A ideia de que o melhor carro é aquele que mais se vê na rua e, portanto, o mais vendido, ainda está na cabeça de muitos brasileiros. Mas o mercado automotivo está cheio de injustiças, e o GWM Ora 03 é um exemplo disso. Ele vende bem menos que o BYD Dolphin, mesmo entregando mais em diversos aspectos.
No primeiro semestre de 2025, o Ora 03 vendeu pouco mais de 1.300 unidades, enquanto o rival da BYD ultrapassou 6 mil vendas. Uma diferença difícil de justificar quando se coloca lado a lado as versões de entrada dos dois modelos. A disparidade é clara, o Ora 03 Skin é mais carro que o Dolphin EV.
Mas é quando subimos de patamar, nesse caso o Ora 03 GT contra Dolphin Plus, que a conversa realmente fica boa. Ambos têm potência parecida, proposta semelhante e equipamentos de sobra, mas temperamentos diferentes. Aí a cabeça coça: vale mais gastar R$ 184.800 no Dolphin Plus ou investir R$ 189.000 no Ora 03 GT? Vamos entender.
Carro elétrico que realmente entende o Brasil



O GWM Ora 03 GT é um carro que você não espera que seja tão bom de dirigir. E isso é algo que, até pouco tempo atrás, não se podia dizer pois a maioria dos carros de fabricantes chinesas oferece suspensão molenga, carroceria solta e pouco acerto para o gosto brasileiro. Desde que chegou ao Brasil, em agosto de 2023, o hatch elétrico da GWM mostra a tropicalização funciona muito bem.
No Ora 03 GT, a suspensão é firme, mas não seca, e o amortecimento é bem controlado, filtrando os buracos sem transmitir impacto à cabine. É um carro estável e com rodar sólido, que lembra muito o comportamento de um compacto europeu. Passa confiança ao motorista. Mesmo com eixo de torção na traseira, algo que normalmente limita o conforto e em curvas, o conjunto se mostra bem acertado.

E isso também é devido ao centro de gravidade baixo — são apenas 135 mm de altura livre do solo. Isso deixa o Ora 03 mais perto do chão, com boa estabilidade lateral, carroceria neutra, sem rolagem. Mas não se engane, ele é mais difícil de raspar do que parece graças aos 16 graus de ângulo de ataque. Mas claro, ele não é um SUV.
No uso urbano, o desempenho também é excelente. O motor elétrico entrega 171 cv e 25,5 kgfm de torque instantâneo, o que faz o carro responder de imediato a qualquer toque no acelerador. É ágil no trânsito, sai fácil de congestionamentos e realiza cruzamentos sem nenhuma dificuldade, esperado de um elétrico.

O controle de tração, no entanto, poderia ser mais refinado, isso porque os pneus dianteiros perdem aderência com facilidade em piso molhado ou arrancadas mais fortes. Isso faz com que ele constantemente dê umas cantadas de pneu desnecessárias. Em chuva, precisa até ter mais cuidado. Especialmente pois o limpador traseiro é ausente no modelo e atrapalha a visibilidade, algo que jamais deveria faltar em um hatch.
Já a direção elétrica tem calibração correta, com três modos (Conforto, Normal e Esporte), os quais fazem uma leve diferença. Mas, vale ressaltar, o peso do volante é bem ajustado em todas as situações, sem aquela leveza artificial de modelos chineses como acontece com seu irmão Haval H6.
Pegada de hatch europeu



Na estrada, o Ora 03 GT tem o mesmo comportamento refinado que mostra na cidade. É um carro competente em retomadas e ultrapassagens. As acelerações são rápidas com leve toque no acelerador. Mas a força é constante até os 160 km/h, quando o sistema limita a velocidade máxima para preservar a bateria.
O modo Sport libera toda a potência disponível e garante o 0 a 100 km/h em 8,1 segundos nos testes, contra os 7 segundos do BYD Dolphin Plus, uma diferença pequena, mas perceptível nas respostas iniciais, já que lá ele oferece 204 cv e 31,6 kgfm.



