Os carros e os instrumentos musicais estão ligados intrinsecamente, seja pela sonoridade, seja pela engenharia aplicada na fase de desenvolvimento. Assim como alguns artistas nacionais ou internacionais, também há modelos incompreendidos pelo mercado — ou seja, oferecem melhores atributos em relação à concorrência, mas continuam à sombra do líder.
Não é de hoje que o Nissan Sentra mata um leão por dia. São mais de 20 anos de presença no Brasil, com o primeiro importado oficialmente na quinta geração (B15), em 2004, produzido em Aguascalientes, no México. Antes disso, importadores independentes trouxeram o sedan para cá na década de 1990, de acordo com o fabricante.
Ao longo do tempo, ele já enfrentou o fogo cruzado de Chevrolet Cruze, Honda Civic, Volkswagen Jetta, Toyota Corolla, dos sedãs chineses e dos SUVs, mantendo-se de pé a cada nova ofensiva do mercado. Atualmente na oitava geração, no ano passado ele ganhou uma injeção de ânimo com visual renovado, bem como mais itens de tecnologia e de segurança.
Tudo é válido para se manter vivo. De acordo com a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), de janeiro a maio deste ano, o Nissan Sentra acumulou 1.991 unidades licenciadas — superior ao Volkswagen Jetta GLI (437), Caoa Chery Arrizo 6 (721) e Honda Civic e:HEV (946), mas abaixo do BYD King (5.459) e, principalmente do líder do segmento, Toyota Corolla (15.393).

Como o Nissan Sentra se apresenta?
O Nissan Sentra oferece as configurações 2.0 Advance CVT (avaliada), de iniciais R$ 171.890, e 2.0 Exclusive CVT, com interior Premium, por a partir de R$ 195.890. Ambas são equipadas com o motor 2.0 naturalmente aspirado a gasolina de ciclo Atkinson, casado à transmissão continuamente variável (CVT), para transmitir 151 cv e 20 kgfm, sem ajuda da eletricidade.
Entre as alternativas, o Toyota Corolla parte de R$ 167.590, na versão GLi, indo a R$ 196.590 na Altis Premium a combustão. O lineup ainda oferta a esportivada GR-Sport (R$ 196.990) e a híbrida Altis Premium Hybrid (R$ 199.990). Falando de eletrificados nesse segmento, o BYD King tem opções GL (R$ 179.900) ou GS (R$ 191.900), enquanto o Caoa Chery Arrizo 6 Pro Hybrid Max Drive cobra R$ 139.990 e o Honda Civic e:HEV, importado da Tailândia, R$ 265.900, para citar.

Apesar do preço no mesmo patamar de alguns rivais — alguns deles eletrificados — o Nissan Sentra é um sedan com mais acertos do que erros. Isso é percebido logo ao abrir a porta, com o interior feito com bons materiais e arremates empregados no acabamento, além da posição de dirigir confortável, conquistada pelos ajustes elétricos do banco do motorista.
É um carro vestido rapidamente, que ainda localiza todos os comandos à mão, favorecendo a ergonomia, sem transmitir uma sensação de claustrofobia devido à carroceria com 1,45 m de altura (mesma medida do Corolla, enquanto o BYD King possui 1,49 m). Feito sobre a plataforma CMF C/D, um ponto alto também está em quem viaja na segunda fileira de bancos.

E quem viaja no banco traseiro?
Espaço não é um problema no habitáculo do sedan da Nissan, que ainda mostra, de série, ar-condicionado digital de duas zonas, aquecimento para os bancos frontais, quadro de instrumentos com tela TFT de sete polegadas, entradas USB-A e USB-C, multimídia de oito polegadas com Android Auto/Apple CarPlay e sistema de áudio com seis alto-falantes.
Com 2,70 m de entre-eixos, é bom o espaço para as pernas e os joelhos dos passageiros traseiros, sendo uma medida igual à do Toyota Corolla e melhor que a do Volkswagen Virtus Exclusive (inicia em R$ 165.990), com 2,65 m. Aliás, ele pode não ser um médio, mas oferece um preço equiparável ao do Nissan Sentra Advance, bem como o Jeep Renegade Sahara, que possui 2,56 m e custa R$ 169.990.


Como nenhum carro é perfeito, alguns pênaltis aparecem. Um deles está em apenas o botão do vidro elétrico do motorista ser iluminado, enquanto o freio de estacionamento é acionado com o pé, como nas caminhonetes médias — o que pode tirar o sono de uma parcela de consumidores. Essa disposição é comum no México, onde é fabricado, porém ainda causa estranheza nos consumidores brasileiros.
Só que todo sedan que se preze tem que oferecer um porta-malas volumoso para continuar agradando os consumidores dos três volumes. O terceiro volume do Nissan Sentra revela um espaço com capacidade volumétrica de 466 litros, que fica atrás dos 470 do Toyota Corolla (combustão e híbrido), dos 495 do Honda Civic e dos volumosos 521 do Volkswagen Virtus. A área dedicada ao transporte de bagagens do Nissan Sentra é maior em relação ao BYD King GL (450).

