
Faz quanto tempo que você não olha para um carro da Chevrolet no Brasil e não coloca o adjetivo legal nele? Nos últimos tempos, a maioria dos carros da marca apelava para o lado racional, sendo modelos de ótimo custo-benefício e corretos, mas sem o fato uau. As coisas começaram a mudar com a Silverado, mas o Chevrolet Blazer EV que vem para mudar tudo.
Ele foi o primeiro carro dessa nova fase de elétricos da GM e representa muito mais do futuro da Chevrolet do que o passado, apesar de trazer um nome cultuado pelos brasileiros de antigamente. Mas temido pelos meliantes, já que o Blazer é uma das viaturas policiais mais icônicas de todos os tempos.
Vitrine da Apple
Ao olhar os R$ 479.000 que a Chevrolet cobra pelo Blazer EV, assusta. Mas calma, que ele tem atributos para tentar justificar a cifra premium. Começa pelo interior. O nível de tecnologia e refinamento que a GM conseguiu nesse carro é impressionante. E, como ele representa o futuro da marca, Onix, Tracker e Montana vão se beneficiar muito.

O que mais chama a atenção é o conjunto de telas, em que a central multimídia fica um degrau atrás do painel de instrumentos digital, mas as duas se integram elegantemente em uma mesma região. A qualidade de ambas é surreal para uma marca não de luxo, me fazendo sentir em uma loja da Apple.
A qualidade dos gráficos e a simplicidade de uso também são chamativas. O único ponto negativo é que o brilho é sempre forte demais e, ao invés de diminuir a iluminação, ao colocar o brilho no mínimo, o Blazer EV insere um filtro cinza. A central não tem Android Auto e Apple CarPlay. Poderia reclamar disso? Sim, mas senti zero falta.

Isso porque ele conta com sistema Google imbutido, no qual já traz Google Maps, Spotify e outros aplicativos. Loguei minhas contas e parecia que estava com o celular ali. O mais interessante é que a integração do Maps traz informações de navegação no painel de instrumentos e no head-up display, além de estimar a carga da bateria no destino.
Qualidade de materiais
Outro ponto no qual o Blazer EV mostra um salto gigantesco em relação aos modelos nacionais da Chevrolet é o acabamento. Toda porção superior do painel é macia ao toque, enquanto materiais contrastantes como suede e couro destacam áreas específicas das portas e também do painel.

Ele conta ainda com saídas de ar-condicionado com detalhes em vermelho para destacar, junto das costuras vermelhas e azuis – essa parte um pouco exageradas. Destaque ainda para o couro do volante e do console central que não fariam feio em um Cadillac. Os bancos misturam suede, couro e tecido, trazendo esportividade e refino.
Vale o destaque para a presença de comandos físicos para o ar-condicionado, o que ajuda muito no uso diário. Além disso, ter deslocado a manopla de câmbio para a coluna de direção permitiu que o Chevrolet Blazer EV ganhasse um gigantesco console central com duas sessões de porta-objetos fechados, além de porta-copos e porta celular.

Motorista e passageiro contam com regulagem elétrica para os bancos, além de aquecimento e resfriamento. Atrás, há só aquecimento, exceto para os assentos laterais. Todos têm acesso a saídas USB para carregamento de celular, enquanto a indução fica bem no console central.
Espaço farto, mesmo com aperto
O Chevrolet Blazer EV é um SUV baixo, largo, relativamente comprido e com entre-eixos longo. São 4,88 m de comprimento, 1,98 m de largura, 1,65 m de altura e 3,09 m de entre-eixos. Como resultado, o espaço interno é muito farto, menos para a cabeça no banco traseiro.

O piso plano ajuda a abrigar três passageiros sem nenhum problema. Já o porta-malas leva 436 litros. Ele é raso, mas longo e largo. Ainda conta com um compartimento extra abaixo do tampão. A abertura é elétrica e pode ser feita de forma automática se você estiver com a chave no bolso e ficar parado alguns segundos na traseira do Blazer EV.



É mais do que o esperado
Algo que me surpreendeu muito no Chevrolet Blazer EV é a qualidade de rodagem. Ele é um carro muito sólido, bem construído e que transmite uma sensação refinada. A plataforma, compartilhada com modelos da Cadillac, é bem rígida, fazendo com que, mesmo em torções, ela não ranja (algo comum em carros elétricos por conta do peso excessivo).