O conforto em viagens longas é aprimorado também pelos bancos dianteiros (com ajuste elétrico), que oferecem boas abas laterais, seguram bem o corpo em curvas. Mesmo quem é mais alto, como eu, com 1,88 m, encontra facilmente uma boa posição de dirigir graças também ao ajuste de altura e profundidade do volante.
Outro ponto que merecia atenção é o isolamento acústico. Acima dos 110 km/h, o ruído de rodagem dos pneus e o fluxo de ar passam a invadir a cabine, quebrando o silêncio dos elétricos. Nada grave, mas é um ponto que a GWM poderia aprimorar.

O pacote de ADAS é extenso, mas nem tudo funciona com a mesma harmonia. O piloto automático adaptativo com função stop & go até que entende bem os arredores, mas o assistente de centralização de faixa é invasivo demais e chega a atrapalha mais do que ajudar por forçar o volante o tempo todo.
Em compensação, o carro conta com frenagem autônoma de emergência, assistente de farol alto, alerta de ponto cego, tráfego cruzado traseiro, assistente de saída segura, controle de descida e partida em rampa. Os faróis full-LED têm excelente alcance e regulagem automática.
Autonomia e carregamento mais que competentes

Em autonomia, o GWM Ora 03 encanta bastante. O Inmetro, sempre rigoroso, registra 295 km, mas nos testes o carro chegou a cerca de 330 km, rodando majoritariamente na cidade e com trechos curtos de estrada. Em uso 100% urbano, é possível alcançar algo próximo de 385 km. Esse bom resultado vem da bateria de 63 kWh, a maior da linha, que permite recargas de até 67 kW em corrente contínua (DC).
Em uma estação rápida, a carga de 10% a 80% leva entre 30 e 40 minutos, enquanto em carregadores AC o tempo total de 15% a 100% fica em torno de 5 horas. Números respeitáveis, ainda quando comparado com o Dolphin Plus, que usa a mesma potência de recarga. Vale lembrar que o modelo da BYD oferece uma autonomia ligeiramente maior, com 330 km, segundo o Inmetro.
Interior é um ótimo habitáculo, mas detalhes…



O Ora 03 GT oferece um ótimo acabamento, mas isso independentemente da versão. O painel utiliza soft-touch e é bem acabado, além da parte superior das portas bem revestidas com toque macio, tudo muito bem montado, sem rebarbas ou saliências.
Temos ainda a central multimídia visualmente integrada ao painel de instrumentos totalmente digital, sendo ambos com 10,25 polegadas. O visual é bonito, mas a ergonomia do dia a dia ainda pode melhorar. O painel de instrumentos continua um pouco confuso de operar, e até resetar a trip é meio complexo, além de pouca personalização.



A central multimídia, por outro lado, é intuitiva e tem boa definição de tela. No entanto, durante o uso do Apple CarPlay (tem Android Auto também e ambos sem fio) ela sofreu com pequenos engasgos e chegou a desconectar em um momento. Outro ponto, geral dos GWM, é o sistema de som, que deixa a desejar pelo preço. O áudio é abafado e carece de graves e médios mais presentes.
Um detalhe que também divide opiniões é a alavanca de seta que não fica na posição ao sinalizar a mudança de faixa. Dá até para se acostumar, mas a sensibilidade é alta e, às vezes, ela desativa.

A operação do ar-condicionado também é pouco prática — para acessar a tela de ventilação, precisei fazer a gambiarra de desativar e ativar o ar-condicionado para ter acesso ao menu, algo que não deveria existir. Isso porque existe um menu lateral que poderia ficar fixo durante a conexão com celulares e que resolveria todo o problema.
Os bancos dianteiros têm ventilação e função de massagem, o ambiente é agradável, e o carregador por indução está em uma excelente posição prática. Há também bons porta-objetos e freio de estacionamento eletrônico com Auto Hold.