Em segurança, o pacote contempla alertas de colisão frontal, de ponto cego, de objetos no banco traseiro, de atenção do motorista, de tráfego cruzado traseiro, bem como assistente de prevenção de mudanças involuntárias de faixas. Também há assistente de partida em rampa, de frenagem, sensores de estacionamento frontais/traseiros, controles eletrônicos de tração e estabilidade, para citar.
Dirigibilidade
O Nissan Sentra esconde sob o capô a escola clássica dos motores, oferecendo um quatro-cilindros 2.0 naturalmente aspirado (nomenclatura MR20DD) em trabalho conjunto ao câmbio continuamente variável com simulação de oito marchas. Esse matrimônio mecânico garante 151 cv e 20 kgfm, embora os números da ficha técnica não traduzam a real experiência de condução do sedan.
Sem bateria ou componentes do sistema híbrido, na balança o Nissan Sentra Advance pesa 1.381 kg, o que garante uma relação peso-potência de 9,15 kg/cv e peso-torque de 69,1 kgfm/kg. Mais leve que o Honda Civic e:HEV (1.499 kg) ou o BYD King GL (1.515 kg), é um carro que não apenas vence a imobilidade, como também ganha velocidade sem exigir negociação com o pedal do acelerador.


Mesmo sem a ajuda da eletrificação, a condução do Nissan Sentra é agradável por conta da força disponível nas baixas e médias rotações, sendo o desempenho cooperado pela caixa CVT. Ela transmite progressão na dirigibilidade e, em grande parte do tempo, a agulha do conta-giros repousa nas 1.500 rpm, contribuindo no conforto acústico.
Aliás, o Nissan Sentra é um sedan silencioso e não sofre com ruídos aerodinâmicos, sejam eles vindos da região dos vidros ou dos espelhos retrovisores. Somente ao exigir acima das 4.000 rpm é que o ruído do propulsor, com notas metálicas, invade a cabine, mas nada que incomode e dentro da normalidade. Já o modo de condução Eco Drive o configura para a máxima eficiência. Ainda é possível realizar trocas sequenciais pelas borboletas atrás do volante.


Nissan Sentra parece híbrido, mas não é!
Sendo assim, aparecem respostas brandas e, na cidade, facilmente são conquistadas médias superiores a 14 km/l e com o ar-condicionado ligado. Igual ao Honda City Hatch, o Nissan Sentra também impressiona nas rodovias ao registrar mais de 20 km/l trafegando a constantes 100 km/h. Pode não ser um sedan híbrido, contudo, é muito econômico dirigindo com o pé leve.
O Programa de Etiquetagem Veicular do Inmetro declara 11 km/l nos trajetos urbanos e 14 km/l nas rodovias. Paralelamente ao consumo, outra qualidade do sedan da Nissan está na dinâmica assegurada pelas suspensões com arquitetura McPherson à frente e multibraço atrás. Diferentemente dos SUVs, a dirigibilidade é mais próxima do chão, favorecendo o contorno de curvas mais rapidamente.

Não há tendência ao subesterço e a dianteira aponta com facilidade, bem como a traseira roda comportada, evitando eventuais correções ao passar do ponto nas curvas. Na cidade, elas filtram e absorvem muito bem as irregularidades do asfalto. Porém, é necessário uma dose extra de cuidado ao vencer valetas, pois a frente raspa com facilidade. A altura em relação ao solo é de 13,4 cm, contra 14,8 cm do Toyota Corolla a combustão.
Mesmo assim, a direção assistida eletricamente é leve e precisa, elevando a experiência de condução, que mostra um acionamento progressivo do pedal de freio. O conjunto de frenagem aplica discos ventilados no eixo frontal e sólidos atrás, enquanto o contato com o solo é responsabilidade das rodas de liga leve de 17 polegadas calçam pneus de medidas 215/70 (o estepe tem tamanho 125/70 R16).

Veredicto
Se você é um consumidor de sedans ou quer sair do mundo dos utilitários esportivos compactos e médios, eis uma alternativa a ser considerada. Afinal, o Nissan Sentra Advance oferece bom espaço interno para os ocupantes frontais e traseiros, um pacote de série recheado e ainda uma dirigibilidade mais próxima ao solo — e mais afiada.
Embora não conte com tecnologia híbrida embarcada, o Nissan Sentra faz milagres no consumo, com médias impressionantes tanto na cidade quanto na estrada, em velocidade constante. Além disso, sua altura mais próxima do solo favorece a condução e remete às saudosas station wagons, que desapareceram do mercado nacional com a ascensão dos SUVs. Para quem deseja um sedan por ir de olhos fechados!

O que você acha do Nissan Sentra? Compraria esse sedã? Se você já teve ou tem um, compartilhe sua experiência nos comentários!