Essa solidez também passa para a suspensão e direção, que tem pegada mais esportiva que o típico da Chevrolet. O Blazer EV é um carro mais durinho e firme, fazendo curvas de maneira muito ágil sem desgarrar do solo de jeito nenhum. Além disso, a direção é bem rápida e comunicativa – o volante de aro grosso contribuiu para essa condução mais prazerosa.
Essa dinâmica apurada não seria nada se a performance não fosse a contento. O Blazer EV conta com motor elétrico traseiro de 347 cv e 44,9 kgfm de torque. Não é um canhão, mas é mais do que suficiente para te fazer grudar no banco e fazer qualquer ultrapassagem com a mesma facilidade de que uma concessionária da Chevrolet vende um Onix.

Ele é muito ágil nas saídas, retomadas e nas curvas, não parecendo ser um SUV tão grande quanto de fato é. Se não prestar atenção em suas dimensões nada discretas, terá a sensação de um comportamento parecido com o de um hatch. A autonomia de 481 km é excelente, mas na vida real passa fácil dos 500 km.
Isso porque o sistema regenerativo do Blazer EV é muito eficiente. E ele vai além com o freio regenerativo sendo acionado por um paddle-shift atrás do volante. Em diversas situações, a depender do trajeto, cheguei ao destino sem gastar bateria ou com 3% a mais de carga do que o Google Maps estipulava que eu teria.

Tecnologias de condução
Por se tratar de um carro de imagem para a Chevrolet, é claro que o Blazer EV vem lotado de tecnologia. Algumas valem destaque, como o piloto automático adaptativo que funciona bem, mas ainda não é o Super Cruiser que a GM dispõe lá fora. Os alertas de condução são exagerados e, ao menor sinal de que alguém vai atravessar a rua, o Blazer acha que você vai atropelá-lo.
É possível deixar os alertas sonoros e visuais ou através de vibrações no banco – confesso que a segunda opção foi prontamente desativada porque mais me assustava do que alertava. Falta sensor de estacionamento dianteiro no SUV, mas ele tem ótimas câmeras 360°. Além disso, o freio eletrônico não engata automaticamente ao colocar o câmbio em P.

De série, o Chevrolet Blazer EV conta com frenagem autônoma de emergência com detecção de pedestres, chave presencial, ar-condicionado digital de duas zonas, retrovisores elétricos com rebatimento (e um irritante zoom no espelho esquerdo), conexão 4G embarcada, alerta de ponto cego, alerta de tráfego cruzado, faróis full-LED com acendimento automático.
Há ainda indicador de fadiga, sistema de segurança que impede que você dirija o Blazer EV se não estiver de cinto de segurança (inclui o passageiro dianteiro), teto solar panorâmico, sistema de som Bose de excelente qualidade, wi-fi, retrovisor fotocrômico com câmera auxiliar, rodas de liga-leve de 21 polegadas e volante com ajuste de altura e profundidade.

Veredicto
Encare o Chevrolet Blazer EV como uma grande vitrine. Ele mostra quão bom será o futuro da marca da gravata dourada, tanto no quesito visual, quanto em tecnologias e até no refinamento de construção. Ele é um vislumbre palpável do que virá daqui para a frente. Mas, como compra, fica complicado.
Afinal, apesar de ser um excelente carro, segue o mesmo problema que Bolt e Bolt EUV tinham: custa mais caro do que deveria. Nessa faixa de quase meio milhão de reais, fica complicado vender um carro elétrico sem o símbolo de uma marca de luxo. Veja a Ford, que não consegue emplacar o Mach-E no Brasil pelo mesmo motivo.

Se o Blazer EV fosse um Cadillac ou até um Buick, a construção de imagem de marca de luxo faria jus ao preço de R$ 479 mil cobrados. Agora, por ser um Chevrolet, o brasileiro vai reclamar que está pagando o preço de marca de luxo em um carro de uma fabricante generalista. Se custasse R$ 100 mil a menos, seria imbatível. Porque ele é um ótimo carro.
Você teria um Chevrolet Blazer EV? Conte nos comentários.