então, a Fiat apenas aplicou pequenos retoques para manter o modelo atualizado dentro do possível. Mesmo assim, entre os modelos da marca que já adotaram a nova identidade visual, como Pulse, Fastback, Cronos, o Argo foi o que menos recebeu atenção.

E tem um motivo claro para isso, pois o Argo está com os dias contados. O seu sucessor já está em desenvolvimento dentro da Stellantis sob o código F1H e vai seguir a linha visual do novo Fiat Grande Panda, lançado na Europa em 2024. Modelo esse, que deve ser chamado de novo Uno. Será totalmente novo e até com plataforma global nova.
Enquanto isso, o Argo cumpre um papel de tampão na linha Fiat, com objetivo de fazer volume nas vendas diretas para empresas e frotistas, onde ainda tem bom desempenho. Por isso, a Fiat optou por um pacote mínimo de mudanças, apenas para justificar a nova linha e deixá-lo competitivo.

No interior, a única novidade prática é a central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio que, aliás, funciona bem e conecta rápido. Pena que os ícones fiquem minúsculos no espelhamento. Mas, no geral, tudo continua como era. E isso, no caso do Argo, não é exatamente um problema. Mesmo sem novidades de fato, ele segue vendendo bem e entrega o básico.
Não julgue o livro pelo capa
Nas dimensões, o Argo é um dos menores do segmento. São 4,03 m de comprimento, 1,72 m de largura, 1,51 m de altura e entre-eixos de apenas 2,52 m — o menor entre seus principais rivais. Mas isso não quer dizer que ele seja apertado.

O espaço interno foi bem aproveitado, principalmente na traseira. Com o banco dianteiro ajustado para mim (tenho 1,88 m), ainda sobra um dedo entre o meu joelho e o assento. Melhor, inclusive, do que o Polo (2,55 m de entre-eixos), no qual eu mal consigo entrar atrás.
O porta-malas tem 300 litros, o que também fica dentro da média da categoria. É um número que atende bem a proposta do carro. Só que, como acontece em muitos modelos da Stellantis, o bom espaço traseiro acaba penalizando um pouco o motorista.


O banco do motorista é alto demais, mesmo na regulagem mais baixa. É uma tentativa da Fiat de forçar uma posição de dirigir de SUV, semelhante ao que o Citroën C3 faz. Além disso, o encosto é mais ereto do que o ideal. O trilho até recua bastante, o que ajuda, mas o banco não te abraça e cansa em viagens longas. O revestimento é em tecido, com acabamento exclusivo do pacote S Design.
A visibilidade é boa e os comandos estão bem posicionados, com fácil acesso aos botões do volante e da central multimídia. Só que o painel do ar-condicionado digital (também opcional) tem botões pequenos e misturados, o que confunde um pouco no uso do dia a dia.

Motor fica atrás dos concorrentes
No quesito motorização, o Argo é um dos poucos entre os hatches compactos que ainda não oferece motor turbo. Só ele e o Honda City são assim. E não é por falta de motor. A Stellantis tem o 1.0 turbo T200, que já equipa Pulse, Fastback, 208 e até o C3 Aircross.
Mas a verdade é que não faz sentido investir nessa adaptação pro Argo, um carro que já está em fim de ciclo e que ainda teria que passar por reforços e readequação de suspensão. Além disso, ele poderia até canibalizar o 208 turbo, que hoje cumpre esse papel dentro do grupo. Ou até afugentar clientes do Pulse.

O que sobra para Argo, então, é o motor 1.3 Firefly aspirado, de quatro cilindros, que entrega 98/107 cv, e 13,2/13,7 kgfm de torque (gasolina/etanol), com câmbio CVT da Aisin que simula sete marchas. A alimentação é por injeção multiponto, o que já mostra o quanto o conjunto está ficando ultrapassado, enquanto boa parte dos concorrentes já adotou injeção direta.
Com isso, segundo a Fiat, o Argo faz de 0 a 100 km/h em 11,2/12,3 segundos (etanol/gasolina). Porém, em nossos testes, com gasolina, alcançamos a marca em 15 segundos. Bem abaixo do divulgado. Seus concorrentes fazem o mesmo na casa dos 10 segundos, com motor turbo.

Porém, esse desempenho não atrapalha na cidade. Pelo contrário. O Argo é um carro agradável de guiar no uso urbano. O câmbio CVT trabalha em rotações baixas e prioriza o conforto como de costume, e a suspensão tem um acerto muito bem calibrado, com características firmes, mas sem ser seca.
Ela absorve muito bem as irregularidades e passa segurança, sem fim de curso ou pancadas. Para um hatch, faz um ótimo trabalho, uma das melhores do segmento. A altura do solo de 16,2 cm também ajuda, e os ângulos de entrada e saída são dignos de SUV: 20,4° na frente e 30,3° atrás. Isso faz com que o Argo encare valetas e lombadas com tranquilidade.

