Todo o barulho feito com o lançamento do Volkswagen Tera, honestamente, faz sentido. A marca colocou seu SUV subcompacto como sucessor espiritual de Fusca e Gol. A julgar pelo fervor das pessoas nas redes sociais, ela vai conseguir o feito. Mas, fora a versão MPI de R$ 99.990 que chamou atenção, o Volkswagen Tera Comfort é o ponto de equilíbrio da linha.
Custando R$ 126.990, ele é o meio do caminho entre o High Outfit, que está acima do que deveria custar, e o modelo de entrada com motor aspirado. Além disso, é a variante automática mais barata do SUV. Mas o que ele tem de tão atrativo para ser a estrela da linha?
Equilíbrio é tudo
Um dos pontos que mais ficou interessante no Volkswagen Tera Comfort é o interior. O acabamento é substancialmente melhor do que se espera por um modelo da marca alemã. Em questão de qualidade de montagem e dos plásticos usados na cabine, ele é melhor até do que o Taos, além de superior ao T-Cross e Nivus.

Ele conta com tecido nas portas, painel e bancos com inspiração em ténis, tendo uma textura agradável e macia. Os assentos são iguais aos do Polo, com encosto fixo, mas são bem confortáveis e o tecido dessa versão ajuda a dar uma sensação mais agradável do que o couro artificial de qualidade questionável do High.
Os plásticos usados na cabine são bem montados, não tem aquele toque oco que outros Volkswagen possuem e as rebarbas sumiram. Além disso, os encaixes são bem feitos. Alinhado com a nova identidade visual da marca, a cabine tem central multimídia flutuante, menos linhas horizontalizadas e elementos mais minimalistas.

Mas, claro, há o de sempre: o volante vem do Nivus, a manopla de câmbio é igual a do T-Cross, além do painel de instrumentos digital de 8 polegadas ser o mesmo do Polo. A central multimídia VW Play Connect, que estreou no Nivus, ganha tela flutuante no Tera e é excelente para mexer e tem display de qualidade.
Nas portas, o Volkswagen Tera ganha botões com luzes em branco, substituindo as já cansadas luzes em vermelho. O puxador é igual ao dos modelos ID, que é camuflado na zona de comando dos vidros. Além disso, temos um easter egg na maçaneta.


Pecado é o espaço
Por dentro, o Volkswagen Tera não nega ser um SUV subcompacto. Quem senta atrás tem pouco espaço, tal qual o Fiat Pulse e o Kia Stonic, perdendo feio para o Renault Kardian. Os encostos de cabeça na segunda fileira são fixos também, tampando parte da visão. Além disso, não há saída de ar para os passageiros traseiros.
Outro problema é que as portas traseiras não recebem tecido, como acontece na dianteira. No lugar, há uma textura em plástico preto idêntica à usada no Chevrolet Onix, o que não mostra tanta qualidade. Pelo menos a versão Comfort traz duas saídas USB para carregamento de celular. O porta-malas leva 350 litros, o que é bom para o porte do SUV.

É como o Polo
Ao dirigir o Volkswagen Tera me deparei com o dilema de que esperava por um carro mais esperto. Especialmente porque, nesse segmento, o Renault Kardian e o Fiat Pulse são dois carros muito ágeis e espertos para andar. O problema é que, ao invés de usar o motor 1.0 TSI no acerto 200, a marca preferiu a configuração 170.
O que isso significa? Que não temos 128 cv e 20,4 kgfm de torque, que o colocaria pau-a-pau com os rivais. Mas sim o motor 1.0 três cilindros turbo de 116 cv e 16,8 kgfm. Isso se reflete em um desempenho mais apagado. O Tera não tem o mesmo delay de acelerador do T-Cross, mas sim de motor.

Abaixo de 2.500 rpm, o Tera parece se arrastar e morto. Não desenvolve, não ganha velocidade fácil e tem dificuldades em mostrar a vivacidade que um motor 1.0 três cilindros turbo sempre teve. Contudo, acima desse ritmo, ele acende, ganhando velocidade com mais ímpeto. Ainda assim, bem abaixo do Kardian e do Pulse.
O câmbio automático de seis marchas, bem mais antigo que as caixas CVT e DCT dos rivais, também mostra sinais de idade. Ela reduz de sexta para quinta constantemente na estrada e tem certa demora em trocar de marcha. Parece não aproveitar ao máximo o que o TSI tem a oferecer.

Em compensação, o Tera pode ser extremamente econômico. Visando ressaltar esse ponto, a marca promoveu um teste de economia com os jornalistas. Eu, junto de Renato Maia do Falando de Carro, atingimos 24,3 km/l de média com o modelo, mas dirigindo como duas lesmas, com vidros fechados e ar desligado.
Em situação normal de vida, o Tera Comfort é capaz de fazer 8,6 km/l na cidade com etanol e 10,3 km/l na estrada. Já com gasolina, o SUV subcompacto marca 12,2 km/l na cidade e 14,5 km/l na estrada – números bons para um modelo sem nenhum tipo de eletrificação, como é o caso de Pulse e Stonic.

É como um bom Volkswagen
Se na reta o Tera não empolga, nas curvas ele mostra que o parentesco fez muito bem a ele. A plataforma MQB-A0 é uma das mais modernas do Brasil e tão bem nascida como a CMP da Peugeot e a RGMP da Renault. Só que a VW nacional conseguiu dar um toque a mais ao modelo.
O Tera é um carro que passa a sensação de solidez o tempo todo. Você sente dirigir um carro bem construído e verdadeiramente sólido, o que deve conferir a ele uma boa nota no Latin NCAP. Em termos de suspensão, a Volkswagen domina o jogo ao oferecer uma certa rigidez para a tocada esportiva comum da marca, mas ao mesmo tempo um conforto inegável.

Ao passar em buracos e superfícies ruins, a suspensão do Volkswagen Tera brilha absorvendo impactos sem dificuldades e não castigando a carroceria. Já a direção tem pegada esportiva com calibragem firme e bem direta. Ou seja, é um carro feito para apreciar curvas mais rápidas.
Itens de série a contento
Por custar R$ 126.990, o Volkswagen Tera Comfort entrega uma boa lista de itens de série. Ele conta com seis airbags, frenagem autônoma de emergência, detector de fadiga, retrovisor externo elétrico, faróis de LED, vidros elétricos nas quatro portas, painel digital, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio e sensor de ré.

Há ainda rodas de liga-leve de 16 polegadas, chave presencial, piloto automático adaptativo, trocas de marcha no volante e lanternas traseiras de LED. A lista de opcionais traz somente o kit conforto de R$ 1.400 que é mais do que necessário, porque cobra pouco por ar-condicionado digital de uma zona e carregador de celular por indução.
Veredicto
O Volkswagen Tera tem tudo para ser um estouro de vendas no Brasil. Gostoso de dirigir, bonito e, surpreendentemente, bem acabado para um carro da marca alemã, ele é um acerto feito por quem estudou nem os rivais antes de lançar um produto no segmento. Hoje, definitivamente, a liderança do Fiat Pulse está ameaçada.

Com tudo isso em jogo, a versão Comfort do Tera é a mais equilibrada de todas ao oferecer um preço relativamente justo por um SUV subcompacto que tenta roubar os clientes de hatches compactos bem equipados, mas que quer algo a mais. Só queria um pouco mais de motor…
Você levaria um Volkswagen Tera Comfort? Conte nos comentários.