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Porsche Taycan Cross Turismo Turbo não faz sentido e eu a amo por isso | Avaliação

Taycan Cross Turismo é a perua mais barata do Brasil, se veste de aventureira, é elétrica, anda igual esportivo…é muita coisa junta!

9 min de leitura

As peruas estão morrendo, não adianta chorar. Hoje no Brasil temos apenas a Audi RS6 e a Porsche Taycan Cross Turismo. Até o ano passado, o Panamera tinha uma irmã perua, mas a nova geração foi dessa para uma melhor. E, em um espaço de seis meses, testei as duas únicas familiares à venda no Brasil. E tem como não amar uma wagon?

Enquanto com a Audi RS6 tive uma semana tratando a Santa Mãe das Peruas como um esportivo, com a Cross Turismo foi a vez de explorar seu lado familiar e viajante a levando até Ilhabela no Litoral norte. Afinal, antes da moda dos SUVs, as famílias se amontoavam em Volkswagen Parati, Fiat Palio Weekend e outras tantas peruas para viajar.

Além disso, tem muito rico por aí que compra um Porsche elétrico, sai de São Paulo rumo a Ilhabela ou Campos do Jordão e diz que o Taycan não chega lá. Balela, sua irmã aventureira e perua desceu para o litoral com folga de bateria…mesmo em momentos em que divertidamente tive de honrar o nome Turbo escrito na traseira.

Porsche Taycan Cross Turismo Turbo verde de traseira com uma praia ao fundo
Porsche Taycan Cross Turismo Turbo [Auto+ / João Brigato]

Não custa pouco. E que se dane

Peruas se tornaram carros de nicho faz tempo. A exceção da versão 4 e 4S da perua Taycan, a variante Turbo testada começa já na casa do milhão junto da RS6. E, claro, todos que compram um Porsche sempre colocam opcionais. Portanto, achar uma Cross Turismo custando menos de seis dígitos é quase impossível.

Especificamente, o modelo testado parte de R$ 1.225.000, mas já adicione R$ 22.769 pela belíssima cor Verde Oak Neo metálico. As rodas de liga-leve de 21 polegadas adicionam outros R$ 20.916 (mas confesso que levaria o modelo de rodas de 20 polegadas que custam só R$ 3.550 a mais).

Porsche Taycan Cross Turismo Turbo verde de lado em um jardim com um carregador da Porsche ao lado
Porsche Taycan Cross Turismo Turbo [Auto+ / João Brigato]

Existem diversos outros opcionais que te farão perder metade do seu dia configurando a perua do Porsche Taycan no configurador. Mas é preciso lembrar que, por mais que seja um valor altíssimo, você está levando um carro que, de fato, honra o valor cobrado. E tem vários motivos para isso.

Um palavrão é inevitável

Parte da recém atualização da linha Taycan, a versão Turbo ficou mais forte, melhorou a recuperação de energia pelo sistema regenerativo, além de se tornar melhor de dirigir. Combinando dois motores elétricos de 442 cv e 45,9 kgfm de torque, um em cada eixo, temos absurdos 884 cv e 90,7 kgfm.

porta-malas porsche taycan cross turismo
Porsche Taycan Cross Turismo Turbo [Auto+ / João Brigato]

Mesmo se você estiver com o porta-malas de 405 litros cheio (com metade do espaço roubado pelo estepe), a Taycan Cross Turismo vai acelerar de maneiras absurdas. São ridículos 2,8 segundos para atingir os 100 km/h. O suficiente para você perder sua visão periférica por alguns segundos e escutar todo arsenal de palavrões que os passageiros possuem.

É impossível não gritar ou esbravejar alguma ofensa quando o motorista senta o pé no acelerador e essa endiabrada perua elétrica acelera com tudo sem fazer o menor ruído. Na atualização, tanto o Taycan quanto a Cross Turismo receberam um botão chamado Push-To-Pass. Com ele apertado, todos os motores trabalham com 100% da força para uma ultrapassagem instantânea.

Porsche Taycan Cross Turismo Turbo verde de lado com uma praia ao fundo
Porsche Taycan Cross Turismo Turbo [Auto+ / João Brigato]

E tudo nela é rápido. A direção é muito direta e firme, além de ter um excelente ângulo de esterçamento, fazendo com que uma manobra seja feita facilmente. Pena que o sistema de câmeras 360° tenha imagens são distorcidas que te causam insegurança em uma manobra. O diâmetro de giro é de apenas 11,7 metros, quase igual a um VW Taos!

Planejando, você chega

Com autonomia de 415 km providos por uma bateria gigante de 105 kWh, a Porsche Taycan Cross Turismo consegue tranquilamente fazer viagens longas. A grande vantagem do sistema regenerativo revisado é que ele agora pode recuperar até 400 kW, 30% a mais do que antes. Isso resulta em muito mais eficiência e autonomia na vida real.

Porsche Taycan Cross Turismo Turbo verde de frente em um jardim com um carregador da Porsche ao lado
Porsche Taycan Cross Turismo Turbo [Auto+ / João Brigato]

Quer um exemplo disso? A serra de Caraguatatuba tem 22 km de descida. Eu percorri todo esse trajeto usando o sistema regenerativo e bem pouco dos freios de fato. Ao final da descida, após rodar 22 km, a perua aventureira ainda conseguiu adicionar 15 km de autonomia extra e rodou os 22 km sem gastar nada. 

