Se você é um brasileiro de verdade, tem a Volkswagen Kombi no coração. A Velha Senhora levou nosso país nas costas, foi responsável por transportar pessoas e cargas por todo território nacional e também por dar um tempero extra ao óleo que frita os pasteis da feira. Todo mundo tem uma história com a Kombi e todo mundo a ama.
Só que essa enorme simpatia e carinho que temos por esse pão de forma sobre rodas jamais significou que ela era um carro bom para dirigir. A Kombi é fraca, tem posição de dirigir bizarra, câmbio mais impreciso que um estudante de humanas fazendo conta e bom…segurança nunca foi uma preocupação para ela.
Só que aí a Volkswagen veio com a ideia de resgatar toda essa aura e espírito da Kombosa em uma van elétrica de nome ID.Buzz. Com isso, fizeram a melhor Kombi da história. Pena que, como acontece com o ID.4, mesmo ela sendo incrível, a marca insiste em somente alugá-la. E ainda por valores altíssimos.
É tudo herança
Assim como aconteceu com a Kombi original, que derivava do Fusca, a ID.Buzz nasce a partir da base MEB do ID.3, espécie de sucessor espiritual elétrico do besouro. Ela usa os mesmos motores e diversos componentes de modelos da linha elétrica da Volkswagen e por isso cria um lugar comum e atributos compartilhados.
Tal qual sua avó, a ID.Buzz tem motor traseiro, só que com potências que a Velha Senhora não aguentaria. São 204 cv e 31,6 kgfm de torque, que empurram essa minivan de 2.200 kg aos 100 km/h em 10,5 segundos. Ela ficaria para trás de um up! TSI na aceleração, mas ainda assim é divertida.
Isso porque o torque do motor elétrico é instantâneo e forte. Além disso, é um Volkswagen, se comportando como tal. As baterias no piso da plataforma fazem com que o centro de gravidade seja baixo, mesmo ela tendo 1,92 m de altura. Como resultado, faz curvas quase como um SUV.
Ela gruda no chão e não balança, mesmo em alta velocidade. Só que isso fez com que a marca precisasse instalar uma suspensão mais firminha e dura, que não é muito apreciadora de buracos e superfícies ruins. Só que no asfalto bem feito, ela roda lisa, serena e confortável.
A direção é mais pesada do que se espera de um modelo familiar, mas correta para um VW. A vantagem de ter motor na traseira é que a manobrabilidade da Kombi elétrica é ótima, visto que as rodas viram bastante. Mesmo com 4,71 m de comprimento e 1,98 m de largura, é tão fácil de estacioná-la quanto achar uma vaga para um Tiguan.
É para ir longe
Com baterias de 77 kWh, a Volkswagen ID.Buzz não tomará mais de uma hora para carregar em um eletroposto de 150 Kw. Além disso, ela tem autonomia declarada de 337 km, segundo o INMETRO. Mas, como as medições nacionais são sempre pessimistas, no mundo real ela chega a 400 km. Nos nossos testes, ela fez essa quilometragem com uma carga.
É interessante notar que, tal qual o ID.4, a ID.Buzz tem sistema regenerativo adaptativo – algo simplesmente genial. Através dos sensores na dianteira e radares, ela percebe haver um carro na sua frente e, ao tirar o pé do acelerador, ativa a regeneração. Já quando não há carros, ela anda solta para aproveitar da inércia e não gastar baterias.
É um sistema tão inteligente e bem calibrado, que se torna natural a condução, fazendo não parecer que o motorista está sem o controle total do carro. O mesmo vale para o piloto automático adaptativo e para o sistema de manutenção em faixa. No quesito tecnologia, a Kombi elétrica é referência.
Salão de festas
Ao entrar na Kombi elétrica, ela te recepciona afastando e baixando levemente o banco (tanto do motorista, quanto do passageiro). Quem senta à frente conta com ajustes elétricos para os assentos com três posições de memória e massagem. Já a turma de trás tem portas com abertura elétrica e bancos com ajuste de distância e inclinação do encosto.
O revestimento dos bancos é feito de material vegano que imita couro e tem cheiro estranho, mas é de qualidade. Só que, diferentemente do Tiguan ou do ID.4 que têm acabamentos exemplares, a Kombi é mais parecida com a linha nacional da Volkswagen. Todo o interior é feito em plástico duro, nada de material macio, salvo um pedaço da porta.
