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Era o turbo que lhe faltava, Honda HR-V 2023 | Impressões

Mudanças de hábitos do Honda HR-V nas versões aspiradas haviam colocado o SUV longe de suas raízes. Mas nada que um turbo não resolva

Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]

Quando avaliei a nova geração do Honda HR-V, inclusive com direito a um comparativo com o modelo antigo, ficou claro que o modelo havia trocado de personalidade. Deixou de ser um Honda SUV para ser um SUV da Honda. Ou seja, a alma de SUV vinha primeiro em detrimento das raízes da marca. Mas nada que um turbo e um acerto diferente não resolvessem.

Dessa vez o contato foi mais rápido e em uma paisagem mais interessante que Campinas, no interior de São Paulo, onde faço os testes todos os carros avaliados. A Honda levou um grupo de jornalistas para andar no HR-V turbo em Florianópolis para mostrar que o carro tem uma alma bem diferente de seu irmão aspirado. E de fato tem. Aliás, esse sim é o HR-V como sempre foi.

Força de um turbo

O motor 1.5 quarto cilindros está presente em todas as versões do Honda HR-V, mas com turbo somente na Advance e na Touring. Aqui são 177 cv e 24,5 kgfm de torque, enquanto sem a ajuda da turbocompressor, são 126 cv e 15,8 kgfm. A diferença ao volante é brutal, especialmente na estrada, onde o Honda aspirado sofre bastante.

Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
O tempo de 0 a 100 km/h baixou de 11,8 segundos para 8,9 segundos, mas parece menos ainda. O HR-V turbo acelera forte, com retomadas espertas e uma vivacidade que lembra bastante o antigo modelo 1.8 aspirado. Ele é ágil ao mesmo tempo em que consegue ser comportado quando precisa.

[Auto+ / João Brigato]
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Boa parte disso se deve à transmissão automática do tipo CVT que privilegia rotações baixas para aproveitar o torque cedo que o 1.5 turbo tem. Nas saídas de sinal, ela não patina como a do modelo aspirado, já que tem torque para mover o HR-V. Assim, trabalha tentando baixar o consumo o máximo que pode.

Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
Só há uma grande questão com a transmissão: as simulações de marcha só funcionam com o pé afundado com tudo no acelerador para ativar o kickdown. Muitos outros CVT, já simulam marchas acima de meio pedal, evitando o efeito enceradeira. No HR-V não, só com o pé em baixo. Fora isso, ele fica gritando (muito) na mesma proporção em que anda.

Acerto de antes

Um dos pontos nos quais o HR-V involuiu em relação ao modelo anterior estava no conjunto de direção e suspensão. Nos modelos aspirados ele ficou mais mole, confortável e menos direto. Para o típico comprador de SUV, esse comportamento é positivo, mas para o antigo dono do Honda, não. Afinal, ele espera pelo tempero esportivo típico da marca.

Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
Para felicidade geral da nação Hondeira, o HR-V turbo se mantém às raízes. Ele tem acerto de suspensão mais durinho e firme, além de direção mais pesada e direta. É como o modelo anterior, em que privilegiava o comportamento dinâmico quase de hatch em detrimento da parrudez de um SUV.

A vantagem é que a nova geração é bem mais sólida estruturalmente, ou seja, ele ficou ainda melhor na tocada forte. Para a versão Touring mais cara, a Honda adicionou novos materiais isolantes que deram resultado nítido. Ele ficou mais silencioso e com melhor isolamento dos ruídos externos. Ainda tem alguns pontos de barulho de vento, mas nada grave.

Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]

Peso no bolso

Se dinamicamente o Honda HR-V com motor turbo melhorou bastante em relação ao seu irmão aspirado, há o que justifique o preço R$ 30 mil mais alto? A marca japonesa tenta justificar dizendo que o modelo concorre com as versões mais baratas dos SUVs médios, mas o HR-V não tem acabamento para isso.

Ainda que seja mais sofisticado que o Volkswagen Taos, fica abaixo de um Toyota Corolla Cross e há um abismo entre ele e o Jeep Compass. Não que seja um acabamento ruim, longe disso, mas não é nem o melhor entre os SUVs compactos para poder peitar os modelos de categoria superior. Ainda por cima, piorou em relação ao modelo antigo.

Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
Não há superfícies macias ao toque no painel como antes, enquanto uma pequena faixa no console tenta lembrar o que o modelo antigo fazia. Os plásticos, contudo, são de qualidade e bem montados. O que chamou atenção na versão Touring é o couro do volante com qualidade infinitamente superior ao da versão EXL.

No Touring de R$ 184.500, o couro é liso, levemente aveludado e com costuras bem feitas. Já no EXL de R$ 149.900, a Honda usou couro áspero de toque incômodo, além de ser arrematado com costuras grosseiras. Junte isso ao fato de que o painel, portas e bancos contam com couro bege, o aspecto interno se torna mais sofisticado.

Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
Honda HR-V Touring [Auto+ / João Brigato]
Para as versões turbinadas do HR-V, a Honda ainda trouxe painel de instrumentos parcialmente digital, ar-condicionado de duas zonas e carregador de celular por indução. Foram dois itens que ajudaram bastante na sofisticação interna. Some isso ao banco do motorista com regulagens elétricas na versão Touring e entenderá o que a marca quer.

O maior destaque, no entanto, vai para o porta-malas com abertura elétrica. O Honda HR-V Touring é o único SUV compacto de marca generalista a adotar esse sistema, presente só em modelos maiores ou de marcas premium. Mas o mais interessante é o sistema que fecha automaticamente ao se afastar da tampa traseira com a chave no bolso. Genial.

Veredicto

O Honda HR-V Touring é o SUV compacto mais caro à venda no Brasil feito por uma marca que não é do segmento de luxo. Isso é um fato inegável. A Honda tenta justificar esse preço alto com uma lista de itens de série verdadeiramente generosa e bem acima da média na categoria, mesmo considerando versões de topo.

Brigar no segmento de SUVs médios com um modelo compacto é muito perigoso, pois o brasileiro se importa demais com porte e status. Ter um carro que começa em R$ 180 mil e está em uma categoria superior, mesmo menos equipado, é muito mais negócio para muitos do que um modelo menor que, todo recheado, chega ao valor da categoria de cima.

[Auto+ / João Brigato]
[Auto+ / João Brigato]
Contudo, se você era dono do Honda HR-V antigo e ficou um tanto quanto decepcionado ou sentiu que o modelo novo involuiu em relação ao antigo, saiba que a versão turbo resolve tudo isso. Mantém toda a dinâmica aprimorada do SUV compacto, com a adição de mais potência e, finalmente, opção flex.

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