A direção elétrica tem boa calibração para cidade. É leve, mas sem ser boba. Facilita muito na hora de manobrar ou rodar em trechos mais apertados. Só que é na estrada que ele mostra suas limitações. Em velocidades mais altas a estabilidade começa a incomodar. A carroceria balança com facilidade, e isso passa uma sensação de insegurança.
Em curvas, a rolagem de carroceria é grande, o carro inclina bastante. Nas frenagens, o desempenho é apenas ok. O Argo tem freios a disco só na dianteira e o sistema não responde tão bem a pisadas fortes, fazendo o carro demorar pra parar. E nas ultrapassagens, o Argo grita demais por conta do câmbio CVT e o motor demora a ganhar fôlego.

O hatch até tem o botão Sport no volante, mas altera só a resposta do câmbio, mas nada que faça tanta diferença.
O consumo divulgado pelo Inmetro do Fiat Argo com gasolina é de 12,8 km/l na cidade e 14,3 km/l na estrada. Números bons, na teoria, porque na prática alcançamos 9 km/l na cidade, mas interessantes 15 km/l na estrada. Já com etanol, o estatuto divulga menciona 9 km/l e 10,3 km/l, respectivamente.
Interior já viveu tempos melhores
O interior do Fiat Argo praticamente não mudou desde o seu lançamento em 2017. A única diferença visual é o novo logo da Fiat no volante e uma pequena alteração no painel de instrumentos. Os plásticos tem qualidade, mas é um estilo que já cansou e entrega muito da idade.

No pacote S-Design, o volante vem revestido em couro, enquanto os bancos ganham tecido com estilo diferenciado. Além disso, os vidros traseiros são elétricos e tem até um mimo, que é o tilt-down — o retrovisor direito abaixa automaticamente quando você engata a ré, o que ajuda bastante na hora de estacionar no meio-fio.
Segurança também peca
Mas onde o Argo realmente decepciona é na segurança, já que ele só vem com airbags frontais. Nada de laterais, de cortina, ou qualquer sistema mais avançado. E isso é um problema sério, considerando que até carros menores e mais baratos, como o Renault Kwid, já oferecem seis airbags. No Latin NCAP, o Argo levou zero estrela.


Apesar disso tudo, o Argo teve seu melhor ano de vendas em 2024. Foram mais de 91 mil unidades vendidas, boa parte delas para frotistas, taxistas e público PCD. Ele terminou o ano como o quarto hatch mais vendido do país, disputando posição até com o Chevrolet Onix. Aliás, em 2020, durante a pandemia, o Argo chegou a ser o carro mais vendido do Brasil por alguns meses, aproveitando a pausa na produção do Onix.
Veredito
O Fiat Argo é um dos hatches mais defasados do segmento. A versão com motor 1.3 não justifica o preço que está sendo cobrado, pois temos carros bem mais moderno pelo mesmo valor ou até menos. Por quase R$ 110 mil, dá pra buscar opções melhores, com mais segurança, desempenho e tecnologia.

A versão que ainda faz algum sentido é o custo-benefício da gama – de entrada 1.0 Drive. Mesmo ela já vem com multimídia e tem um bom espaço interno, suspensão bem calibrada e dirigibilidade confortável na cidade. Mas, mesmo assim, se você puder gastar um pouco mais, o Polo Track, por exemplo, já entrega mais potência e mais economia.
Se for pegar um Argo com motor 1.3, a versão Trekking ainda é a mais honesta. Pelo menos tem visual aventureiro, suspensão elevada e encara melhor os pisos irregulares. Mas no geral, o Argo já deu no que tinha que dar. Está vendendo porque é barato nas vendas diretas, mas sua vida útil está chegando ao fim — e sem deixar saudade.
O que você achou do Fiat Argo Drive com pacote S-Design? Teria esse hatch em sua garagem? Deixe sua opinião nos comentários!




Mais um carro defasado da fiat.
Estava pensando em adquirir o Argo. Depois dessa matéria não sei mais o que pensar.
No geral o Argo é um carro bom para sua proposta mas, cobra muito por oferecer itens básicos de segurança, na minha opinião a moradora deveria aumentar os airbags para 4, melharai um pouco.
Tenho um Argo 1.3 s design e gosto muito dele! Já penso em trocar por outro automático.