Nos bancos traseiros, o conforto também é garantido graças aos 4,25 metros de comprimento, 1,84 m de largura, 1,60 m de altura e bons 2,65 m de entre-eixos. Mesmo com o banco todo recuado para mim, sobrou dois dedos de espaço entre meu joelho e o banco dianteiro. Todavia, faltou saídas de ar, embora ofereça carregador.
O porta-malas é minúsculo para um elétrico: somente 228 litros, não cabe quase nada. Nesse quisito, o Dolphin Plus leva vantagem levemente em espaço e no porta-malas de 345 litros. E vale uma curiosidade: para ligar o carro, é simples: basta pisar no pedal de freio e engatar o Drive para o pequeno Ora 03 GT acorde.
Veredicto

No fim das contas, o GWM Ora 03 GT se mostra um carro extremamente fiel naquilo que ele promete. É um elétrico bem equilibrado, agradável de dirigir e que não deixa faltar nada essencial no dia a dia. Quando comparamos as versões de entrada do Ora 03 e Dolphin, a disparidade do carro da GWM é bem maior. Porém, no cenário das configurações topo de linha, ele muda.
O modelo da BYD é mais barato, tem um toque extra de potência e autonomia ligeiramente maior. Mas quando comparado aos mimos, o Ora 03 GT ainda leva vantagem, com teto-solar que abre, bancos com massageador, estacionamento automático, entre outros. No fim, o que decide é o gosto pessoal. A sensação de compra bem feita acontece com os dois.

E você, qual carro elétrico colocaria na garagem? BYD Dolphin Plus ou GWM Ora 03 GT? Deixe seu comentário!




GWM ORA 03 GT, sem dúvidas!
A primeira frase desse artigo foi perfeita e corajosa. Há muito tempo o brasileiro faz escolhas infelizes por conta de acompanhar o mercado e assim achar que o que vende mais é melhor.
Um grande exemplo disso são a Toyota Hilux e a Ford Ranger, as queridinhas do mundo das picapes médias. A Hilux ultrapassada, dura, desconfortável, interior passado e agora mostrando que o seu motor e câmbio são fontes graves de problemas. Sua suspensão lhe rendeu apelidos como Capotalux ou Tombalux, e tirou a vida de muita gente. Mesmo assim, sempre foi a líder de vendas.
A Ford, que abandonou o Brasil, deixou para trás desemprego e problemas de ordem econômica e social, trouxe uma Ranger cheia de problemas, com inúmeros recalls e recursos que funcionam mal, mas se tornou outro sucesso de vendas. Na verdade, o mercado oferece outras opções melhores, até mais robustas, confortáveis, confiáveis é muito mais seguras, que não vendem tanto e são injustiçadas. Não vou fazer propaganda de modelos para não parecer um comentário tendencioso, mas o fato é que as escolhas dos brasileiros se orientam por razões que não privilegiam o produto em si, mas a sua popularidade e “fama” no mercado.
Eu já li num fórum que eu participo que a rezão da escolha por uma Hilux feita por um comprador foi porque “É só abrir a boca que vende”. Ou seja, o cara compra o carro para o próximo dono, ao invés de escolher um modelo mais moderno, seguro e confortável para colocar a sua família e ter a tranquilidade de que vai levá-la com segurança na sua viagem. É lamentável como o mercado brasileiro funciona. Realmente o Auto+ tocou num ponto bem interessante e sensível.
Vejo que aos poucos as coisas tem mudado.
Eu por exemplo vendi uma Tracker e fui em busca de um novo carro, olhei TCross, Fastabck, Tera, uma olhada rápida em Creta e uma Taos (usada), fechei a pesquisa em um Tiggo 7 Sport. Adivinha qual peguei pelo custo beneficio e sem me importar com modismo e fan boy ?
Pois é… ver fabricante vender carro por 135mil sem suspensão multlink, sem banco de couro, sem faróis full led, sem acabamentos em couro e outros mimos é de se pensar …
Carrinho horroroso este Ora