Ao longo da vida, temos que nos acostumar com as perdas, sejam elas aguardadas ou repentinas. É um sentimento amargo, que provavelmente você já experimentou, quando á época um grande amigo, querido por todos, partiu de repente, sem dar a chance de uma última dança.
Um sentimento que demorou a ser digerido e, com o tempo, nos acostumamos, mas sempre com a sensação de que ele entraria sorridente pela porta. São as temidas barreiras da vida a serem vencidas. Embora não tenha conseguido dar um último abraço, com a Ram Classic R/T pude experimentar uma última dança.
Não foi uma avaliação como qualquer outra, pois além de ser uma edição especial R/T (sigla para Road and Track), conhecida nos modelos da Dodge, como no Charger, era a última vez que estaríamos ao volante desta caminhonete, com uma dirigibilidade tipicamente norte-americana.
A vida de jornalista automotivo nos proporciona guiar carros que a nossa conta bancária não alcançará, e sabemos que estamos ficando velhos quando lançamos um carro e, anos mais tarde, ele sai de linha. Novamente, envelhecer e aceitar os desafios faz parte da evolução da vida.
Adeus, Ram Classic!
A Ram Classic se despediu devido à idade, colocando um ponto final na vida da caminhonete e do borbulhante propulsor V8 5.7 Hemi naturalmente aspirado. Foi uma oportunidade de revisitar a Ram Classic, que guiei no início deste ano, à época em que trabalhava em outra mídia antes de ingressar na equipe do Auto+.
Essa edição especial comemorativa, limitada a 100 unidades (50 na tonalidade vermelho Flame e 50 na cor preto Diamond), externamente mostra algumas exclusividades. Entre elas, a grade do radiador em forma de cruz e colmeia, um estilo que aparecia na Dodge Dakota, além dos faróis com máscara negra.
Além disso, os acabamentos escurecidos são acompanhados dos logotipos alusivos à configuração R/T encontrados na dianteira, nas laterais, na tampa do compartimento de carga e na faixa longitudinal sobre o capô.
Uma decoração que ainda mostra as rodas de 20 polegadas calçadas por pneus de medidas 275/60. O “Tio”, como alguns o chamavam, iria gostar. Já imagino ele olhando a caminhonete, tecendo comentários pertinentes e precisos seguidos de outros ácidos capazes de fazer todos caírem na gargalhada!
Embora seja um projeto de quarta geração, ficando atrás dos atuais modelo 1500, as dimensões superlativas da carroceria da Ram Classic R/T ficam à frente das picapes médias à venda em nosso mercado, como a Ford Ranger, a Toyota Hilux e a Nissan Frontier, por exemplo.
Também pudera, são 5,81 m de comprimento e 3,57 m de entre-eixos, o que garante um excelente espaço para as pernas e os joelhos de quem viaja atrás, mesmo que sejam pessoas de estatura elevada. Para comparar, a Toyota Hilux SRX Plus oferece 5,32 m de comprimento e 3,08 m de entre-eixos, enquanto a Ford Ranger Limited, 5,35 m e 3,27 m, respectivamente.
Ram Classic R/T é uma sala de estar
A qualidade dos materiais e dos arremates dispensa comentários. Os bancos frontais são ajustáveis eletricamente, permitindo ficar confortável na Ram Classic R/T com pouquíssimos ajustes.
A posição de dirigir elevada coopera na visibilidade e à frente dos olhos dirigimos vendo o capô. O volante de aro grosso garante uma ótima empunhadura, mesmo que a coluna seja regulável apenas em inclinação, não em altura ou profundidade. Além disso, as teclas para acessar as funções do computador de bordo ou do sistema de áudio são as mesmas dos Fiat Mobi e Strada Ranch.
Por outro lado, a partida é por botão e o multimídia de 8,4 polegadas possui uma interface amigável, mas com gráficos antigos e conexão para Apple CarPlay/Android Auto via cabo. Também aparecem acabamentos em madeira nas laterais de portas, saídas de ar dedicadas aos ocupantes da segunda fileira de bancos e ar-condicionado de duas zonas.
O pacote de série ainda contempla o seletor de marcha giratório, ventilação/aquecimento dos bancos frontais, regulagem elétrica dos pedais do acelerador/freio, seis airbags, tração 4×4 e volante aquecível.
Tudo nesta picape parece sofrer de megalomania e, uma vez dentro, é um daqueles veículos dos quais não queremos nos desgrudar tão cedo. À época em que trabalhamos juntos, nos anos 2000, o “Tio” teve algumas caminhonetes. Apesar disso, poucas delas chegavam aos 1.424 litros da caçamba. Ou seja, mais que os 1.220 litros da Fiat Titano, para deixar a briga dentro da Stellantis, ou os 1.000 oferecidos pela Hilux SRX Plus e 1.250 pela Ranger Limited.