Ela tem revestimento imitando madeira e outro imitando aço, contrastando com plásticos bege que deixam a cabine clara. Dependendo da cor da carroceria (que são só duas), o painel e as portas assumem tonalidade diferente. O visual é bem elegante e os encaixes são bem feitos.
Destaque para a quantidade enorme de porta-objetos. As portas tem dois andares de locais para colocar coisas, enquanto o console central é móvel e tem uma gaveta, raspador de gelo e até abridor de garrafa. Atrás, mesinhas do tipo avião permitem trabalhar com a Kombi rodando, enquanto cada porta conta com entrada USB-C para carregar o celular.
Então…
Só que algumas coisas ficaram difíceis de entender. Primeiro a porta traseira cujo vidro é fixo. Minivans de antigamente eram assim, mas modelos como a Kia Carnival já mostraram que elas podem ter portas corrediças e vidros que descem. A situação piora porque não há saída de ar para o banco traseiro.
Outro ponto é que o porta-malas enorme de 1.121 litros tem toda estrutura para sete lugares, mas não oferece essa opção nem na Europa. Você vê lá atrás o descanso de braço, porta-copos e até uma parte macia para apoiar o cotovelo, mas não há bancos ou cinto. A Kombi tem somente um patamar para dividir o espaço em duas alturas e separar cargas.
Outro vacilo está no insistente uso de comandos touch no volante e para controlar o ar-condicionado. Na direção, é comum apertar alguma função sem querer ao fazer curva. Já o ar-condicionado não tem iluminação à noite e seu uso é sempre atrapalhado, além de distrativo para uso em alta velocidade.
É como o ID.4
Na parte de conectividade, a Kombi elétrica conta com central multimídia com Android Auto e Apple CarPlay sem fio. A tela tem ótima definição, é rápida e muito fácil de mexer. Não é a VW Play brasileira, mas é tão boa quanto. Inclusive, a facilidade de uso é um dos maiores destaques, por ter menus claros com ícones grandes.
Já o painel de instrumentos é bem pequeno, com poucas informações e que mais faz parecer modelos chineses de entrada como BYD Dolphin e Dolphin Mini. Um carro maior e mais sofisticado como a ID.Buzz merecia algo mais bem cuidado. Pelo menos ele é fixo na coluna de direção e se movimenta junto do volante. Manopla de câmbio fica no lugar da haste do limpador.
Os custos
Assim com acontece com o ID.4, é impossível comprar uma Kombi elétrica no Brasil. A Volkswagen disponibiliza a Kombosa somente por aluguel e com preços bem altos. O plano mais barato é o de contrato de 48 meses com possibilidade de rodar somente até 1.500 km. Por ele, você paga R$ 12.990 por mês.
Já o jeito mais caro de ter uma Kombi elétrica é rodar até 3.100 km por mês no contrato de 24 meses. Com isso, é preciso desembolsar R$ 17.890 a cada 30 dias. A Volkswagen oferece contratos de 24, 36 ou 38 meses com franquia de quilometragem máxima de 1.500 km, 2.000 km, 2.500 km ou 3.100 km por mês.
Vale ressaltar que ainda há pagamento de R$ 2,50 por quilômetro excedente do plano contratado. Além disso, em caso de sinistro, roubo, furto ou perda total, a coparticipação do motorista que alugar a Kombi elétrica é de R$ 20 mil. A VW oferece também wallbox por R$ 6.490 para compra ou locação por 24 meses por R$ 599 ao mês.
Veredicto
Do ponto de vista racional, os valores cobrados pela Volkswagen para alugar a Kombi elétrica beiram o surreal. É dispendioso demais ter de pagar mais de R$ 15 mil para ter na garagem um carro que não é seu. Além disso, é um enorme potencial desperdiçado. Se a marca cobrasse R$ 700 mil por uma ID.Buzz, o primeiro lote venderia em um piscar de olhos.
Mas, é a Kombi. É um carro que toda pessoa na rua reconhece, admira e ama. Há tempos não andava com um modelo que gerasse tantos sorrisos, fotos e perguntas. Nem mesmo um Mercedes Classe G verde limão chamou atenção tanto quanto ela. É o charme da amada Velha Senhora. Só que agora, um tesão de andar. Pena que ninguém pode comprar.
Se a Volkswagen vendesse a Kombi elétrica no Brasil, você compraria? Conte nos comentários.
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