Na estrada, em velocidade constante, contudo, é comum que ela coma cerca de 2 km a cada 1 km rodado ou até mais. No final das contas, mesmo saindo de São Paulo para ir ao litoral, ela chegou com metade da capacidade de bateria. Já na subida, por conta do maior esforço, chegou com ¼ de “tanque”.

Porsche Taycan Cross Turismo Turbo verde de traseira com uma praia ao fundo
Porsche Taycan Cross Turismo Turbo [Auto+ / João Brigato]

Por falar em estrada, o silêncio do motor elétrico é contemplado por um isolamento acústico absurdo. Os vidros são duplos, há material isolante nos quatro cantos da perua do Taycan. Ruído de vento? Não existe. Muito menos barulho dos pneus. Isso que essa versão tem suspensão mais alta e adereços de plástico para dar uma aparência mais parruda.

Aventura não

Algo que confesso ter me incomodado é que a proposta da Cross Turismo é ser a perua aventureira do Taycan. Teoricamente, isso tornaria ela mais fácil de rodar no Brasil sem raspar a frente, algo muito comum na versão sedan. Mas…mesmo com a suspensão com elevação automática, é impossível não ter a frente do para-choque arranhada.

Porsche Taycan Cross Turismo Turbo [Auto+ / João Brigato]

Em lombadas e valetas é normal ver a frente raspar, enquanto entradas e saídas de garagem encontram com o bico do para-choque constantemente. Claro que é menos do que o Taycan normal, mas não chega a ser o que esperava de uma versão aventureira. Talvez só o 911 Dakar consegue ser um Porsche que não raspa a frente e não é um SUV.

Cuidado com detalhes

Além da performance absurda, outro lugar em que seu milhão de reais faz sentido é no interior dessa perua. Há couro em tudo quanto é canto e de toque aveludado. Os encaixes são milimetricamente perfeitos e o visual limpo beira o minimalismo sem ser exagerado ou que atrapalhe o uso.

interior Porsche Taycan Cross Turismo Turbo
Porsche Taycan Cross Turismo Turbo [Auto+ / João Brigato]

Há botões para a maioria das coisas que se fazem necessárias, mas a Porsche insiste em um sistema confuso e terrível para o ar-condicionado. Até poderia engolir os comandos de temperatura e ventilação em uma tela separada, porque até que são práticos de serem usados. Mas a direção do vento é controlada pela central multimídia. É irritante.

Seria bom também ter um comando físico para o volume perto da central multimídia e um mísero botão para voltar a música, porque você só pode passá-la adiante. O painel de instrumentos é bem grande, completo e com tela excelente, além de trazer integração com o mapa.

A central multimídia segue na mesma tocada, sendo fácil de ser operada e com conexão rápida com Android Auto e Apple CarPlay, ambos sem fio. Na atualização, a Porsche trouxe uma saída de ventilação dentro do console central, onde fica o cabo da conexão de celular e o carregador por indução. Assim, nada de celular quente demais. 

Espaço não é o forte

Algo estranho na Porsche Taycan Cross Turismo é que ela é um carro relativamente alto, mas que tem o piso bem alto e o banco baixo. Seu corpo instintivamente se prepara para uma altura de pernas, mas é surpreendido pelo assoalho elevado. A vantagem é uma posição de dirigir idêntica à do 911. 

Quem senta na frente tem regulagens de tudo quanto é tipo para os bancos, além do volante também ajustado eletricamente. Já os passageiros traseiros são melhores tratados no espaço para cabeça do que o Taycan padrão. Mas a perua castiga os joelhos com uma inerente falta de espaço. E tem a questão do porta-malas, que já falei.

Se há um opcional que é indispensável é o teto solar panorâmico com controle de luz. Ele custa R$ 32.724, é caro, claro. Mas ele conta com tratamento UV e de raios solares para não aquecer o interior mesmo quando está totalmente. Contudo, ele usa algo que posso chamar de bruxaria para criar zonas foscas e transparentes com o toque de um botão.

Porsche Taycan Cross Turismo Turbo

Veredicto

Faz sentido comprar um carro de um segmento que está morrendo e com uma proposta aventureira que não é cumprida? De jeito nenhum. Mas nem toda compra de um automóvel é feita de maneira racional. É inegável que o estilo parrudo e o corpo de perua tornaram a Taycan Cross Turismo uma obra de arte moderna da Porsche.

Ela é absurdamente rápida, divertida na mesma medida e um pouco mais usual que vários modelos elétricos de proposta semelhante. E dá sim para passar um final de semana de rico com ela em destinos comuns dos afortunados. Mesmo se você tiver o pé bem pesado. Se eu fosse esse tipo de abastado, teria uma fácil. 

Você teria uma Porsche Taycan Cross Turismo? Conte nos comentários.


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João Brigato

Formado em jornalismo e design de produto, é apaixonado por carros desde que aprendeu a falar e andar. Tentou ser designer automotivo, mas percebeu que a comunicação e o jornalismo eram sua verdadeira paixão. Dono de um Jeep Renegade Sem Nome, até hoje se arrepende de ter vendido seu Volkswagen up! TSI.

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