Contudo, a capacidade de carga da Ram Classic é de apenas 531 kg, sendo inferior à da Fiat Strada Cabine Simples, que aguenta até 720 kg. Parece mentira, mas não é! Uma caminhonete deste porte apta a levar pouco mais de meia tonelada. Em todo o caso, a capacidade de reboque declarada pela marca é de 3.534 kg.
V8 naturalmente aspirado
Costumo dizer que a eletrificação é um caminho sem volta, mas nada supera o ronco e o prazer de guiar um modelo equipado com um propulsor V8 naturalmente aspirado. À Velha Guarda, o V8 5.7 Hemi (em referência às câmaras de combustão hemisféricas) está acoplado à caixa automática de oito velocidades para entregar 400 cv e 56,7 kgfm. Não houve aprimoramentos técnicos.
Embora sem pegada esportiva, como a Ford Ranger Raptor, são números de desempenho que movem os 2.553 kg da caminhonete sem esforços, com o ronco borbulhante do V8 saindo pela dupla saída de escape embalando o passeio.
O barato da Ram Classic R/T não está em andar com o pé cravado no pedal do acelerador, mas sim curtir o deslocamento, evidenciado pelas suspensões macias, bem ao estilo da calibração dos carros norte-americanos. Portanto, ao volante da caminhonete da Ram, você não se incomoda com buracos, valetas, lombadas e outros obstáculos do asfalto.
Aliás, para quem for encarar trajetos off-road, o ângulo de entrada é de 18,3º, o de saída de 24,8º e a altura em relação ao solo entre os eixos é de 23,6 cm. A tração é 4×2, 4×4 e 4×4 com reduzida, para salvar os ocupantes de enrascada no fora-de-estrada.
400 cv bem distribuídos
Durante as acelerações, o ronco dos oito cilindros em V, ligado a uma caixa automática de oito marchas muito bem escalonada, ecoa pela cabine, incitando uma condução mais enérgica. Aliás, a caminhonete da Ram precisa de 7,7 segundos para ir da imobilidade aos 100 km/h, de acordo com os dados declarados pelo fabricante.
Ao pressionar o pedal do acelerador, ela salta e avança com vigor ganhando velocidade sem tomar conhecimento do peso, seja nas arrancadas quanto nas retomadas de velocidade, enquanto a direção é bem conectada ao motorista, melhorando a experiência de condução com a leveza de um carro de passeio ao esterço.
Com quase seis metros de comprimento, rapidamente nos adaptamos à caminhonete da Ram pela facilidade de condução. Não se assuste com o porte, pois em poucos minutos já estamos acostumados às dimensões tornando a vida mais fácil também ao estacionar.
O raio de giro de 12,1 m coopera nessas tarefas, mas é preciso atenção, afinal, qualquer batidinha pode acabar com a frente ou a dianteira de outro carro. Contudo, como já falamos anteriormente o espaço para as pernas e os joelhos de quem viaja atrás impressiona pela amplitude. E a janela traseira possui abertura elétrica.
Mas, e o consumo?
Com uma condução suave, o sistema desativa metade dos cilindros e passa a trabalhar com apenas quatro em prol do consumo. Oficialmente, a Ram declara 5,2 km/l na cidade e 6,4 km/l na estrada, mas conquistamos 8,8 km/l em certos momentos na estrada, trafegando a 100 km/h constantes na Rodovia dos Bandeirantes.
Já na cidade, livre dos congestionamentos, a média ficou entre 5 km/l e 6 km/l, dirigindo de maneira comedida com as marchas sendo passadas brevemente. Ao encarar, um congestionamento pesado o consumo caiu para 4 km/l, sempre mantendo o ar-condicionado ligado.
Fazendo uma conta de padaria, com o preço médio da gasolina no Brasil, cotada a R$ 6,10, de acordo com a Petrobrás, para encher o tanque de 98 litros da caminhonete da Ram você gastará aproximadamente R$ 597,80. Ao optar pela aditivada (R$ 6,29/litro) essa conta sobe para R$ 616,24. Barato, não é! Porém, como já falei, nada substitui o prazer de guiar um V8!
Veredicto
Para quem aprecia uma picape de porte avantajado, conforto e luxo embarcado, a Ram Classic R/T exibe um visual exclusivo, sendo uma edição limitada, além de oferecer no desempenho um capítulo à parte.
Toda despedida é difícil e vê-la indo embora me causou um misto de sensações, afinal, foi a última vez que estaria ao volante dessa caminhonete. Pelo menos consegui ter uma última dança. Ao contrário do meu grande amigo, a quem não consegui dizer um tchau, mas que guardarei na mente a última vez que o vi dirigindo um carro da Ford com um V8 sob o capô. Memórias que fazem escorrer uma lágrima pela barba.
O que você achou da Ram Classic R/T? Escreva a sua opinião nos comentários!
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