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Nissan Leaf paga o preço por ser pioneiro entre elétricos | Avaliação

No mundo dos carros elétricos, quem ri por último, ri melhor, como prova o Nissan Leaf, o grande precursor desse segmento

Nissan Leaf [Auto+ / João Brigato]
Nissan Leaf [Auto+ / João Brigato]

A grande maioria das pessoas acredita que a Tesla foi a responsável por tornar os carros elétricos populares e causar esse frenesi da eletrificação. Mas não, quem fez isso foi o Nissan Leaf. Lançado em 2010, muito antes de qualquer outra fabricante se arriscar nesse segmento, o hatch médio foi o primeiro elétrico de grande volume no mundo.

Ele foi o carro elétrico mais vendido de todos os tempos até 2020, quando o Tesla Model 3 assumiu esse posto. A segunda geração lançada em 2018 deveria ter se mantido forte, contudo, a concorrência chegou com muito peso e transformou o Leaf em apenas mais um no segmento. Sabe a máxima, “quem ri por último, ri melhor”? Isso aconteceu com ele.

Vendido no Brasil em versão única por R$ 297.140 (ou R$ 299.990 se optar pela cor branca com teto preto como o modelo avaliado), o Nissan Leaf é um dos elétricos mais vendidos do país. Mas só atingiu esse posto depois que começou a ser vendido para locadoras. Mas será que o pioneiro do segmento já perdeu seu charme?

Nissan Leaf [Auto+ / João Brigato]
Nissan Leaf [Auto+ / João Brigato]

Peso da idade

Em um mundo onde os carros elétricos tem potência e torque suficientes para deslocar seu baço, o Nissan Leaf com seus 149 cv e 32,6 kgfm de torque fica em um lugar comum. A potência é a mesma de um Volkswagen Polo GTS e o torque é parecido com o de um Jetta GLI. É um carro verdadeiramente rápido, que faz de 0 a 100 km/h em apenas 7,9 segundos.

Contudo, não é nada de extraordinário para um carro elétrico. Anda bem sim, tem ótimas retomadas e uma vivacidade que chama atenção para os que estão acostumados ao mundo dos modelos a combustão. Mas entre os elétricos, fica na porta de entrada.

Nissan Leaf [Auto+ / João Brigato]
Nissan Leaf [Auto+ / João Brigato]
Esse é um dos sinais da idade já relativamente avançada do projeto. Outra está na autonomia. A Nissan declara 273 km com carga completa, contudo, durante nossos testes, o Leaf não passou de 200 km sem precisar ser carregado novamente.  Como ele não tem o mesmo plugue europeu tipicamente usado no Brasil, precisa de um adaptador para ser carregado, tal qual os carros da JAC.

A vantagem é que ele traz pequenos LEDs na parte superior do painel os quais indicam o nível de bateria, facilitando o motorista na hora de checar se a carga está completa. Ele também pode ser carregado durante um período determinado pelo menu no painel de instrumentos parcialmente digital compartilhado com Versa e Kicks.

Nissan Leaf [Auto+ / João Brigato]
Nissan Leaf [Auto+ / João Brigato]
O Nissan Leaf curiosamente compartilha com o Toyota Corolla Cross o mesmo problema. Obviamente não estou falando do sistema de escape aparente, já que o Nissan é elétrico. Mas sim do arcaico freio de estacionamento no pé. Para um carro elétrico tão moderno e tão caro, merecia, no mínimo, um freio de estacionamento por botão.

Pioneiro também foi o Leaf ao oferecer o sistema e-Pedal. Com ele ativado, é possível dirigir o hatch com apenas o pedal do acelerador. Fica mais fácil modular a força e fazer com que o freio regenerativo funcione com mais eficiência para aumentar a autonomia. Com o câmbio em B também há maior regeneração, o que torna a operação fácil.

Nissan Leaf [Auto+ / João Brigato]
Nissan Leaf [Auto+ / João Brigato]

Lembranças do Tiida

Único hatch médio elétrico vendido no Brasil, o Nissan Leaf tem algumas influências do último hatch médio oferecido pela marca japonesa por aqui: o Tiida. Ambos tem linha de cintura baixa, área envidraçada generosa e jeitinho de minivan com teto alto e posição de dirigir levemente elevada.

Isso faz com que a cabine fique bastante arejada e tenha visibilidade ótima. O porém fica para a dinâmica menos empolgante. Ele faz curvas de maneira neutra, sem aquela tocada mais apimentada que se espera de um hatch médio. Além disso, o volante que não conta com ajuste de profundidade é um pouco sem vida, apesar de ter o peso ideal.

Suspensão mais dura foi usada por conta do peso extra das baterias. Mas o Leaf não é desconfortável. Muito pelo contrário. Ele roda com suavidade e tranquilidade, tanto na cidade quanto na estrada. Em altas velocidades, se mantém estável e sólido, mesmo ao atingir os 150 km/h de máxima.

Só reclama um pouco das buraqueiras como todo carro que não foi desenvolvido especificamente para o nosso asfalto lunar. Mas, para quem busca um carro de comportamento neutro e voltado para o conforto, o Leaf agrada. Nesse quesito, ainda traz itens bem interessantes como piloto automático adaptativo e alerta de mudança de faixa com vibração no volante.

[Auto+ / João Brigato]
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A lista de itens de série do hatch elétrico ainda engloba itens como interior revestido em couro, central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay, ar-condicionado digital, aquecimento nos bancos dianteiros e traseiros, alerta de ponto cego, sistema de câmeras 360°, mas abre mão do básico: sensor de estacionamento dianteiro e traseiro.

Kicks e Sentra

Apesar de dividir o volante e o painel de instrumentos parcialmente digital com Kicks e Versa, o acabamento do Leaf é bastante superior. Há muita superfície macia ao toque e um revestimento elegante nos bancos que mistura couro com suede e costuras azuis. Só o couro do volante que poderia ter couro de melhor qualidade.

O espaço interno é louvável para quem se senta na frente. Porém atrás, o piso é muito alto e há pouco espaço para as pernas. Já o porta-malas de 435 litros supera muitos SUVs compactos. Vale elogio para o painel de instrumentos com diversas funções, tela de qualidade e fácil manuseio. A central multimídia funciona bem, tem Android Auto e Apple CarPlay, mas seus menus estão datados.

Ficou faltando apenas um carregador de celular por indução, até porque o Leaf tem um espaço no console perfeito para isso e que segura o smartphone na posição ideal. Além disso, iluminação nos comandos das portas seria algo bastante desejado no hatch médio elétrico.

[Auto+ / João Brigato]
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Veredicto

O que o Nissan Leaf fez no mundo dos automóveis é extremamente louvável. Ele tornou o carro elétrico viável e presente no dia-a-dia das pessoas. Contudo, como chegou primeiro, não conseguiu acompanhar a fortíssima evolução da categoria nos últimos anos. Autonomia baixa, falta de alguns itens de tecnologia e performance apenas ok o colocam em um lugar perigoso.

Especialmente quando visto que um Renault Zoe ou um JAC E-JS4 têm quase 100 km de autonomia extra por praticamente R$ 100 mil a menos e o mesmo nível de equipamentos. Contudo, se você quer um hatch médio elétrico, ele é a única opção à venda no Brasil. Se quer apenas um carro elétrico, existem opções mais interessantes por aí.

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